O que vai sobrar do extremista que está montando mais uma farsa. Por Moisés Mendes

Pablo Marçal (PRTB) durante o debate do SBT. Foto: reprodução

Os assessores de Pablo Marçal não o alertaram de que a sua nova versão moderada deveria estrear, no debate do SBT, sem a atadura de gaze no punho. O curativo exagerado não ajuda a vendê-lo como uma figura em aparente arrependimento pelos excessos que cometeu até agora.

Qual é a nova versão do Marçal que vem aí, depois dos pedidos de moderação aos adversários, para que mantivessem o debate, acreditem, em alto nível?

Quem é o cara que deu uma das declarações mais surpreendentes da campanha, ao dizer que já apresentou, por tática planejada, a pior versão de si mesmo e que agora o eleitor verá alguém que tem postura de governante?

A primeira etapa da campanha foi a das crueldades contra os adversários, e agora teremos o Marçal gestor. Esse resolverá os problemas das cracolândias, dos casebres de lata e dos assaltos, sempre com suas ferramentas do empreendedorismo e da meritocracia da prosperidade.

Parece óbvio que o sujeito reavaliou a linha da campanha ao perceber que a rejeição saltou para 47%. Como ele mesmo se declara um autor de frases e atitudes idiotas dirigidas a idiotas, com mais três pontos (e qualquer idiota sabe disso), perde a eleição antes da votação.

Os mais crédulos, inclusive colegas jornalistas, repetem que Marçal é um estrategista e vai recalibrar o discurso em busca do equilíbrio, depois de ter cometido o erro de ser excessivamente Marçal.

Mas será que foi mesmo erro? Um coach veterano, com boa compreensão do temperamento do cocheado, poderia ter dito a Marçal que ele deveria evitar os danos de cadeiraços. Que começasse a andar para o centro, porque já contava com eleitores fiéis.

Mas Marçal queria continuar subindo a Serra da Mantiqueira, quando esperavam que recuasse, e aconteceu o previsto. A maior rejeição entre os candidatos, a insegurança para acertar o tom no debate e a exposição de uma farsa. Não há bombeiros para salvá-lo.

Até a cadeira de Datena notou no SBT que Marçal estava tentando construir uma personagem forjada, sem saber direito como montaria o teatro da moderação. Tanto que, quando se esqueceu de que era outra pessoa, voltou a atacar Nunes, Datena e Tabata.

O ex-coach e candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB). Foto: Reprodução

Marçal disse ter examinado o caráter dos oponentes e se convencido de que é um ser superior, porque os outros não são viáveis moralmente, espiritualmente e fisicamente. Os outros, disse, são os palhaços, não ele.

Mas quem é de fato Pablo Marçal como força política e criatura à margem do comando bolsonarista, se sabemos apenas o que ele foi antes de virar candidato? O que irá sobrar de Marçal, se ficar pelo caminho e não chegar ao segundo turno?

Bolsonaro e os filhos sabem que sobrará pelo menos um incômodo na estrutura dirigente e nas bases do fascismo, mesmo que Tarcísio de Freitas e Nunes venham a ser os donos absolutos do Estado e da capital.

Marçal erguerá, mesmo derrotado, uma oposição nas entranhas da extrema direita, coisa que o bolsonarismo não teve até agora. Esse Marçal moderado dura até o dia da sua permanência na disputa.

O que vem depois, se o sistema de Justiça não sacrificá-lo, é imprevisível. O bolsonarismo que cresceu pregando contra o sistema vai depender desse mesmo sistema para conter seu novo inimigo.

Só os meios oferecidos pela política não conseguirão detê-lo. Hoje, todos juntos, os filhos e as facções ao redor de Bolsonaro são pequenos diante de Pablo Marçal.

Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes

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