Natura (NTCO3): após a derrocada de 30%, o que o mercado projeta para as ações?

A sexta-feira (14) foi para se esquecer para as ações da Natura&Co (NTCO3), que despencaram cerca de 30% após os resultados decepcionantes da companhia de cosméticos. Mas a queda foi exagerada ou o mercado virou mesmo para a companhia? Enquanto o Bradesco BBI segue com visão equivalente à compra para NTCO3, o JPMorgan rebaixou as ações para neutro.

Em primeiro lugar, analistas destrincham os motivos para uma queda tão expressiva e traçam perspectivas:

A XP Investimentos ressalta que a lucratividade foi o ponto negativo. Após 7 trimestres de expansão de margem, a margem bruta caiu 20 pontos base devido a efeitos pontuais na Argentina (-0,5 ponto percentual, ou p.p), enquanto o mix de produtos (maior participação de presentes) e esforços comerciais táticos compensaram parcialmente uma melhor mistura de países e ganhos da Onda 2 (de integração das operações).

A margem Ebitda (Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações/receita líquida) ajustada caiu 2 p.p. devido à reclassificação de investimentos em TI de Capex para Opex (-1,6 p.p), o que deve continuar até o primeiro semestre de 2025, e os royalties da Avon (-0,5 p.p), enquanto a pressão sobre despesas gerais e administrativas (G&A) resultou de investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e iniciativas omnichannel (multicanais).

O prejuízo líquido, de R$ 439 milhões, foi impactado por efeitos pontuais relacionados ao Chapter 11 (espécie de recuperação judicial nos EUA) da Avon Products Inc. (API). A empresa teve despesas de R$ 472 milhões relacionadas ao seu apoio ao Chapter 11 da API, além de custos de transformação mais altos (R$ 260 milhões) devido à implementação da Onda 2 na Argentina e no México. Isso também restringiu a geração de fluxo de caixa livre das operações continuadas, que ficou negativa em cerca de R$ 210 milhões (excluindo vendas de ativos) ou positiva em R$260 milhões excluindo os efeitos da API.

O Bradesco BBI aponta que essa liquidação se deve a uma mix de (1) revisão de lucro por ação para baixo, (2) alguma redução nas expectativas e menor benefício da dúvida, bem como (3) a abordagem de “vender primeiro, perguntar depois”, que parece ser o “novo normal” no ambiente de mercado atual.

Os analistas do BBI dão algumas opiniões sobre esse desempenho:

Os resultados e a teleconferência do 4T24 justificam uma revisão de lucro por ação em 30%? O BBI acredita que não, mas reconhece que há razões para alguma redução do patamar das ações, bem como um “menor benefício da dúvida”.

Além dos resultados em si, os analistas destacam dois pontos principais durante a teleconferência de balanços, em nossa opinião, levantaram mais perguntas do que respostas sobre a revisão da margem daqui para frente:

(1) Margem bruta: a gestão atribuiu grande parte da perda de margem bruta à Argentina, mas sem quantificá-la. Os diretores da companhia argumentaram que a margem bruta da unidade de negócios da Natura&Co LatAm teria se expandido consideravelmente na base anual se a Argentina fosse excluída. “Ainda não está claro para nós se a pressão da margem bruta da Argentina é mais de natureza contábil ou operacional, e se há alguma transferência para 2025”, apontam os analistas do BBI.

(2) Custos de transformação: esses custos resultaram em um impacto de margem de cerca de 2,0-2,5 p.p. nos últimos 2 anos e a gerência mencionou que eles podem pesar ​​novamente em 2025, mas sem quantificá-los, ainda sugerindo que há muito a ser feito – os analistas do BBI e o mercado esperavam que essa linha desacelerasse em 2025.
Se o desempenho da ação na sexta fosse justificado pela revisão do lucro por ação, isso implicaria em uma revisão de margem para baixo entre 2,5-3,0 pp, nos cálculos do banco.

O BBI, no entanto, vê que as razões por trás da ação do preço podem não estar estritamente relacionadas às revisões, mas sim devido às expectativas de “desancoragem” e menor benefício da dúvida dos investidores até certo ponto.

Leia mais:

Dados os resultados altamente poluídos por cerca de 7 anos, os investidores ancoraram suas expectativas nos KPIs operacionais da unidade de negócios Natura&Co LatAm. É verdade que os KPIs (indicadores de desempenho) podem já ter sido frágeis antes dos resultados do 4T24, mas percebê-los em risco (ou seja, perda significativa de lucratividade no 4T24, sendo um passo em falso importante em relação à trajetória dos primeiros nove meses de 2024) além da falta de visibilidade mais clara sobre os próximos estágios, diminui a confiança – e, em última análise, se traduz em um múltiplo menor.

O banco ainda ressalta que, no ambiente de mercado atual, os investidores demonstraram muito mais aversão quando confrontados com notícias negativas – exemplos em que a magnitude da ação do preço mostra um stop loss “mais cedo” até que uma visão mais clara surja. Houve vários casos recentes, aponta a equipe de análise, como Assaí (ASAI3), Lojas Renner (LREN3), Azzas 2154 (AZZA3) e Vivara (VIVA3).

O BBI aponta permanecer vigilante e que continuará tentando descobrir com mais precisão as questões pendentes que são essenciais para revisar as estimativas. Por enquanto, com a impressão de que a queda do preço foi longe demais e está aparentemente desvinculada da revisão de baixa do lucro por ação, mantém recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) até avaliar as informações marginais, com base em sua estimativa de valor.

Por outro lado, o JPMorgan rebaixou a recomendação de NTCO3 de overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para neutro, cortando o preço-alvo para dezembro de R$ 21 para R$ 11 após as surpresas negativas dos resultados do 4T24, que significativamente ficaram aquém das expectativas.

Os analistas do banco apontam que um “movimento tão selvagem” visto na sexta com queda de 30% das ações e raramente visto para uma empresa com um balanço patrimonial saudável os leva a reavaliar a sua tese e entender o que foi negligenciado, especialmente devido ao recente aumento do interesse nas ações.

“Reconhecemos que as reviravoltas e integrações são inerentemente não lineares e muitas vezes confusas, levando à volatilidade dos lucros. No entanto, as tendências foram positivas nas principais operações da América Latina, com indicações sugerindo melhorias contínuas”, apontam os analistas do JPMorgan.

Portanto, testemunhar um Ebitda ajustado abaixo de 30% das estimativas devido à margem bruta e despesas é frustrante, avaliam os analistas. Essa frustração é agravada pelo fato de que já estão excluídos eventos pontuais, que parecem cada vez mais recorrentes — encargos semelhantes foram observados no 2023 e 2024, com comentários indicando que eles devem permanecer elevados em 2025 também.

Para o JPMorgan, os catalisadores perdidos, juntamente com eventos pontuais recorrentes, minam a confiança de execução que está sendo estabelecida com o mercado. Isso levanta questões sobre tendências de melhoria de margem na América Latina e ajustes de resultados, ao mesmo tempo em que obscurece a visibilidade nos médio e longo prazos.

“No geral, a tese permanece um tanto inalterada, com uma potencial vaca leiteira emergindo da América Latina após a integração das operações da Avon LatAm na espinha dorsal da Natura (“Onda 2″) e potencial desinvestimento das operações da Avon International. Continuamos acreditando que o último ponto deva ser abordado em breve. No entanto, o negócio principal da América Latina, não exibindo uma triagem tão saudável quanto o esperado, dilui a tese de curto prazo de uma sólida vaca leiteira”, aponta a equipe de análise.

Além disso, conforme revisita seu modelo, o JPMorgan cortou a sua estimativa de lucro por ação ajustado em aproximadamente 30%, refletindo tendências de margem bruta mais suaves e despesas mais altas. “Dado isso, e vendo as ações sendo negociadas com um prêmio em relação a outros nomes do varejo da América Latina, particularmente no Brasil, juntamente com uma perspectiva de curto prazo mais turva com níveis de ruído elevados, rebaixamos a Natura&Co para neutro, aguardando a confirmação de melhores tendências operacionais”, apontam os analistas do banco.

The post Natura (NTCO3): após a derrocada de 30%, o que o mercado projeta para as ações? appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.