VÍDEO: Samara Felippo desabafa sobre caso de racismo contra a filha em escola: “Debate é urgente”

A atriz Samara Felippo, que denunciou um ataque racista contra a filha de 14 anos na escola em que estuda, em São Paulo, usou as redes sociais para fazer um desabafo. Ela explicou como o caso ganhou repercussão e ressaltou que o assunto precisa ser debatido com urgência. A artista ainda fez postagens pedindo ajuda para quilombos localizados em cidades afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul (veja mais detalhes no fim do texto).

Em um vídeo, Samara disse que as ofensas racistas feitas contra a filha ainda doem muito e pediu que toda a sociedade pare para refletir sobre o assunto (assista abaixo).

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“Eu nunca publiquei vídeo nenhum sobre o caso da minha filha. Tampouco fiz sensacionalismo com isso. Eu apenas desabafei, inconsolável, indignada, no grupo de pais da escola. Dali vazou e se espalhou. Bom, já não é mais sobre mim. A dor está aqui, a dor está na minha filha, mas se tornou um debate inflamado, cheio de juízes da internet, julgadores e detentores da razão. Sejamos sensatos. O debate é público e urgente”, começou a atriz.

“Dentro desse caso que aconteceu com a minha filha, mas acontece todos os dias com milhares de crianças e adolescentes pretos, existem muitas camadas e muitas perguntas. Como disse para mim Jaque Conceição, racismo é sobre poder. Poder político, psíquico, sexual, militar, jurídico, estatal, poder afirmar a supremacia branca”, disse Samara.

A atriz ainda argumentou sobre os motivos que levaram o ataque contra a filha dela a gerar tanta repercussão. “Será que se fosse uma mãe preta, anônima, ela estaria sendo ouvida? Será que estaríamos levantando esse debate tão efetivamente na internet ou seria mais uma mãe preta sendo invisibilizada e revivendo as dores que ela já sofreu através de seus filhos? E nada sendo feito”.

Samara destacou que racismo é um problema de gente branca. “A gente que precisa levantar a voz e trazer soluções para essa merd** que o nosso passado causou. A gente precisa saber reconhecer que todo corpo branco é potencialmente racista”, disse a atriz, que ainda citou uma série de privilégios que os brancos têm no seu dia a dia. “É preciso cobrar, aprender e ensinar, para que haja mais oportunidades para a população negra”.

A atriz pediu, ainda, que os pais cobrem que a história sobre a população afro-brasileira vire tema de aulas nas escolas. “Que as aulas tenham tantos negros quanto brancos entre os alunos, professores, diretores e coordenadores. Treinando constantemente funcionários para que ajam em combate ao racismo dentro das escolas”, disse.

Samara ressaltou que a discussão em torno do caso da filha se concentrou na expulsão ou não das agressoras da Escola Vera Cruz. “Mas não é sobre isso. Expulsar e não ensinar não adianta nada. Mas parece que a palavra expulsão para a classe média branca parece muito violenta, muito agressiva. Mudemos para ‘transferência’ (…) Eu sigo querendo saber se o que eu sinto é exagero, é extremismo, é violência. Mas isso foi o que fizeram com a minha filha”, destacou.

Samara disse que pediu a transferência das alunas exatamente para que elas entendam que cometeram um ato criminoso e, junto com seus pais, se informem e se reintegrem em outra escola, tendo consciência do que é o racismo. “Isso é importante para que se reconheçam como racistas e, futuramente, possam se aliar pela causa. Fora que isso ajuda a legitimar a dor da minha filha, a acolhê-la”.

Por fim, mesmo com o fato das agressoras terem deixado a escola, a artista diz que sua filha segue e um ambiente hostil. “Ficam os atuais amigos das agressoras questionando a dor da minha filha e justificando o ato racista. Minha filha nunca vai esquecer esse episódio, mas, para a branquitude, é vida que segue”, lamentou.

Relembre o caso

Em entrevista ao programa “Encontro”, da TV Globo, no último dia 29 de abril, Samara explicou o que aconteceu com a filha na Escola Vera Cruz, uma das mais tradicionais de São Paulo. “Na última segunda-feira, dia 22 [de abril], a minha filha teve o caderno roubado e as páginas arrancadas violentamente. Tinha um trabalho extenso de pesquisa que valia nota para ela. E dentro desse mesmo caderno tinha uma frase de cunho racista, grave e criminosa”, contou a atriz.

Ela registrou um boletim de ocorrência sobre ocaso e exigiu que a escola expulsasse as agressoras. Porém, a diretora da Escola Vera Cruz, Regina Scarpa, explicou os motivos de ter optado apenas pela suspensão.

“Eu não acho que a gente errou. A gente foi fiel àquilo que significa a essência do projeto [da escola], que é acreditar nas possibilidades de educação para as relações inter-raciais. Quando a gente tomou essa decisão, foi em função do contexto: o fato de elas [as autoras das ofensas] terem se apresentado imediatamente, a forma como as famílias se comportaram, reagiram”, explicou Regina.

A diretora ressalta que seria muito “mais fácil” optar pela expulsão, mas isso impediria que crianças e adolescentes negras e brancas convivam em harmonia dentro do ambiente escolar. Porém, após a repercussão negativa do caso, os pais das duas alunas envolvidas as transferiram para outras instituições de ensino.

Samara Felippo esteve na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, que instaurou uma investigação sobre o caso. Os trabalhos investigativos seguem em andamento.

Doações para quilombos

No meio das dores por conta do ataque sofrido pela filha, Samara Felippo usou seu perfil no Instagram para pedir ajuda para vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul, em especial, para quilombos. A atriz postou uma série de stories com dados de instituições que podem receber esses donativos.

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