A Conmebol não pode ficar apenas no discurso

editorial

Momentos depois de presidir a solenidade em que a Conmebol sorteou as chaves da Libertadores e da Sul-Americana de futebol, o presidente da confederação, Alejandro Dominguez, em entrevista coletiva, afirmou que não imagina a Copa Libertadores sem os clubes brasileiros: “Isso seria como Tarzan sem Chita. Impossível”. Chita é a macaca dos filmes de Tarzan.

A fala contradisse trecho de seu discurso, em português, quando criticou o racismo e anunciou o empenho de vários governos para coibir tal prática nos estádios. Ao perceber o estrago, pediu desculpas. “A expressão que utilizei é uma frase popular, e jamais tive a intenção de menosprezar nem desqualificar ninguém. A Conmebol Libertadores é impensável sem a participação de clubes dos dez países membros. Sempre promovi respeito e a inclusão no futebol e na sociedade, valores fundamentais para a Conmebol. Reafirmo meu compromisso de seguir trabalhando por um futebol mais justo, unido e livre de descriminação.”

A fala do dirigente da principal entidade esportiva do continente, especialmente quando se pronunciou diante de uma atenta plateia, não condiz com o que de fato a confederação tem feito. Na disputa da Libertadores sub-20, o jogador Luighi, do Palmeiras, foi ostensivamente ofendido por um torcedor, e o máximo que se anunciou como punição foi uma multa no valor de 50 mil dólares (cerca de R$ 288 mil), a serem pagos no prazo de 30 dias a partir da notificação. O Cerro Porteño também está proibido de ter a presença de torcedores nos duelos da equipe durante a Libertadores sub-20.

Esse tipo de punição, em vez de resolver a questão, soa como um incentivo a outras práticas, pois a multa não afeta o caixa do clube, e jogar sem torcida na divisão abaixo de 20 anos não compromete o seu desempenho. A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, não compareceu ao sorteio em protesto pela decisão da confederação.

O racismo nos estádios tornou-se um flagelo de escala global e só vai sair de cena quando os clubes, de fato, forem punidos de forma adequada, a começar pela perda dos pontos. O surrado discurso de ser uma ação isolada do torcedor já não se sustenta, uma vez que, se quisessem, os clubes teriam se antecipado e tomado providências.

O dia em que estes forem punidos e não o torcedor, que fica apenas algum tempo proibido de frequentar os estádios, a situação muda. O racismo foi naturalizado pelo mundo afora, mas não há espaço para ceder, sobretudo por seu enfrentamento ser uma causa de todos. O jogador Vinícius Júnior não pode ser uma voz isolada. Seus companheiros de profissão também deveriam se manifestar, o que não ocorre, salvo as exceções.

Ao protesto da Sociedade Esportiva Palmeiras também deveriam se juntar as demais equipes, pois, vira e mexe, seus atletas vivem situação semelhante. Jogadores, torcedores, árbitros, todos estão no mesmo palco, o que exige conscientização coletiva para virar o jogo.

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