Bolsonaro quis reunião com Forças Armadas após negativas ao golpe, diz ex-comandante

Carlos Augusto Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, revelou à Polícia Federal um episódio tenso envolvendo Jair Bolsonaro. Mesmo após constatar a oposição dele e do chefe do Exército a um golpe, Bolsonaro convocou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto em um sábado para discutir o assunto.

O ex-comandante tomou conhecimento da reunião durante uma formatura no Instituto Tecnológico da Aeronáutica, na noite de 16 de dezembro de 2023, sexta-feira, por intermédio do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno.

Embora a diplomação de Lula como presidente eleito já tivesse ocorrido em 12 de dezembro, mensagens interceptadas pela Polícia Federal indicam que o círculo golpista ao redor do ex-presidente considerava o dia 18 como prazo limite para uma tentativa de golpe.

Heleno, ao final da cerimônia de formatura, solicitou uma carona no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) a Baptista Júnior, informando sobre a reunião convocada por Bolsonaro para o sábado seguinte. O ex-comandante, que já havia manifestado sua posição contrária a qualquer tentativa de impedir a posse de Lula, estranhou a urgência da convocação e confrontou Heleno sobre sua presença na formatura do neto.

Durante uma conversa reservada, Baptista Júnior reafirmou sua posição contrária a movimentos antidemocráticos e solicitou a Heleno que transmitisse sua posição e a do comandante do Exército ao presidente. Segundo o depoimento, Heleno ficou surpreso e desconversou diante da firmeza do ex-comandante.

As investigações evidenciaram a agitação dos aliados golpistas de Bolsonaro, que consideravam o período como o prazo derradeiro para agir. Análises das mensagens também revelaram áudios de um militar da reserva não identificado, alertando sobre a proximidade do prazo para um golpe.