A sofisticação da série “Ripley”, da Netflix

Série em P&B baseada na célebre obra da escritora Patricia Highsmith, “Ripley” impressiona pela sofisticação dos enquadramentos e pelas atuações

Patrícia Cassese | Editora Assistente

“Vedi Napoli e poi muori”. A célebre frase de Goethe – “Ver Nápoles e depois morrer” – pode ser perfeitamente entendida por quem está acompanhando (ou já findou) um dos mais recentes lançamentos da Netflix: a série “Ripley”. Baseada no romance policial lançado por Patricia Highsmith (1921-1995) em 1955, a produção desnovela belíssimas paisagens da Campania, em particular, das cidades de Nápoles e Atrani (embora algumas locações que aparecem na tela como sendo de Atrani tenham, na verdade, sido giradas em Capri, que também é “logo ali”, digamos assim).

A história, muitos sabem, é um thriller que se tornou clássico.

A sofisticação do P&B

Fato, na produção Netflix, o diretor Steven Zaillian fez uma opção de certa forma ousada: contar a história de Tom Ripley por meio de imagens em P&B. Antes de o espectador apertar o play, pode soar meio estranho, principalmente quando o que está como cenário diante das câmeras é a beleza de uma região que é cantada em verso e prosa há tempos: o golfo de Nápoles, com o Vesúvio e a própria ilha de Capri, a costa amalfitana como um todo… A própria Atrani parece ser belíssima.

No entanto, os frames da série são de tirar o fôlego. A vontade que dá é a de printar cada cena e emoldurar o resultado. Em cada frame, tudo parece ser milimetricamente estudado, pensado. Tudo resvala estudo e gera impacto, das cenas rodadas em interiores de apartamentos, hotéis ou casas, às externas. O próprio mar e o seu movimento ficam belíssimos em P&B, aqui. No caso das belezas naturais e de nuances da arquitetura, não há como, ao fim, não ter vontade de afivelar as malas e partir para conhecer o principal cenário no qual Ripley dá vazão à sua psicopatia.

Elenco

O elenco da série “Ripley” é capitaneado por Andrew Scott, no papel do próprio Tom Ripley, o sofisticado psicopata da trama. O ator irlandês, ressalte-se, é muito lembrado por sua participação na genial “Fleabag”, série na qual interpretava o padre pela qual a personagem de Phoebe Waller-Bridge se apaixona. Mas ele também está no recentíssimo filme “Todos Nós Desconhecidos”, no qual divide a cena com Paul Mescal.

O cast de “Ripley” também traz Johnny Flinn, como o herdeiro Dickie Greenleaf, alvo da cobiça e da inveja de Ripley. Não bastasse, a belíssima Dakota Fanning, como Marge, a namorada de Dickie. Participações especiais da italiana Margherita Buy e, no último capítulo, do veterano John Malkovich. No mais, uma trilha sonora maravilhosa, principalmente para quem gosta da música italiana dos anos 1960 – não estranhe se a canção “Quando, quando, quando” grudar na cabeça por uns dias.

Os atores Dakota Fanning e Johnny Flynn em cena de "Ripley" (Netflix)
Os atores Dakota Fanning e Johnny Flynn em cena de “Ripley” (Netflix)

Trama

Na narrativa, Tom Ripley é contratado para ir ao Sul da Itália e tentar convencer Richard (Dickie) Greenleaf a voltar para os EUA, já que os pais dele não se conformam com a distância do herdeiro. A cidade destino é Atrani. Desse modo, desde o início parece o emprego dos sonhos para quem, até então, estava vivendo na corda bamba. No entanto, ao travar contato com o rapaz, Ripley percebe que Dickie parece decidido a ficar mesmo por lá. Porém, se faz de desavisado, para seguir vivendo o dolce far niente. Ao mesmo tempo, Tom fica fascinado pelo modo de vida de Dickie, bem como pelos sapatos Ferragamo dele e por outros acessórios, incluindo uma sofisticada caneta.

Quando o pai de Dickie percebe que está rasgando dinheiro e que o filho não quer saber dos EUA, convoca Ripley a voltar, sob o argumento de que não vai mais enviar dinheiro. Daí, Tom resolve tomar uma atitude drástica. Mas, como já insinuado aqui, não é só o dinheiro que o move. Neste ponto, já está claro, claríssimo, que Ripley desenvolveu uma obsessão pelo estilo de vida do herdeiro, pelos seus modos sofisticados.

Outros filmes

O que se segue já é sabido por quem leu o livro ou por aqueles que assistiram a um ou aos dois filmes derivados da história de Highsmith. Estamos falando, claro, de “O Talentoso Ripley” (1999) e de “O Sol por Testemunha” (1960). Dirigido por Anthony Minghella, “O Talentoso Ripley” traz Matt Damon como o vigarista, enquanto Jude Law se incumbe do herdeiro. O elenco também traz Gwyneth Paltrow, Cate Blanchett e o saudoso Phillip Seymour Hoffman.

Já “O Sol por Testemunha”, como também todos sabem, foi protagonizado por Alain Delon, na pele de Ripley. Com direção de René Clément, o filme trazia, no elenco, Marie Laforêt, como Marge, e Maurice Ronet como Dickie. Em tempo: “O Talentoso Ripley” também está no catálogo Netflix.

Por último, mas não menos importante, além de Nápoles, Capri e Atrani, a série “Ripley” traz cenas em Roma, Palermo e Veneza. Um primor. 

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