Militares são escolhidos para se relacionar com políticos “até chegar em grau de amizade”

O general Eduardo Ramos e o senador Davi Alcolumbre – Foto: Reprodução

Tradicionalmente vistos como defensores das fronteiras e protetores da soberania nacional, hoje um número significativo de militares está inserido em funções burocráticas, distantes da imagem do combatente de uniforme camuflado e armado. Um exemplo claro dessa mudança é a atuação de militares como assessores parlamentares, função que, segundo dados fornecidos pelo Exército Brasileiro à Revista Sociedade Militar, já é ocupada por 21 militares, entre oficiais e graduados, no Congresso Nacional.

A presença de militares no Legislativo, conforme destacou o ex-comandante do Exército, General Villas Bôas, tem como objetivo a criação de alianças que beneficiem a instituição. Em suas palavras, “há uma máxima na política segundo a qual ninguém é tão aliado que você não possa romper, nem tão adversário que não possa aliar-se”. Isso reflete uma estratégia de relacionamento e influência, que vai além da simples defesa da nação.

Durante entrevista ao antropólogo Celso Castro, Villas Bôas compartilhou um pouco das estratégias adotadas por essas assessorias parlamentares. Ele destacou a importância de “fazer um relator”, uma ação que visa garantir que os projetos de lei sejam conduzidos de forma favorável aos interesses do Exército, assegurando um processo legislativo sem desgastes para os parlamentares envolvidos. Para que essa confiança seja construída, o caminho é longo e envolve articulação com parlamentares em nível local, começando pelos comandos militares nas capitais, onde assessores também atuam diretamente.

Conforme informações do Exército Brasileiro, além dos 21 militares atuando diretamente no Congresso, existem outros 26 oficiais superiores, designados como Prestadores de Tarefa por Tempo Certo (PTTC), que prestam assessoria parlamentar em diversas regiões do país. Esses militares, já na reserva remunerada, retornam ao serviço público mediante convite, recebendo um adicional de um terço sobre seus proventos de inatividade. Um coronel PTTC, por exemplo, que atua como assessor legislativo, recebe cerca de 8 mil reais além de sua aposentadoria.

As funções desses assessores parlamentares são diversas e incluem desde o acompanhamento das atividades do Poder Legislativo até a supervisão de proposições que possam afetar o Exército Brasileiro. Entre suas principais responsabilidades, destacam-se:

– Fornecer suporte e assessoria ao Comando do Exército em diferentes níveis;

– Monitorar as atividades legislativas nas respectivas esferas de atuação;

– Informar sobre as particularidades e interesses da instituição militar;

– Supervisionar o andamento de propostas legislativas, com especial atenção àquelas que impactam diretamente o Exército.

Em sua entrevista, Villas Bôas também revelou um aspecto interessante do trabalho desses assessores: a análise detalhada do perfil de cada parlamentar e demais atores envolvidos no processo legislativo, como diretores de mesas, assessores e líderes partidários. Esse mapeamento é crucial para que o Exército saiba com quem está lidando e possa atuar de forma estratégica no Legislativo.

O general Eduardo Villas Bôas – Foto: Reprodução

Porém, o general reformado também apontou um fator importante: muitas vezes, esses parlamentares demandam contrapartidas. Ou seja, o apoio político tem seu preço, e os militares, ao adentrarem esse universo, precisam estar preparados para lidar com as complexidades e exigências desse ambiente.

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