Moyseis Marques festeja 25 anos de carreira com “Na Matriz”

O cantor, compositor e instrumentista Moyseis Marques acaba de lançar o disco “Na Matriz”, pela gravadora Biscoito Fino

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Sem sombra de dúvida, a data merecia uma comemoração à altura, por tudo o que representa: 25 anos de uma bem sucedida trajetória na música brasileira. E foi assim que, para balizar o marco, o cantor e compositor Moyseis Marques – nascido em Juiz de Fora, mas desde a infância radicado no Rio – resolveu preparar um disco especial. Lançado pela Biscoito Fino no último dia 15, o álbum “Na Matriz” traz um chamariz de calibre – além, claro, do talento do artista. No caso, as participações de Mônica Salmaso, Fabiana Cozza, Mosquito, Maria Menezes e do grupo Ordinarius.

Ao todo, são 13 faixas, sendo 12 frutos de parcerias. Primeiramente, formadas com expoentes que são verdadeiros estandartes da MPB, como Nei Lopes, Moacyr Luz e Cristóvão Bastos. Tal qual, dobradinhas com o jornalista Luiz Pimentel, a poetisa paraibana Socorro Lira e o professor Luiz Antônio Simas. Do mesmo modo, Moyseis assina composições junto a contemporâneos como Khrystal, Zé Paulo Becker e Rudá Brauns, entre outros. Os arranjos levam a assinatura de Rafael Mallmith.

Sonoridade

Em termos de sonoridade, “Na Matriz”, de Moyseis Marques, transita por baiões, sambas, xotes, capoeiras e ijexás. Pitadas de jazz também se fazem notar. Na verdade, a entrevista do artista ao Culturadoria começou justamente pelo que norteou a seleção do repertório. “Bem, essa é a parte mais difícil do processo”, reconhece. Isso porque Moyseis é um compositor reconhecidamente profícuo. “Ou seja, se você tem dez músicas com um parceiro, cinco com outro, seis com outro… Somando tudo, quando você se dá conta, são, sei lá, 300, 400 músicas. E não dá para gravar tudo – e nem tudo é sobre nós”.

Estúdio

De todo modo, desde o início Moyseis tinha delineado, em mente, que queria um disco de estúdio. “(Inclusive porque) faz uma década que não gravo um assim. Os últimos anos foram só gravando ao vivo ou com pouca coisa, né? Tipo disco (no formato) voz & violão, ou um EP com poucas faixas. O ‘Desengaiola’ foi gravado ao vivo com uma instrumentação pequena. E teve um DVD, gravado ao vivo também. Ou seja, desta vez, eu de fato queria um disco de estúdio”.

Entre as músicas que compôs neste 25 anos de estrada, Moyseis escolheu representantes de variadas fases. “Assim, tem músicas mais antigas, outras mais novas… E nessa ‘escolha de Sofia’, que é esse trabalho de escolher repertório, acabei priorizando as texturas. Ou seja, queria um colorido musical que tornasse a audição prazerosa, que não ficasse sempre na mesma textura, na mesma instrumentação. Então acabou sendo um disco repleto de brasilidades”.

O artista conta que variou os parceiros e arranjos, que, como dito, são de Rafael Malmith. “Tem música que tem sete cordas, tem música que tem um cavaquinho, tem um vibrafone na faixa ‘Móbile da Insônia’, tem naipe de cordas, de metais. Então, é um disco rico, musicalmente falando”.

Buquê

“Ou seja, o principal critério para a escolha do repertório foi esse: texturas. E, assim, foi formado esse buquê de 13 canções, que abarca xotes, baiões, ijexás, sambas de todos os estilos (samba jazz, samba de partido alto, samba canção). É isso, afro-religiosidades, capoeiras, todas as coisas que me formaram e que delinearam minha trajetória nesses 25 anos de exercício como músico profissional”. Na verdade, a história do disco começou com o lançamento do single “Na Matriz”, em 2022.

Depois veio o single “Maxixe Santa Cruz”, que saiu no Carnaval de 2023, e que, segundo ele, acabou impulsionando todo o resto do disco. O terceiro single, “Samba Luz”, chegou nas plataformas no dia 29 de fevereiro desse ano. “Ou seja, foi um processo muito atípico, um single por ano, e em seguida o leque de 13 canções de minha autoria com parceiros da nova e da antiga geração”.

“A Fonte”

A faixa número um – “A Fonte” – é a única na qual ele assina música e letra. O que Moyseis chama de “lavra solitária”. “A letra fala sobre esse voto de renovação que aqueles que decidem fazer arte no Brasil fazem todos os dias, em frente ao espelho. E, assim, o disco começa com uma pergunta: ‘De onde vem a poesia que sustenta a minha fé?’ Ou seja, de onde vem a inspiração para que a gente possa dar continuidade ao hábito e ao prazer da criação. Ainda que não se saiba para onde essa criação irá”.

Um outro ponto faz com que Moyseis tenha especial carinho por essa canção em particular. “Ela também é uma homenagem à minha companheira, Paula. São 13 anos ao meu lado, me aturando”, diz.

“Coração de Lona”

Uma outra música que ele destaca é “Coração de Lona”, última a entrar no disco, e que é uma parceria com Cristóvão Bastos. “Ele é um maestro, um ídolo, que, mais tarde, virou amigo e, daí, parceiro… A música seria um samba de roda, mas acabou virando um ijexá. E é uma espécie de ‘Xote das Meninas 2’. Assim, fala sobre os dilemas de alguém que ainda não sabe lidar com as coisas inerentes ao amor. Desse modo, desconta em todo mundo que mora com ela, que está na casa dela, que é próximo dela”.

Essa faixa, aliás, é a que conta com a participação de Mônica Salmaso. “Assim que eu terminei de fazer a letra dessa música, escutei a voz dela. A lona é uma coisa que a gente usa para fazer os sambas aqui, no Rio de Janeiro, para se proteger da chuva. Mas ela não protege totalmente”.

Forró das Cidades

A faixa “Forró das Cidades” é uma parceria com Nei Lopes. “Um gênio. Já vou para mais de dez parcerias com o professor. Aqui, ele fez um forró pra mim, e me deu essa letra no aniversário de 80 anos dele. Pedi a ele, com todo o respeito, se eu poderia incluir, na letra, as cidades do Sudeste, porque já faz tempo que essa região é responsável por boa parte do forró pé-de-serra que se consome no Brasil. Então, pedi para incluir as cidades do Sudeste, do sul da Bahia e também de Curitiba”.

Moyseis lembra que, como um forrozeiro nato que se considera, constata que, hoje em dia, a capital do forró pé-de-serra no Brasil é Itaúnas, no Espírito Santo. “Inclusive, os grandes artistas do Nordeste vão todos para lá, tanto no meio quanto no fim do ano, quando acontecem os festivais”. O artista diz ser a faixa mais curta do disco. “É uma música radiofônica, que já vem sendo cantada por aí, é meio um sucesso instantâneo”.

“Enfim, destaco essas três, mas amei o meu disco inteirinho. Até porque, o repertório todo foi escolhido com a participação do público. É que boa parte dessas músicas foram compostas durante a pandemia, e, aí, vieram as lives, né? ‘Móbile da Insônia’, por exemplo, virou tema de um monte de gente”.

Convidados

Perguntado sobre os convidados, Moyseis conta que, desde o início, queria pessoas com as quais tivesse intimidade. “Gente com quem eu conseguisse falar ao telefone, se é que você me entende. Ou seja, artistas que têm a ver comigo, com a minha carreira, com a minha história. Gente que me respeita, que me admira e que não iam criar nenhum tipo de dificuldade. Aliás, que inclusive não iriam se constranger em dizer ‘não’, caso não pudessem participar, à época”. E sim, ele entende que, ao fim, atingiu o propósito.

Neste rol está, por exemplo, a cantora Fabiana Cozza, que ele considera como companheira de caminhada profissional, e que também completou 25 anos de carreira. No disco, ela canta “Bem Que Mereço”. “É uma música filosófica, quase autobiográfica. Uma sobreposição de clichês que a Fabiana também assimilou para ela e cantou com muita dignidade. Na verdade, ela já vinha cantando essa música. Daí, a vi num vídeo no Instagram e a convidei para cantar comigo”.

Mônica e Mosquito

Mosquito, por seu turno, solta a voz em “Maxixe Santa Cruz”. “Ele é carioquíssimo como eu, daqui da Ilha do Governador. E no caso de ‘Maxixe Santa Cruz’, como tem um refrão que repetia muito, achei que tinha um featuring ali, uma outra pessoa cantando comigo. E o Mosquito caiu como uma luva. Fiz o convite e ele adorou”.

Mônica Salmaso, ele tem como uma das maiores cantoras do Brasil. “Com ela, eu não tenho tanta intimidade, mas já tinha gravado o Ô de Casas, projeto dela de pandemia. Na época em que apresentei a ela essa canção com o Cristóvão, ela estava gravando o disco com Dori Caymmi, estava excursionando com o Chico Buarque… Mas fui vê-la no Vivo Rio e fiz o convite. Para a minha felicidade, ela aceitou”.

E mais

Maria Meneses, por sua vez, é cantora do grupo Arruda, “um dos mais expressivos de samba a atualidade aqui, no Rio de Janeiro”. Moyseis conta que o Arruda já havia lhe convidado para gravar com eles. “Ou seja, tenho uma relação muito próxima, há uma admiração mútua. Então, agora tive a possibilidade de devolver o convite”. Não bastasse, ele lembra que Maria também é filha de Oxum, “assim como eu”. Desse modo, eles gravaram “Mãe do Oriri” (Moyseis Marques e Luiz Antônio Simas).

Finalmente, tem o grupo Ordinarius, que marca presença em “Margens Tortas, parceria com Socorro Lira. “Achei que o arranjo merecia um grupo vocal, porque desde que fiz a melodia, imaginei um violino tocando e as vozes se abrindo. Assim, achei que eles deram um tempero, um colorido muito especial à faixa”.

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