Governo da Nova Zelândia coloca em risco língua Māori , diz autoridade do país

Jogadores da Nova Zelândia realizam o Haka, danças típica do povo Maori, antes de partida de rúgbi REUTERS/Esa Alexander

A comissária da língua Māori da Nova Zelândia, Rawinia Higgins, alertou que as políticas governamentais que restringem o uso da língua indígena no serviço público representam um risco para os esforços de revitalização que já duram 50 anos décadas. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Higgins afirmou que “qualquer afronta aos esforços que temos feito deve ser levada a sério”.

A Semana da Língua Māori, realizada em setembro deste ano, acontece em um contexto de relações tensas entre os Māori e o governo de coalizão da Nova Zelândia, cujas políticas têm sido criticadas por líderes Māori como uma forma de rebaixar a língua, conhecida como te reo, a um status secundário. Desde que assumiram em dezembro passado, vários ministros ordenaram que seus departamentos parassem de usar nomes em Māori, e alguns ministérios pediram que os funcionários evitassem o uso do te reo em documentos e comunicações.

Um dos partidos da coalizão do atual governo, o NZ First, planeja apresentar um projeto de lei para tornar o inglês em língua oficial, apesar de já ser a principal língua da Nova Zelândia. O primeiro-ministro, Christopher Luxon, afirmou ser um defensor do te reo.

“Na Nova Zelândia, temos a sorte de ter essa língua e estou feliz em celebrá-la”, escreveu Luxon em uma postagem no Facebook. Ele defende que as políticas do governo visam tornar o serviço público mais acessível. No entanto, Higgins alertou que essas políticas enviam uma mensagem preocupante sobre o status da língua na sociedade.

“A maioria dessas políticas não está fundamentada em uma estratégia de revitalização da língua. Dar destaque sinaliza status”, disse Higgins. Ela enfatizou que isso não representa uma ameaça ao inglês, mas sim uma afirmação da importância do te reo. “Trouxemos a língua de volta da beira do abismo. Apesar das afrontas, temos que continuar.”

Políticas de assimilação entre as décadas de 1930 a 1950 quase extinguiram a língua, com pesquisas do governo na década de 1970 mostrando que menos de 5% das crianças Māori conseguiam falar te reo.

Em 1972, uma petição de estudantes universitários desencadeou um movimento de protesto que levou ao que é conhecido como o “renascimento Māori”, resultando na criação de escolas de imersão e no reconhecimento do Māori como língua oficial. Hoje, uma em cada cinco pessoas Māori fala a língua com algum nível de proficiência.

Um estudo recente revelou que cerca de uma em cada 25 pessoas na Nova Zelândia possui algum nível de proficiência em te reo. As matrículas em cursos de te reo Māori aumentaram em 93% na última década, com interesse crescente tanto de Māoris quanto de não-Māoris.

Rachael Ka’ai-Mahuta, co-líder do projeto, afirmou ao Guardian que a pesquisa visa desenvolver intervenções e recursos eficazes para a revitalização Māori. “Não acredito nas narrativas de morte em torno do te reo – acho que ele tem um futuro brilhante”, disse ela.

Embora o governo esteja implementando políticas que limitam a língua no serviço público, o te reo Māori nunca foi tão popular. As listas de espera para aulas são extensas, músicas em Māori frequentemente lideram as paradas do país, e estúdios de Hollywood estão lançando versões de filmes em Māori.

Recentemente, várias palavras Māori que se tornaram populares foram incluídas no dicionário Oxford de inglês neozelandês, como mahi (trabalho), tikanga (costumes) e waka jumping, um termo político que se refere à mudança de partidos. No entanto, Higgins advertiu que a língua “ainda não passou por um ponto de virada onde esses ganhos não possam ser perdidos”.

“Nossos esforços de revitalização da língua começaram com protestos. É justo dizer que algumas campanhas que surgiram têm se oposto aos nossos esforços. Este é um chamado à ação para lembrar as pessoas de que ainda estamos nessa jornada”, disse Higgins ao Guardian, reafirmando a importância do te reo como um marcador definidor da identidade do país. “Precisamos abraçar isso.”

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