Pesquisa: 27,4% dos torcedores brasileiros enxergam apostas como investimento

Evitar a publicidade de uma casa de apostas ao assistir um jogo de futebol ou comprar a camisa do time do coração se tornou tarefa quase impossível no Brasil. Impactados pelos elevados valores pagos em patrocínios pelas bets, 27,4% dos torcedores brasileiros dizem utilizar esses sites com a finalidade de investir.

O dado é de uma pesquisa exclusiva do InfoMoney conduzida pela TM20 Branding e pela Brazil Panels. O levantamento afirma ainda que 4,2% dos torcedores dizem utilizar sites de apostas por conta do vício; outros 68,5% acessam as plataformas por diversão e entretenimento.

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A pesquisa ouviu 2 mil pessoas das classes A, B, C, D e E entre os dias 6 e 20 de fevereiro. As repostas foram capturadas virtualmente com respondentes das cinco regiões do Brasil.

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A associação entre apostas e investimentos não significa imediatamente uma relação de vício, embora quem utilize os sites para supostamente investir possa ainda não ter identificado um padrão. Acontece que a percepção de torcedores é de que eles conhecem o suficiente sobre seus times ou um determinado esporte para conseguir retornos recorrentes.

“Pode ser um dependente em negação também, mas não necessariamente é. É que essa pessoa se considera expert”, diz o médico responsável pelo ambulatório de tratamento de dependências de comportamento do Proad, da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Aderbal Vieira Jr. A maioria dos apostadores, segundo ele, percebe estar perdendo mais do que ganham no médio prazo e se distancia dos aplicativos.

“Há aquelas pessoas que vão entrar em um padrão de dependência, e por vários motivos. Porque elas não podem confessar para si mesmas que não sabem tanto assim, porque na verdade são dependentes e usam esse discurso racionalizado para se manter jogando”, explica.

Especialistas defendem que a exposição de casas de apostas em publicidade se tornou uma alavanca para adesão aos sites no Brasil. “Quem lida mais com esportes liga a TV e vê patrocínio de casas de apostas o tempo inteiro”, aponta Vieira Jr.

Em 2025, 18 dos 20 clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro têm uma casa de apostas como patrocinador master. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vendeu os naming rights dos campeonatos Brasileiro das séries A e B, bem como da Copa do Brasil, para a Betano.

“Se me perguntassem o que deveria ser feito, eu diria proibir propaganda sumariamente. Não vão fazer isso”, diz Vieira Jr.

Em seu ambulatório de tratamento de dependências de comportamento — aquelas não associadas a drogas, como sexo ou internet –, o movimento para atendimento de vício em jogos aumentou 400% em 2024.

Apostas como investimento?

Segundo o coordenador da comissão de embaixadores da Planejar, Carlos Castro, a relação entre investimentos e apostas começa e termina na mera expectativa de retorno: “No caso das bets, não há uma relação de risco-retorno estabelecida para as bets, exatamente por se tratar de um jogo. Você pode ganhar, você pode perder. Na maioria dos casos você vai perder”.

“No caso de investimento, tem uma relação muito clara. Independentemente do ativo: na renda fixa, tem uma característica, o ativo de renda variável tem outra em relação a risco-retorno”, aponta o especialista. Segundo uma pesquias do Procon-SP, 48% dos apostadores já tiraram dinheiro de aplicações para jogar e 39% estão endividados.

A Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda definiu em portaria que são vedadas ações de publicidade e propaganda sobre apostas sugerindo ou induzindo que elas sejam alternativas ao emprego, solução para problemas financeiros, fonte de renda adicional ou forma de investimento financeiro.

As regras devem ser seguidas por todas as empresas autorizadas a atuar no Brasil desde que passou a vigorar a regulamentação sobre o setor, em 2025. Calcula-se, no entanto, que 50% do mercado ainda opere de forma irregular.

O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), formado por 75% das empresas regulamentadas no Brasil, diz não ter feito, até agora, uma campanha específica para diferenciar os investimentos financeiros de apostas, e atribui ao mercado irregular a principal responsabilidade pela confusão entre jogos e investimentos financeiros.

“Com a própria institucionalização, a regulamentação, o início do mercado regulado, naturalmente, por osmose, fica claro que o mercado regulado de apostas é uma alternativa de entretenimento, que não está concorrendo com investimentos”, diz o diretor do IBJR, André Gelfi.

Projeções do instituto dão conta de um faturamento de R$ 830 milhões para as casas clandestinas em janeiro de 2025.

Medidas como bloqueios de usuários cujo comportamento pareça compulsivo e alertas informativos sobre os riscos da adição em apostas fazem parte do protocolo do mercado regulamentado.

Aderbal Vieira Jr, da Unifesp, explica que o comportamento comum de um usuário com vício é pular dos sites autorizados para um clandestino quando bloqueado. Medidas de prevenção estipuladas pelas casas de aposta e pelo governo, no entanto, têm um efeito reduzido sobre dependentes, em sua avaliação.

“É melhor ter [uma regulamentação] do que nem sequer ter. Com ela é possível consegue proibir um pouquinho, se você nem tiver você não proíbe nada”, diz. “Estamos correndo atrás do juízo, vai conseguir causar algum efeito para aquela pessoa que é um abusador leve.”

Instituições financeiras e o setor de apostas disputam há meses uma queda de braços em relação ao comportamento dos consumidores com os jogos. Em 2024, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) sugeriu a suspensão temporária do Pix para transações de apostas, além da imposição de limites para essas operações.

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