LISBOA – A Praça Duque da Terceira, no centro turístico de Lisboa, foi transformada em um tabuleiro gigante do jogo Banco Imobiliário pelo artista português Bordalo II, em uma intervenção crítica à crise da habitação em Portugal. A obra, chamada “Provoc”, foi instalada sem autorização da prefeitura e removida nesta sexta-feira (2) pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), que alegou danos à calçada portuguesa artística do local.
A intervenção reacende o debate sobre o acesso à moradia em Portugal e especialmente em Lisboa, cidade que tem enfrentado um aumento expressivo no custo de vida e na pressão por imóveis, a poucos dias de uma nova eleição para o governo, marcada para o dia 18 de maio.
Conhecido por obras de grande escala e forte cunho político, Bordalo II montou o tabuleiro com casas representando ruas e avenidas de diversas cidades portuguesas, com preços que variavam de 6 mil a 40 mil euros. O artista afirmou nas redes sociais que “o direito à habitação é tipo jogo”, criticando a desigualdade no acesso à moradia. “As nossas cidades estão a ser convertidas em grandes tabuleiros de jogo”, escreveu.
A lona da instalação cobria toda a praça no Cais do Sodré, uma das zonas centrais da capital. Entre as propriedades simuladas, estavam o Campo Grande, a Avenida Almirante Reis e o Rossio, com valores que faziam alusão ao preço do metro quadrado na capital portuguesa. A peça incluía também “casas” de “impostos de luxo” e outras referências ao sistema imobiliário.
Segundo a CML, a obra foi considerada um “atentado ao patrimônio da cidade” e exigirá reparações na calçada. O artista não obteve permissão para realizar a instalação, o que levou à intervenção da autarquia.
Esta não é a primeira vez que Bordalo II aborda a crise da habitação. Em 2023, ele criou a obra “Desalojamento Local”, no Miradouro de São Pedro de Alcântara, onde montou tendas estilizadas como casas e placas com dizeres como “Exceto turistas, nómadas digitais e vistos gold”, em crítica à especulação imobiliária e ao impacto do turismo nas moradias populares.
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