Mais uma lição dos argentinos: a politização antifascista do movimento LGBTQIA+. Por Moisés Mendes

Manifestação LGBTQIA+ na Argentina. Reprodução

A Argentina consegue o que o Brasil nunca tentou. Foram os movimentos ligados à população LGBTQIA+ que lideraram a grandiosa marcha contra as atitudes fascistas de Javier Milei nesse sábado em Buenos Aires.

Não foram os partidos, nem os sindicatos, tampouco os estudantes ou os piquetes. Foram as organizações que mobilizam gays, lésbicas, trans e todos os que desejam ser respeitados por suas diferenças em relação à imposição dos héteros da extrema direita.

Tanto que a mobilização de milhares de pessoas foi batizada como Marcha do Orgulho Antifascista e Antirracista. A palavra orgulho é associada mundialmente ao movimento LGBTQIA+. A caminhada saiu do Congresso e andou até a Praça de Maio. Foi uma marcha para muito além das questões identitárias.

Foi uma resposta às declarações de Javier Milei em Davos, no Fórum Econômico Mundial, de que também na Argentina as políticas de afirmação da população LGBTQIA+ devem ser sabotadas pelo próprio governo. Como começa a acontecer nos Estados Unidos. Mas o movimento ataca todas as ações caracterizadoras do fascismo do sujeito.

Até o jornal La Nación, de direita, reconheceu: “O protesto, em repúdio ao discurso de Javier Milei em Davos, foi convocado pela comunidade LGBTIQ+ e apoiado por representantes de direitos humanos, sindicatos e figuras políticas”.

O mesmo La Nación informou: “A marcha ocorreu uma semana após o discurso do presidente, quando ele associou a homossexualidade à pedofilia e atacou o feminismo; e também depois que foi anunciado que o governo apresentará um projeto para eliminar a figura do feminicídio, a identidade não binária e a cota de emprego para trans”.

É a mídia conservadora reconhecendo a força e a politização dos contingentes atingidos pelas ameaças do fascista.

O jornal Clarín deu na capa: “Após os comentários do presidente em Davos, diversas organizações ligadas a questões de gênero e diversidade se mobilizaram no centro de Buenos Aires. Partidos políticos, sindicatos, organizações de direitos humanos, artistas e outras celebridades aderiram”.

Fica claro que a marcha foi uma iniciativa do que o jornal define como “organizações ligadas às questões de gênero”, e que os políticos de esquerda do peronismo e do kirchnerismo e as organizações sociais foram agregadas à ideia.

Esta foi a mensagem da Assembleia Antifascista LGBTQIA+ para convocar a grande mobilização:

“A resposta à violência econômica, perseguição política e repressão sexual pelo governo de Javier Milei tem as cores da nossa comunidade. Juntos e em aliança por todo o país, articulando todas as nossas diferenças. Precisamos uns dos outros agora. Espalhe a palavra, organize-se, participe!”.

Os argentinos finalmente explicitaram que o movimento nacional contra a homofobia e a transfobia foi politizado.

E aí uma pergunta inevitável se apresenta aos brasileiros: é possível que tal engajamento se reproduzas também aqui? Ou isso é coisa de argentino?

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