Pagers do Hezbollah: entenda o ataque que deixou 10 adultos e 2 crianças mortas

Ambulância chegando a hospital após ataques com pagers no Líbano. Foto: EPA

Uma série de explosões quase simultâneas de pagers usados pelo Hezbollah para comunicação deixou milhares de feridos no Líbano na terça-feira (17), causando caos em várias regiões do país.

O grupo libanês, amplamente reconhecido como uma organização militar e política, acusou Israel de estar por trás do ataque, que resultou na morte de 12 pessoas, incluindo duas crianças, e feriu aproximadamente 2.800, muitas em estado grave, segundo a BBC News Brasil.

Quando e onde ocorreram as explosões?

As detonações começaram por volta das 15h45 (horário local), atingindo várias regiões do Líbano, incluindo a capital Beirute. A destruição se espalhou rapidamente, com testemunhas relatando cenas de terror e confusão nas ruas. “Primeiro vimos uma fumaça saindo dos bolsos das pessoas, e então houve uma série de explosões, como fogos de artifício”, disse uma testemunha à Reuters.

Um vídeo de segurança gravado em uma loja de conveniência capturou uma dessas explosões, mostrando o momento em que um homem no caixa é atingido pela explosão de seu pager. Ao longo da próxima hora, várias outras explosões foram relatadas em outras localidades.

“As vítimas chegaram aos hospitais com mãos mutiladas e rostos feridos. Algumas cenas são horríveis, muitas pessoas perderam todos os dedos”, relatou um funcionário do Centro Médico LAU.

Como os pagers explodiram?

Uma das maiores questões levantadas após o ataque foi: como esses dispositivos de comunicação foram armados e explodiram de forma simultânea? Embora o Hezbollah não tenha fornecido detalhes claros, fontes de segurança no Líbano e nos EUA, citadas pela Reuters, sugerem que o Mossad, serviço secreto israelense, teria conseguido infiltrar explosivos em pagers fabricados em Taiwan e adquiridos pelo Hezbollah.

“O Hezbollah recebeu uma nova remessa desses dispositivos nos últimos dias”, revelou uma fonte ao Wall Street Journal. “Alguns dos usuários notaram que os pagers começaram a esquentar momentos antes de explodirem”.

Um ex-especialista britânico em explosivos disse que os dispositivos poderiam conter até 20 gramas de explosivos militares, disfarçados em componentes eletrônicos. “Os explosivos podem ter sido acionados por um sinal enviado remotamente, talvez por mensagens de texto, que ativaram os dispositivos assim que os pagers fossem utilizados”, explicou o especialista.

Quem é o responsável pelas explosões?

Quem estaria por trás desse ataque em larga escala? O Hezbollah imediatamente culpou Israel, acusando o país de realizar o que chamou de “agressão criminosa”. Em um comunicado oficial, o grupo afirmou que “Israel é totalmente responsável por essa atrocidade” e prometeu retaliação, declarando que “este inimigo traiçoeiro será punido severamente”.

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, também condenou o ataque, chamando-o de uma “violação grave da soberania do Líbano”, enquanto políticos locais manifestaram solidariedade às vítimas. Israel, no entanto, não comentou diretamente as acusações, mantendo-se em silêncio, uma postura típica em incidentes sensíveis de segurança envolvendo o Hezbollah.

Soldados do Exército libanês bloqueando a entrada de um subúrbio ao sul de Beirute após as explosões.
Soldados do Exército libanês bloqueiam a entrada de um subúrbio ao sul de Beirute após as explosões. Foto: AFP

Especialistas sugerem que, embora o Hezbollah tenha sofrido um golpe pesado, o ataque mostra o alto nível de infiltração israelense nas redes de comunicação do grupo.

“O Hezbollah sempre utilizou tecnologia mais simples para evitar monitoramento, mas esse incidente sugere que sua segurança foi profundamente comprometida”, disse Simon Mabon, analista da Universidade de Lancaster.

Por que o Hezbollah usa pagers?

Diante das explosões, uma pergunta central surge: por que o Hezbollah continua a utilizar pagers em vez de outros métodos de comunicação? O grupo opta por essa tecnologia antiga porque pagers são considerados mais difíceis de serem monitorados e rastreados por serviços de inteligência, como o israelense.

Telefones celulares, por exemplo, são frequentemente interceptados e, em alguns casos, armados com explosivos, como no assassinato do fabricante de bombas do Hamas, Yahya Ayyash, em 1996.

No entanto, as explosões desta semana podem forçar o Hezbollah a reconsiderar sua estratégia de comunicação. “Essa violação não é apenas física, mas também abala a confiança do Hezbollah em seus próprios sistemas de comunicação”, comentou Emily Harding, ex-analista da CIA, à BBC.

Qual o impacto das explosões no conflito entre Hezbollah e Israel?

Esse ataque pode aumentar ainda mais a tensão entre Israel e Hezbollah, em um momento em que o conflito entre os dois já se arrasta há meses, principalmente com ataques esporádicos na fronteira. O Hezbollah tem mantido uma campanha de apoio militar e logístico ao Hamas, aliado iraniano na região, intensificando as tensões com Israel.

Três mulheres caminhando de braços dados em direção a um hospital.
Três mulheres chegam a um hospital em Beirute para receber notícias de parentes, após as explosões. Foto: EPA

“A dimensão e a precisão desse ataque podem levar o Hezbollah a retaliar com mais intensidade”, disse Nicholas Blanford, especialista em Oriente Médio do Atlantic Council, à BBC News Brasil. “Este momento é um dos mais perigosos no conflito Hezbollah-Israel desde os combates intensificados em outubro”.

Os próximos passos do Hezbollah, assim como a resposta de Israel, serão cruciais para definir o rumo do conflito no Líbano e no Oriente Médio. Ambos os lados agora enfrentam uma escalada potencial de violência que pode ultrapassar os limites da guerra de baixa intensidade e atingir um novo patamar.

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