Luta contra a extrema direita passa também pela tribuna da Câmara. Por Moisés Mendes

Deputado federal Paulo Pimenta. Foto: Reprodução

O discurso do deputado Paulo Pimenta na tribuna da Câmara, essa semana, reanima a resistência antifascismo, mas também aciona dúvidas sobre as reações que pode provocar. O gaúcho retomou seu mandato, depois de dois anos na Secom, e em pouco tempo, durante apenas nove minutos, chamou golpistas e criminosos pelo nome.

Não em vídeos para o Instagram ou em uma live, não para o Tik Tok ou para redes de zap, mas com as liturgias do mandato, da tribuna da casa que o acolhe. E daí?, perguntarão os que acham que o púlpito da Câmara não tem mais sentido.

Daí que Pimenta conseguiu, com solenidade e força retórica, listar quase todos os desvios e desmandos do extremismo, com suas figuras associadas ao crime organizado. E identificar a extrema direita como o contingente mais raso, imbecilizado e idiotizado da história do Congresso.

Parece pouco, tratando-se de discurso, mas não é. A fala teve boa repercussão. E aí se apresenta então o que pode vir a ser um constrangimento, se o pronunciamento de Pimenta ficar solitário, sem outras companhias.

As esquerdas, com pelo menos 120 deputados, saberão aproveitar a porta aberta por Pimenta, em circunstâncias únicas, para deflagar uma sequência de pronunciamentos semelhantes que atordoem o bolsonarismo e o golpismo?

Mas que aconteçam na tribuna, com pompa, e não em vídeos caseiros. Que estejam de terno e gravata. Para que as esquerdas também desfrutem de um lugar que já foi seu e que a extrema direita sabe ocupar.

Como Nikolas Ferreira fez ao produzir no Congresso a imagem de maior impacto para o espírito do fascismo homofóbico, desde o golpe contra Dilma, quando discursou de peruca loira para atacar as pessoas LGBTQIA+. Como outros da mesma turma fazem, para produzir os cortes de falas precárias para as redes sociais.

Jair Bolsonaro com cara de triste, olhando para cima
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução

Às vésperas da abertura do processo contra Bolsonaro e os militares, com a extrema direita acossada por decisão do Supremo que reconhece finalmente os crimes de torturadores que assassinaram e deram sumiço a torturados, e com a repercussão mundial de ‘Ainda estou aqui’, não há melhor momento para abalar o bolsonarismo.

Que não se conte com o bloco dos vacilantes das esquerdas na Câmara, mas que se considere a hipótese de que é possível dispor de quase uma centena de parlamentares, e assim teremos um bom time capaz de subir à tribuna e fazer o que Pimenta fez.

Mas não com volteios e firulas. Com assertividade, com destemor, com frases diretas, sem medo de chamar bandidos pelo nome. Sem fraquejar na hora de identificar o que eles são e quem os lidera.

Sem discursinho para cumprir carnê e ficar bem com as bases no momento mais complicado para Lula, sob ataque do mercado financeiro, da imprensa das corporações, de grileiros, milicianos nacionais e estrangeiros, de neonazistas americanos, do Bolsonaro ainda solto e dos golpistas que ainda esperneiam.

Vamos lá. Vamos chamar os que se dispõem a seguir o exemplo de Paulo Pimenta. Que as esquerdas reaprendam a respeitar e a voltar à tribuna do Congresso, para que aquele não seja um lugar só de extremistas imbecilizados em busca de lacração.

Sabemos que outros parlamentares de combate fazem uso frequente da tribuna. Citemos um deles como caso exemplar – o carioca Glauber Braga, ameaçado de cassação por enfrentar uma facção dentro da Câmara.

Que outros sigam Pimenta e Glauber como eles fazem, sem discursinho escrito, sem a repetição do ‘sem anistia’, sem apelos para que prendam Bolsonaro. Que nomeiem o fascismo e suas gangues e deixem que o coração fale, porque é disso que a extrema direita tem medo.

Inscrevam-se, formem fila para discursar. Protejam-se na memória de Ulysses e resgatem o valor simbólico e real da tribuna da Câmara. O que o Brasil exige de vocês é coragem.

Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”

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