Guerra comercial: China importará mais alimentos do Brasil e da Europa

O presidente da China, Xi Jinping, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foto: Ricardo Stuckert/PR

As novas tarifas impostas pela China sobre produtos agrícolas dos Estados Unidos devem reorganizar o comércio global, levando o maior importador agrícola do mundo a buscar mais carne, laticínios e grãos de países da América do Sul, Europa e Pacífico.

Os embarques do Brasil, maior fornecedor de soja, da Austrália, principal exportador de trigo, e da Europa, líder no fornecimento de carne suína, podem crescer diante da intensificação da guerra comercial entre as maiores economias do planeta, segundo especialistas do setor.

A China reagiu às novas tarifas dos EUA, anunciando sobretaxas de 10% e 15% sobre US$ 21 bilhões em produtos agrícolas norte-americanos.

“Haverá um redirecionamento do comércio com essas tarifas”, afirmou Pan Chenjun, analista sênior de proteína animal do Rabobank em Hong Kong. Segundo ele, a China receberá mais carne suína e miúdos do Brasil, Espanha, Holanda e outros países da União Europeia, afetando especialmente as exportações norte-americanas de pés de frango e miúdos de porco.

Em 2024, os EUA exportaram US$ 29,25 bilhões em produtos agrícolas para a China, seu maior mercado. A mudança no fluxo comercial pode beneficiar concorrentes e aprofundar a redução da dependência chinesa do agronegócio americano, tendência observada desde a guerra comercial no primeiro mandato de Donald Trump.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Elizabeth Frantz/Reuters

No mesmo dia, Trump também impôs tarifas sobre produtos do Canadá e do México, impactando um setor que movimenta US$ 191 bilhões em exportações anuais.

A China importou US$ 16,26 bilhões em carne bovina, suína e de frango dos EUA no ano passado, incluindo miúdos. Como resposta, impôs tarifas de 15% sobre frango e 10% sobre carne suína e bovina. A expectativa é de que Europa e América do Sul aumentem suas vendas para o mercado chinês. Embora a China tenha aberto investigações antidumping contra importações europeias de carne suína e laticínios no ano passado, as vendas seguiram praticamente inalteradas.

Mesmo com as novas barreiras, a China deve continuar comprando pés de frango dos EUA, já que encontrar fornecedores alternativos de imediato não é viável, segundo Pan. “Os importadores simplesmente pagarão o imposto para manter o abastecimento.”

Quase metade da soja exportada pelos EUA tem a China como destino. No entanto, desde o primeiro governo Trump, Pequim vem reduzindo essa dependência e deve intensificar compras do Brasil e da Argentina.

“Os fornecedores sul-americanos devem sair ganhando com essa nova tarifa. Outros produtores de sementes oleaginosas, como os de canola, também podem ser favorecidos”, disse Dennis Voznesenski, analista do Commonwealth Bank, em Sydney.

A China ainda adquire dois terços de seu sorgo dos EUA, mas a taxa de 10% imposta sobre o grão pode beneficiar produtores australianos.

“O sorgo será um dos grandes beneficiados, assim como a cevada”, disse Rod Baker, da Australian Crop Forecasters, em Perth. “A Austrália terá uma safra farta este ano.”

As tarifas sobre o trigo norte-americano devem fortalecer os exportadores australianos, apesar de a China ter reduzido suas importações gerais do cereal recentemente devido à alta oferta interna.

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