Quem segura Musk? A guerra silenciosa dentro do governo Trump

Quando Elon Musk e sua equipe de jovens assessores obtiveram acesso à rede de computadores do Departamento do Tesouro dos EUA — sistema usado pelo governo para pagar suas contas e armazenar dados financeiros privados de praticamente todos os americanos — a situação gerou alarme em todo o país.

A ação também colocou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, no centro de um impasse delicado entre os burocratas da agência e o mais barulhento conselheiro do presidente Donald Trump.

Com o aval de Trump, Musk, o homem mais rico do mundo e CEO da Tesla, está liderando uma campanha disruptiva para remodelar a burocracia federal, com algumas ações sendo consideradas ilegais por críticos.

Bessent, figura tradicional do setor financeiro, apoia mais a missão da equipe de Musk do que se imaginava.

Durante a formação de sua equipe em dezembro, Bessent entrevistou Tom Krause, que agora integra o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) de Musk, segundo uma fonte familiarizada com o assunto. Krause está atualmente investigando os sistemas e dados do Tesouro.

Os dois discutiram, na entrevista, exatamente a missão que o DOGE agora executa, disse a fonte.

Resistência no Congresso

Cerca de meia dúzia de senadores republicanos se manifestaram em particular à Casa Branca para expressar preocupação com o acesso de Musk aos sistemas do Tesouro, alegando que a movimentação ultrapassa a missão original do DOGE de cortar gastos do governo.

Mesmo assim, o próprio secretário do Tesouro, que esses senadores ajudaram a confirmar no cargo, participou do planejamento das ações e até recomendou Krause para o status de funcionário especial do governo, o que lhe permite acesso aos servidores do Tesouro.

Na quinta-feira, um juiz federal temporariamente restringiu o acesso ao sistema de pagamentos do Tesouro após sindicatos acusarem a agência de compartilhar ilegalmente informações financeiras de seus membros com a equipe de Musk. O tribunal permitiu acesso apenas no modo de leitura para dois assessores de Musk, incluindo Krause, enquanto avalia um pedido para liminar definitiva.

De acordo com o New York Times, um alto funcionário do Tesouro solicitou que Krause tivesse acesso ao sistema para congelar pagamentos da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID). A maioria das operações da USAID foi pausada, com funcionários afastados e sistemas bloqueados.

Elizabeth Warren durante um protesto contra Elon Musk em frente ao prédio do Tesouro dos EUA em Washington em 4 de fevereiro de 2025. (Foto: Bloomberg)

Desconforto na Casa Branca

Musk tem causado desconforto até mesmo entre aliados da Casa Branca. Apesar do apoio de Trump à redução de gastos, o empresário frequentemente toma ações antes mesmo de o presidente ser informado.

A chefe de gabinete de Trump, Susie Wiles, e a equipe jurídica da Casa Branca monitoram os esforços de Musk, enquanto outros assessores tentam manter distância. Wiles e outros funcionários ainda precisaram intervir para conter problemas criados por Musk, que, segundo fontes próximas ao presidente, continua tendo o apoio de Trump.

“O presidente Trump não vê problemas no que Musk tem feito, mesmo que às vezes precise reafirmar que ele — e não Musk — é quem ocupa o Salão Oval”

— disse à Blomberg uma fonte próxima ao presidente.

Acesso privilegiado e interesses comerciais

Mesmo que Trump eventualmente se desentenda com Musk e sua campanha frenética de cortes de custos, ex-funcionários do governo acreditam que o magnata já terá saído no lucro.

Com acesso a sistemas financeiros e informações estratégicas do governo, Musk pode ter vantagens competitivas para suas empresas, incluindo a Tesla (TSLA), a SpaceX, a Neuralink e a plataforma social X. O Departamento do Tesouro disse, em carta ao senador democrata Ron Wyden, que Musk e sua equipe têm apenas acesso de leitura, sem permissão para alterar códigos ou rejeitar pagamentos.

O status de “funcionário especial do governo” concedido a Musk limita sua atuação a 130 dias por ano e o isenta de algumas obrigações de transparência financeira exigidas de funcionários públicos regulares.

A Casa Branca nega qualquer falta de controle sobre Musk. “Todos trabalham juntos sob a liderança do presidente Trump e sua altamente respeitada chefe de gabinete, Susie Wiles. Qualquer especulação em contrário é pura fantasia de quem não tem nada melhor para fazer”, disse a porta-voz Karoline Leavitt.

Um manifestante segura uma placa durante um protesto contra Elon Musk do lado de fora do prédio do Tesouro dos EUA em Washington, DC, em 4 de fevereiro. (Foto: Bloomberg)

Musk vs. diversidade e regulação

A estratégia de Musk ecoa a postura de outros altos funcionários do governo Trump, como Russ Vought, indicado para chefiar o Escritório de Gestão e Orçamento. Vought já afirmou que seu objetivo é fazer com que funcionários públicos “temam ir trabalhar” e se sintam “vilões”.

Musk também compartilha da visão de Trump contra políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI). Entre as primeiras ações do DOGE, foi realizada uma reunião com todas as divisões da Administração Federal de Aviação (FAA), exceto o Escritório de Direitos Civis da agência, que não foi convidado.

Nos bastidores, assessores de Trump têm tentado conter danos causados por Musk. Recentemente, Wiles teve que intervir depois que Musk atacou o senador republicano Todd Young, que havia demonstrado reservas sobre a indicação de Tulsi Gabbard para diretora de inteligência nacional.

“Todd Young é um fantoche do ‘deep state’”, escreveu Musk na plataforma X. Duas horas depois, voltou atrás e disse que teve uma “excelente” conversa com Young, que acabou votando a favor da nomeação de Gabbard.

Reação no Congresso

A pressão contra Musk começa a crescer no Congresso. Parlamentares democratas e sindicatos intensificaram protestos, tentando convencer Trump de que Musk pode se tornar uma ameaça à sua própria autoridade.

“Não juramos lealdade a Elon Musk”, disse o senador democrata Chris Murphy, de Connecticut. “Não juramos lealdade aos jovens esquisitos de 22 anos que trabalham para ele.”

© 2025 Bloomberg L.P.

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