Emissário de Trump e Maduro redefinem as relações com a Venezuela

Em uma viagem relâmpago, um emissário do presidente Donald Trump desfez anos de diplomacia da administração Biden na Venezuela e iniciou um novo diálogo com o presidente Nicolás Maduro, uma mudança que pode ter repercussões desde a migração até o mercado de petróleo.

Richard Grenell, emissário de Trump para situações especiais, voou para Caracas na sexta-feira (31), apertou a mão de Maduro e retornou com seis prisioneiros americanos e a promessa de que a Venezuela aceitaria seus migrantes deportados pela primeira vez em quase um ano, incluindo membros da temida gangue criminosa Tren de Aragua.

“As relações entre EUA e Venezuela foram de zero a cem quilômetros por hora da noite para o dia”, disse Geoff Ramsey, pesquisador sênior do Conselho Atlântico, em Washington.

Maduro, cuja legitimidade internacional foi profundamente abalada depois que os EUA, a União Europeia e a maioria dos países da região se recusaram a reconhecer sua reeleição, fez questão de divulgar amplamente o encontro com o emissário de Trump. A mídia estatal publicou fotos e vídeos da reunião no Palácio de Miraflores, onde um Maduro sorridente mostrou a Grenell a espada do libertador venezuelano Simón Bolívar, colocada entre as bandeiras da Venezuela e dos Estados Unidos.

O contraste com uma reunião de alto nível em 2022, em Caracas, com Juan González, diretor sênior para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional de Biden, foi evidente. Naquela ocasião, o governo venezuelano não divulgou fotos. Desta vez, a administração de Maduro até redistribuiu uma imagem originalmente publicada por um veículo da oposição local, mostrando o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, e o chanceler Yván Gil recebendo Grenell e a delegação dos EUA ao desembarcarem na capital.

A visita de Grenell representou uma vitória clara para Trump, que afirmou que Maduro até concordou em fornecer o transporte de volta para os deportados. “É muito bom ter os reféns da Venezuela de volta para casa”, disse Trump em uma publicação no Truth Social na manhã de sábado. “Estamos no processo de remover um número recorde de imigrantes ilegais de todos os países.”

Ainda resta saber se Maduro cumprirá a promessa de aceitar os deportados, o que daria a Trump uma vitória em sua campanha para devolver migrantes indocumentados a seus países de origem. Um acordo com a Venezuela abriria caminho para sua administração deportar centenas de milhares de pessoas de volta a um país que se tornou uma das maiores fontes de migração para os EUA nos últimos anos, devido ao regime autoritário de Maduro e à crise econômica severa.

O encontro também pareceu representar uma vitória para Maduro. Embora ele não tenha obtido uma promessa pública em troca, a visita de um alto funcionário de Trump foi um sinal visível de que os EUA estão dispostos a negociar com ele novamente, apesar das evidências de que ele fraudou a eleição presidencial de julho passado. O presidente Joe Biden havia aplicado sanções a membros do regime e reconhecido o opositor Edmundo González como o verdadeiro presidente eleito.

A licença que permite à Chevron Corp. operar na Venezuela foi renovada automaticamente no sábado por mais seis meses. O documento tem sido renovado no primeiro dia de cada mês desde que foi emitido, em novembro de 2022. O encontro de sexta-feira e a renovação da licença sugerem que os EUA provavelmente continuarão permitindo que a petroleira produza no país, uma permissão lucrativa tanto para Maduro quanto para a empresa americana.

O secretário de Estado Marco Rubio, que inicia uma viagem à América Latina neste fim de semana, questionou se a licença da Chevron na Venezuela deveria continuar a ser renovada, sinalizando possíveis divergências dentro do governo Trump sobre o tema.

A reunião foi um golpe para a oposição venezuelana liderada por María Corina Machado, que está escondida e contava com o apoio de Trump, enquanto Maduro se prepara para consolidar ainda mais seu poder. Durante seu primeiro mandato, Trump liderou os esforços fracassados da região para derrubar Maduro, reconhecendo o então presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como líder legítimo do país. A Venezuela realizará eleições regionais e legislativas antecipadas este ano, permitindo que Maduro fortaleça seu controle.

O encontro parece ter deixado Machado de lado, e agora a oposição venezuelana enfrenta o desafio de aprofundar seus laços com o governo Trump, disse Ramsey.

“Canais de comunicação com Maduro não são inerentemente ruins do ponto de vista de avançar para uma transição democrática, mas ainda resta ver exatamente como esse canal será utilizado”, afirmou Ramsey.

Um novo começo

Após o encontro de sexta-feira, a televisão estatal venezuelana divulgou cerca de sete minutos de imagens da reunião em Miraflores, mostrando Maduro e Grenell sorrindo e apertando as mãos. Um radiante Jorge Rodríguez, principal negociador de Maduro, observava a cena, que o repórter da emissora chamou de um “momento histórico”. Um tradutor foi visto caminhando ao lado de Maduro e Grenell durante o encontro.

Em um comunicado na noite de sexta-feira, o governo venezuelano afirmou que a reunião havia sido solicitada pelos EUA na quinta-feira e que Maduro aceitou.

Antes do encontro com Maduro, Grenell se reuniu com Jorge Rodríguez e sua irmã, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez.

“Demos o primeiro passo, espero que possamos sustentá-lo, queremos sustentá-lo”, disse Maduro após a reunião com Grenell. “Vamos começar uma nova agenda, vamos para um novo começo.”

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