Carnavalesco desdenha de temas africanos nos desfiles e provoca: “Vão aturar ‘Monstros S.A.’”

Paulo Barros. Foto: Divulgação

No escritório do carnavalesco Paulo Barros, no Rio de Janeiro, um boneco do Homem-Aranha convive com quatro troféus de campeão do Carnaval, representando mais de 30 anos de conquistas e polêmicas na avenida.

Essa decoração inusitada antecipa o tom do próximo desfile que ele assinará na Unidos de Vila Isabel, com o enredo “Quanto Mais Eu Rezo, Mais Assombração Aparece”, que aborda as fantasias do imaginário popular brasileiro, incluindo o bicho-papão.

A polêmica já começou, pois Barros levará ao Sambódromo personagens da animação norte-americana “Monstros S.A.”. Ele defende sua escolha, afirmando que, embora muitos peçam para valorizar a cultura brasileira, a avenida já está repleta de figuras que não são genuinamente nacionais, como egípcios, elefantes e tigres. “Que continuem me colocando na berlinda. Vão ter que aturar ‘Monstros S.A.’ esse ano”, afirma.

Aos 62 anos, Paulo Barros critica a repetição de símbolos nas apresentações, sugerindo que a festa se tornou um espetáculo pasteurizado. “Provavelmente você vai ver dez desfiles iguais”, diz. Ele se recusa a assumir projetos que abordem temáticas africanas, argumentando que a complexidade das mensagens muitas vezes afasta o público.

Frequente em templos de fé e considerando-se religioso, Barros se define como “meio macumbeiro, meio católico, meio budista”. Para ele, Deus é “uma força chamada tempo”. Sua crítica à repetição de imagens na avenida o tornou sinônimo de ousadia e apelo popular, dividindo opiniões entre os foliões.

O carnavalesco também reflete sobre o impacto das redes sociais em sua carreira. Embora tenha aprendido a não responder a críticas, ele admite que a interação online pode ser desafiadora. “Antigamente, quando me diziam um desaforo, eu devolvia. Aprendi que, ao revidar, dou voz a quem não tem”, comenta.

Carro alegórico com temática africana. Foto: Divulgação

Este ano, o boneco de Mike Wazowski, um dos protagonistas de “Monstros S.A.”, fará parte de um carro alegórico sobre o bicho-papão, uma estratégia de Barros para cativar o público infantil. “Elas enlouquecem. No ano passado, coloquei a Moana no carro, e você não tem noção do que foi. Ficam embevecidas”, revela.

Barros, que desativou um perfil no Instagram para se proteger de comentários indesejados, voltou à plataforma para divulgar palestras. No entanto, ele ainda enfrenta críticas sobre sua aparência. “Você posta uma foto falando de palestra, e as pessoas entram lá para comentar ‘nossa, como você está velho’”, lamenta.

Apesar das frustrações, o carnavalesco não tem medo da opinião pública. Ele já enfrentou polêmicas, como em 2008, quando teve que desmontar um carro alegórico que simbolizava o Holocausto. “Não quero ser polêmico. Não preciso entrar em discussões que não sejam produtivas”, afirma.

Barros se dedica a seu trabalho e, após a entrega do desfile, pretende aproveitar o espetáculo. “Ouvi muito no passado que eu ia acabar com a tradição do Carnaval. Mas, se ela acabar, eu morro”, finaliza, reafirmando seu compromisso com a festa e a inovação que a define.

Conheça as redes sociais do DCM:

⚪Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo

🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line

Adicionar aos favoritos o Link permanente.