Equívoco do marketing e a camisa vermelha

editorial

 

Não há necessidade de transferir para o viés ideológico para ser contra o plano da patrocinadora da Seleção Brasileira de adotar uma camisa vermelha para a Copa do Mundo de 2026. A ideia, oriunda do marketing da Nike, se tinha a intenção de “causar”, já surtiu efeito. Não se fala em outra coisa. O senador mineiro Cleitinho Azevedo falou até mesmo em CPI, enquanto outros colegas já convidaram o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, para uma audiência, a fim de apresentar suas justificativas. O modelo não tem qualquer identidade com a Seleção.
A CBF acusou o golpe e, por meio de nota, destacou que essa mudança está mais nas redes sociais do que nas suas decisões. De acordo com nota enviada à imprensa, a CBF reforça que as imagens de supostos uniformes que estão circulando na internet não são oficiais. “Nem a CBF nem a Nike divulgaram formalmente detalhes sobre a nova linha da seleção. A entidade reafirma o compromisso com seu estatuto e informa que a nova coleção de uniformes para o Mundial ainda será definida em conjunto com a Nike.”
A Seleção Brasileira já atuou em duas oportunidades com a camisa vermelha: a primeira em 1917, na disputa do Sul-Americano, e outra em 1936 pela mesma competição. A experiência não prosperou, e o uniforme número 2 se caracterizou pela camisa azul, com a qual, aliás, conquistou a primeira Copa do Mundo, em 1958. Pelo mundo afora, a equipe brasileira é conhecida como canarinha, não havendo qualquer alusão ao vermelho.
De acordo com a Agência Estado, em seu estatuto, a CBF determina que os uniformes “obedecerão às cores existentes na bandeira da entidade e conterão o emblema da instituição, podendo variar de acordo com exigências do clima, em modelos aprovados pela diretoria, não sendo obrigatório que cada tipo de uniforme contenha todas as cores existentes na bandeira e sendo permitida a elaboração de modelos comemorativos em cores diversas, sempre mediante aprovação da diretoria”.
Mesmo sendo uma entidade de direito privado, ao se apresentar como seleção que representa o país, o mínimo que se espera é a adoção das cores nacionais, nas quais se destacam o verde, o azul, o branco e o amarelo. Há margem suficiente para o marketing da Nike atuar.
Ademais, faltou o senso de razoabilidade. Em um momento em que o país tenta se desvencilhar da divisão ideológica que separa dois grupos hegemônicos de poder, a camisa vermelha soa como provocação, por ser a cor do Partido dos Trabalhadores, a legenda do presidente da República.
Com isso, criou-se um desnecessário processo no qual, em vez de ser uma discussão exclusiva das ruas, por meio das redes sociais, dá munição à instância política, como se a Seleção fosse propriedade desse ou daquele grupo ideológico.
A camisa vermelha foge ao contexto da própria seleção, o que, por si só, deveria ser suficiente para a CBF e sua patrocinadora mudarem de ideia.

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