“Cidades-esponja”: arquiteto chinês aponta como conter enchentes no Brasil

Parque Sanya Mangrove em Hainan, na China, foi um dos projetos de Kongjian Yu. Foto: Turenscape

Eventos climáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, se tornarão mais frequentes e intensos, segundo os cientistas.

Para o arquiteto chinês Kongjian Yu, criador do conceito de cidades-esponja, para evitar ou mitigar esse tipo de tragédia é necessário parar de “lutar contra a água” e investir em soluções sustentáveis baseadas na natureza.

“Temos uma escolha a fazer: investir em grandes barragens e diques que estão fadados a fracassar ou apostar em algo que é duradouro, sustentável e ainda bonito e produtivo”, disse o decano da faculdade de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim em entrevista à BBC News Brasil.

Segundo Yu, é preciso criar espaços e infraestruturas capazes de absorver, reter e liberar a chuva de forma que ela retorne ao ciclo natural da água sem causar danos.

O conceito já foi aplicado em diversas cidades na China e na Tailândia, Indonésia e Rússia — e por outros arquitetos em todo o mundo.

“Funciona em qualquer lugar. As cidades-esponja são uma solução para climas extremos, onde quer que eles estejam”, afirmou. “E o Brasil pode se dar muito bem com elas, porque tem muitas áreas naturais, o que dá mais espaço para a água escoar”, prosseguiu.

O arquiteto destacou que o modelo das cidades-esponja não apenas previne inundações, mas também oferece benefícios durante períodos de seca, ao armazenar água para irrigação e sustento da vegetação urbana.

Para que esse conceito funcione, são necessárias três estratégias principais, segundo Kongjian Yu.

Arquiteto chinês Kongjian Yu. Foto: Turenscape via BBC

Contenção da água

A primeira estratégia é a contenção da água, que envolve reter a água assim que ela toca no solo através de áreas permeáveis e porosas, como lagos artificiais, valas e telhados verdes. Essas estruturas funcionam como uma esponja, absorvendo e retendo a água das chuvas.

Segundo Yu, em áreas cultiváveis, reservar 20% do terreno para operar como um sistema de açude é suficiente para impedir que o restante do lote seja inundado.

“Temos que aprender com a aquacultura como fazer essa terra fértil, quais culturas podem sobreviver e usar essas áreas para isso […] O arroz é um exemplo de uma plantação que pode funcionar”, afirmou.

Redução da velocidade

A segunda estratégia é desacelerar o fluxo da água. Em vez de tentar canalizar a água rapidamente para longe em linhas retas, rios tortuosos com vegetação ou várzeas reduzem a velocidade da água.

A criação de áreas verdes, parques e habitats para animais purificam a água escoada na superfície com plantas que removem toxinas poluentes e nutrientes.

Escoamento e absorção

Por fim, a terceira estratégia é adaptar as cidades para que elas tenham áreas alagáveis, para onde a água possa escorrer sem causar destruição.

“Em vez de construir barragens e ir acumulando a água em áreas de cimento, precisamos nos adaptar à água, deixa a cidade lidar com a água de forma saudável”, destacou Yu.

Plantas que absorvem água também podem ser usadas para dar conta do alto volume de chuvas. “A natureza se adapta. O conceito de cidade-esponja é baseado no princípio de que a natureza regula a água”, disse.

“Não é apenas a natureza em si. Sistemas feitos pelo homem devem ser certamente usados, mas a natureza deve ser dominante”, acrescentou.

Chegamos ao Blue Sky, clique neste link
Siga nossa nova conta no X, clique neste link
Participe de nosso canal no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link
Adicionar aos favoritos o Link permanente.