Frente Parlamentar Evangélica tem racha inédito. Por Edward Magro

Frente Parlamentar Evangélica (FPE). Foto: Divulgação

 

A Frente Parlamentar Evangélica (FPE) se consolidou como uma das bancadas mais influentes do Congresso Nacional. Nasceu com 19 membros em 2003 e hoje tem 245 signatários; em todos os sentidos, um crescimento explosivo. Sua atuação seguiu o mesmo rumo, evidenciando uma contradição fundamental entre discurso e prática.

Enquanto se apresentam como guardiões da moral cristã, sua trajetória política privilegia setores econômicos poderosos, espalha desinformação e endossa pautas que aprofundam a desigualdade social. No centro dessa equação está o uso estratégico da fé como ferramenta política.

Nesta terça-feira, 25 de fevereiro de 2025, a FPE realiza uma eleição inédita para escolher seu novo presidente, refletindo divisões internas sobre sua relação com o governo federal. Os principais candidatos são Otoni de Paula (MDB-RJ), ex-bolsonarista-raiz supostamente recém-convertido ao lulismo, mas, no fundo, um palaciano renitente; Gilberto Nascimento (PSD-SP), bolsonarista-raiz, truculento e “homem de negócios” padrão Queiroz; e Greyce Elias (Avante-MG). O resultado da votação pode definir os rumos da atuação da bancada nos próximos anos.

Apesar de sua retórica centrada na defesa dos “valores cristãos”, a FPE tem sido uma aliada fiel da bancada do agronegócio e da chamada “bancada da bala”. Seu apoio a projetos como o PL 490/2007, que facilita a exploração de terras indígenas, demonstra um alinhamento inegável com os interesses do latifúndio, contribuindo para o avanço do desmatamento na Amazônia e o agravamento dos conflitos fundiários, como apontam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O compromisso com a proteção do meio ambiente e dos povos tradicionais parece estar longe de suas prioridades.

No campo da segurança pública, a FPE defende a flexibilização do porte de armas e políticas punitivistas severas, ignorando os impactos sociais dessas medidas. Em 2022, o Brasil registrou mais de 47 mil homicídios, com os estados que facilitaram o acesso a armas liderando os índices de violência, conforme apontam os números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O encarceramento em massa, política fortemente defendida pela bancada, atinge principalmente a população pobre e negra, ironicamente incluindo muitos jovens de famílias evangélicas.

A relação da FPE com a verdade também é puro conflito. Durante a pandemia, seus membros foram protagonistas na propagação de fake news sobre tratamentos sem eficácia e na sabotagem da vacinação. Investigações da Agência Pública revelaram como a bancada se valeu das redes sociais para espalhar desinformação, minando a credibilidade da ciência e agravando o número de mortes por COVID-19. Em vez de proteger a vida, a bancada escolheu servir de trampolim para o negacionismo.

Mas a distorção dos fatos não se limitou à pandemia. A desinformação tem sido uma arma recorrente da FPE contra adversários políticos e contra as próprias instituições democráticas. Muitos de seus membros estiveram entre os que participaram da organização e da convocação da tentativa de golpe de 8 de janeiro, e um número maior ainda de parlamentares minimizaram ou justificaram os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando extremistas invadiram e depredaram os Três Poderes em Brasília. Essa postura levanta dúvidas sobre o real compromisso da bancada com a democracia.

Estudiosos vêm descrevendo a atuação da FPE como um caso emblemático de “cristianismo de ocasião” — uma estratégia política em que a Bíblia é citada seletivamente, apenas quando convém. A bancada se opõe a reformas tributárias que tornariam o sistema mais justo, rejeita políticas redistributivas e atua para garantir privilégios fiscais a grandes corporações. Enquanto isso, programas sociais voltados aos mais pobres são rotulados como “incentivo à preguiça”.

Hábeis no uso da hipocrisia como arma política, os mesmos parlamentares que bradam contra a corrupção e a imoralidade, na prática, protegem os interesses dos poderosos e aprofundam desigualdades. No fim, a máxima bíblica de que “é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus” parece não se aplicar aos seus aliados políticos e financeiros.

Se os evangélicos brasileiros realmente enxergam na Frente Parlamentar Evangélica uma representação de seus valores, então é melhor reconsiderar a autoria da vitória final. Pois, neste embate, parece que foi o diabo quem saiu ganhando.

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