Trump autoritário coloca mercados em risco, diz autor de “Como as Democracias Morrem”

O cientista político Steven Levitsky, coautor do best-seller Como as Democracias Morrem, alertou para o risco de um retrocesso democrático nos Estados Unidos sob o segundo mandato de Donald Trump. Em um artigo publicado na Foreign Affairs, Levitsky e o também pesquisador Lucan A. Way argumentam que o país pode migrar para um modelo de “autoritarismo competitivo”, no qual há eleições e oposição legalizada, mas o governo manipula as regras para enfraquecer adversários.

Se essa previsão se concretizar, defendem os autores, os efeitos para o ambiente de negócios e o mercado financeiro podem ser significativos. O artigo destaca que regimes como os de Turquia, Hungria, Rússia e Venezuela mantêm estruturas formais de democracia, mas utilizam o poder estatal para perseguir opositores, pressionar empresas e beneficiar aliados. O segundo governo de Trump, segundo os autores, pode seguir esse caminho, criando incertezas regulatórias e impactos diretos nos investimentos.

Uso do governo para enfraquecer adversários

Um dos principais riscos apontados no artigo é a politização da burocracia federal, especialmente em órgãos como o IRS (Receita Federal americana), o Departamento de Justiça e agências reguladoras. Levitsky afirma que o governo pode usar esses instrumentos para investigar, processar ou sufocar financeiramente empresas que financiem a oposição ou grupos críticos.

A gestão de Trump já indicou que pretende ampliar o número de cargos de confiança na administração pública, permitindo substituições em massa de funcionários de carreira por aliados políticos. Essa mudança pode afetar o ambiente de negócios ao criar um sistema no qual o acesso a contratos públicos, isenções fiscais e benefícios regulatórios depende de alinhamento político.

Pressão sobre empresas e o setor financeiro

Segundo Levitsky e Way, empresas que se posicionarem contra o governo podem enfrentar retaliações fiscais e regulatórias, enquanto aquelas que demonstrarem apoio a Trump podem ser favorecidas. O artigo cita como exemplo o que ocorreu na Hungria, sob Viktor Orbán, onde o governo utilizou multas, taxações seletivas e bloqueios regulatórios para enfraquecer grupos econômicos críticos ao regime.

Esse tipo de ambiente tende a criar um efeito cascata: executivos, doadores políticos e investidores podem reavaliar suas estratégias de financiamento e evitar associar-se à oposição para não correrem riscos. A “capitulação empresarial” já estaria em curso nos EUA, com gigantes como Amazon, Google, Meta, Microsoft e Toyota dobrando suas doações para a posse de Trump em comparação com 2017.

Impacto nos investimentos e na economia global

O modelo de “autoritarismo competitivo” pode gerar incerteza jurídica e regulatória, elevando a volatilidade nos mercados, alertam os autores. Empresas estrangeiras que operam nos EUA podem ser alvo de restrições se forem percebidas como adversárias do governo, enquanto investimentos externos podem diminuir devido ao enfraquecimento das instituições democráticas.

Além disso, uma eventual política protecionista mais agressiva sob Trump pode afetar setores como tecnologia, manufatura e agronegócio, especialmente se houver tarifas adicionais contra a China e restrição a subsídios de energia renovável, afetando empresas menores do setor de veículos elétricos e infraestrutura verde.

Paralelos com outras democracias em crise

O artigo compara a possível trajetória dos EUA com casos recentes de erosão democrática em países como Turquia, Polônia e El Salvador. Nessas nações, os governos mantiveram eleições competitivas, mas criaram barreiras legais e institucionais para dificultar a alternância no poder.

Nos EUA, Levitsky acredita que Trump não conseguirá instaurar um regime de partido único, mas pode criar obstáculos significativos para a oposição, limitando a imprensa, restringindo financiamento de campanhas e dificultando fiscalizações contra aliados.

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