Entre Minas reúne 20 artesãs do estado em loja colaborativa em Tiradentes

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Loja Entre Minas leva diversidade do artesanato mineiro para o centro histórico de Tiradentes (Foto: Matheus Freitas/ Divulgação)

Há cerca de seis anos, Juliana Moura se mudou de Barbacena, na Zona da Mata, para Tiradentes. Ela estava com a filha, que na época tinha 1 ano, e foi em direção à cidade histórica para tirar um sonho do papel: criar uma loja de artesanato mineiro colaborativa. O município, que recebe milhares de turistas por ano, era considerado por ela como o cenário ideal para realizar a ideia, já que teria contato com um público que também procura peças exclusivas e que exalam mineiridade. Então, começou a seleção de um artesanato totalmente autêntico, feito em diferentes partes do estado, utilizando materiais como o barro, feltro, bordado, tecido, madeira e outros. A loja fica em um ponto estratégico de Tiradentes, em um dos espaços disponibilizados pelo Centro Cultural Yves Alves, e é repleta de peças singulares feitas por 20 artesãs do estado. É “Entre Minas” em cada detalhe. No entanto, essa trajetória foi colocada em risco em janeiro de 2025, com o pedido de que a loja deixe o prédio em que está localizada.

A ideia da curadora surgiu a partir da própria percepção que tinha, como admiradora do artesanato mineiro. “Frequentando muitas feiras, percebi que tinha muita gente com o trabalho muito bonito, muito autoral, e que vendia só duas vezes por ano, depois guardava essas peças e não tinha onde vender.” Ela também é bordadeira, e percebeu que a opção de criar um espaço colaborativo podia ser uma boa saída, ainda mais considerando que, entre essas pessoas que admirava, muitas tinham o domínio do fazer artístico, mas não tinham habilidades para vender via redes sociais, por exemplo – então, se perdia o potencial daquelas peças chegarem a mais pessoas e de formarem uma renda para esse público, majoritariamente feminino. “Então, pensei: se a gente se organizar direitinho, dá pra abrir um espaço em que as pessoas possam mostrar seus trabalhos. E assim fiz, no escuro.” 

O primeiro lugar onde a Entre Minas funcionou foi em uma loja alugada próxima à Maria Fumaça. Já naquele momento, Juliana criou um formulário para que os artesãos interessados em participar da iniciativa pudessem enviar seus trabalhos e contar as características deles. “Queremos dar visibilidade ao maior número de pessoas possível, com o maior número de técnicas. Um dos nossos requisitos é que não tenha concorrência entre as marcas parceiras, então se já tem crochê, não vamos trazer o mesmo tipo de coisa”, conta. Desde então, muitos desses parceiros continuaram com Juliana e tiveram suas vidas impactadas pela possibilidade de venda. Ela recebe as peças sem precificar, apenas indica valores possíveis – mas deixa que os artistas determinem o que consideram justo pelo trabalho que oferecem.  

Até que durante a pandemia de Covid-19, uma das salas geridas pelo Centro Cultural, um prédio da Prefeitura de Tiradentes, ficou vaga, e ela pôde alugar o espaço, que fica mais próximo aos outros comércios de Tiradentes e tem mais circulação de turistas. Em janeiro deste ano, no entanto, ela recebeu um comunicado pedindo para sair do espaço até 6 de março, antes mesmo do contrato de locação firmado acabar. Ela também tentou contato com a Prefeitura para verificar a possibilidade de continuar no espaço e fazer uma nova locação, mas não obteve resposta. Assim como ela, uma loja de artesanato indígena, que fica ao lado, também está na mesma situação. A Tribuna pediu informações sobre o caso e indagou para quê o espaço deverá passar a ser utilizado, pelos e-mails e telefones disponibilizados pelo órgão, mas não obteve qualquer posicionamento.

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Todas as peças do Entre Minas são feitas manualmente e reforçam memória afetiva, conta Juliana Moura (Foto: Matheus Freitas/ Divulgação)

Contornando dificuldades

A dificuldade que Juliana enfrenta, no momento, não é apenas desocupar o espaço: é de repensar como o funcionamento da loja passará a ser, e se vai ser possível continuar. Isso porque, como ela explica, encontrar ponto comercial alugável no centro de Tiradentes não é nada fácil. “Os pontos comerciais aqui são muito cobiçados. Os aluguéis são muito caros para essa proposta de comércio colaborativo”, conta. De acordo com ela, como no Centro Cultural o valor também era mais equilibrado, mesmo para ir para outro lugar seria necessário aumentar muito os preços dos produtos para dar conta do aluguel – o que ela sente que faria com que parte do objetivo da loja se perdesse.

Esse processo, como ela percebe, não atinge só a Entre Minas, mas todos os estabelecimentos que querem trazer um artesanato mais original para esses espaços, que porém estão sendo invadidos por muitos produtos feitos de forma massificada – e que, por isso, não praticam um preço justo. “O nosso diferencial é o fazer manual. Nós estamos vendo os produtos em massa, que imitam o artesanal, chegar até mesmo aqui. Mas o que trazemos é único, você só vai encontrar um igual”, diz. 

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Janelinhas feitas para representar casas históricas estão entre os itens mais cobiçados da loja (Foto: Matheus Freitas/ Divulgação)

Identidade mineira

A identidade mineira é o pilar do Entre Minas. Entre os produtos mais procurados pelo público, estão as janelinhas feitas por estudantes de São João Del Rei e que são iguais às da cidade histórica, as placas de cerâmica com frases, a cruz de crepom da Dona Lilia (artesã de Tiradentes) e as peças de São Francisco em diferentes formatos. “A gente é levemente provinciano. A ideia do nome surgiu daí, quero que as pessoas entrem aqui e identifiquem que estão em Minas Gerais, reconhecendo essa diversidade de artesanato. É um afeto e carinho enorme por esse estado”, conta.

E, também por isso, ela enxerga como é importante que negócios como esse se mantenham, até para que os fazeres artesanais não se percam.  “Se você dá espaço para as pessoas mostrarem esse trabalho, também incentiva as gerações mais novas a se manterem ou ressignificarem o trabalho. Usarem essa técnica com outra ferramenta, por exemplo”, conta. A ideia sempre foi espalhar a mineiridade por meio do trabalho manual de sua gente. “A gente consegue dar visibilidade aos artistas que estão aqui, que de repente só têm a oportunidade de expor aqui. Tenho pessoas na loja que, se eventualmente este espaço deixar de existir, vão guardar essas peças e não vão ter mais como expor”, finaliza Juliana.

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