O governo de Milei se tornou uma ditadura, mas a mídia não vai contar isso

O presidente da Argentina, Javier Milei. Foto: Luis Robayo/AFP

Javier Milei gosta de “acelerar nas curvas”. A frase, repetida pelo presidente argentino em um evento rural recente, ganha um novo peso diante da escalada autoritária de seu governo.

Apenas dois dias antes, uma repressão violenta contra manifestantes em Buenos Aires deixou dezenas de feridos e resultou em detenções arbitrárias. O fotógrafo Pablo Grillo, atingido por um cartucho de gás lacrimogêneo, precisou passar por nova cirurgia e segue em estado grave. Enquanto organismos internacionais condenam os abusos, a administração de Milei não recua. Pelo contrário, promete intensificar a repressão e busca enquadrar opositores em processos por sedição.

A repressão, orquestrada pelo governo, incluiu detenções sem provas e um discurso que flerta abertamente com a criminalização do protesto. Milei, ao lado da ministra da Segurança, Patricia Bullrich, não apenas defendeu a violência policial, mas deixou claro que considera manifestantes como inimigos do Estado. “Os bons são os de azul”, disse, em referência às forças de segurança. E completou, ameaçando opositores: “Os vamos metê-los na cadeia”.

A postura do governo argentino gerou forte repúdio internacional. A ONU cobrou uma investigação sobre a brutalidade policial, especialmente sobre o caso de Pablo Grillo. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) também expressou preocupação e reforçou que o Estado argentino tem a obrigação de garantir a liberdade de expressão e o direito à manifestação.

No cenário interno, seis denúncias foram apresentadas contra Bullrich por abusos de autoridade e prisões ilegais, mas o governo tenta reverter o jogo nos tribunais.

Patricia Bullrich não apenas minimizou a violência policial, como decidiu ir além: abriu um processo por sedição contra os manifestantes, acusando-os de tentativa de desestabilização do governo. A ministra, sem apresentar provas concretas, alegou que grupos organizados foram pagos para promover distúrbios e vinculou arbitrariamente torcedores de futebol e sindicalistas à manifestação. O objetivo parece claro: transformar qualquer protesto contra Milei em um caso criminal.

A lógica repressiva do governo argentino segue um roteiro conhecido de regimes autoritários. Primeiro, reprime-se brutalmente a dissidência. Depois, deslegitima-se a oposição, criando falsas acusações para justificar os abusos. Agora, busca-se controlar o Judiciário, deslocando as investigações para tribunais mais alinhados ao governo. Esse movimento se intensificou com a tentativa de tirar das mãos da juíza Karina Andrade as denúncias contra a repressão. Andrade ordenou a soltura de 114 manifestantes detidos sem justificativa e, por isso, virou alvo do governo Milei.

O caso expõe o enfraquecimento acelerado das instituições democráticas na Argentina. Milei, que chegou ao poder sob a promessa de liberdade, está usando o aparato do Estado para silenciar críticas e consolidar uma agenda repressiva. A combinação de repressão violenta, criminalização da oposição e manipulação do Judiciário coloca a Argentina em um caminho perigoso. O governo de Javier Milei já não é apenas ultraliberal. Com a perseguição sistemática a opositores e o uso da força contra manifestações pacíficas, tornou-se um regime autoritário.

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