Arquivos de JFK revelam que CIA executou operações de desinformação no Brasil

O então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, e Jacqueline Kennedy, a primeira-dama, em Dallas, no Texas, em novembro de 1963, pouco antes de ser assassinado. Foto: Getty Images

O Arquivo Nacional dos Estados Unidos divulgou nesta terça-feira milhares de páginas de documentos relacionados ao assassinato do presidente John F. Kennedy em 1963.

Os registros foram disponibilizados no site do Arquivo Nacional, juntando-se a outras liberações feitas em 2023, 2022, 2021 e 2017-2018.

A liberação inicial desta terça-feira incluiu 1.123 documentos, somando 32.000 páginas. Mais tarde, uma segunda leva trouxe 1.059 registros adicionais, totalizando 31.400 novas páginas.

Os documentos revelam que a CIA planejou e executou operações de “propaganda negra” (“black propaganda”) no Brasil.

A “propaganda negra” é um tipo de desinformação conduzida por governos ou organizações para enganar o público, fazendo parecer que a informação vem de um adversário.

Essas operações envolvem a disseminação de boatos, falsificação de documentos e construção de narrativas que servem a interesses estratégicos.

Documento da CIA discute reunião da Central Unificada dos Trabalhadores da América Latina no Rio em 1963. Foto: Reprodução

De acordo com um documento datado de 31 de dezembro de 1963, a CIA e outras agências dos EUA discutiram programas psicológicos relacionados a Cuba. Um dos temas mencionados foi a reunião da CUTAL (Central Unificada dos Trabalhadores da América Latina), que estava marcada para ocorrer no Rio de Janeiro, de 24 a 28 de janeiro de 1964. O documento detalha ações para desestimular a participação e enfraquecer o encontro, incluindo:

  • Solicitar ao embaixador dos EUA no Brasil que avaliasse se elementos do governo local (mas não federal) apoiariam ações disruptivas.
  • Incentivar representações diplomáticas da América Latina a exercerem pressão local para dissuadir delegados de comparecer.
  • Utilizar transmissões da Voice of America (VOA) para destacar as más condições de trabalho em Cuba, Alemanha Oriental e China.
  • Continuar as operações de propaganda negra da CIA no Brasil para sugerir o adiamento da reunião.

Essas ações estavam alinhadas à estratégia mais ampla dos EUA na América Latina, especialmente ao apoio ao golpe militar de 1964 no Brasil. O documento indica que os EUA já estavam envolvidos em guerra informacional e manipulação no Brasil antes do golpe, reforçando a narrativa de uma crescente ameaça comunista.

Essa campanha de desinformação ajudou a justificar e legitimar a deposição do presidente João Goulart, facilitando a instalação de um regime militar alinhado aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos.

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