G20 pode ajudar a trazer capital privado para construção de economia inclusiva

Faltando poucos dias para a Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, são grandes as expectativas sobre os temas que serão discutidos entre as lideranças presentes. O grupo das principais economias do mundo concentra dois terços da população e 85% do PIB global. Logo, é um encontro que define paradigmas sobre os assuntos tratados, com alinhamento entre as nações participantes e, via de regra, estratégias de implementação definidas. 

Ao longo do último ano, o G20 pelo Impacto (G20FI, na sigla em inglês), coalizão formada no momento em que chegou a vez do Brasil presidir o G20, elaborou um conjunto de recomendações estratégicas para serem levadas aos líderes globais. A coalizão reúne 50 organizações nacionais e internacionais, que alcançam mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. O grupo preparou propostas de transição para o que chama de uma economia inclusiva, equitativa e regenerativa. 

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Marcel Fukayama, coordenador do G20 pelo Impacto, acredita que as contribuições da coalizão têm chance de ser destacadas na declaração dos líderes, a ser feita na próxima terça-feira (19), na conclusão da reunião da Cúpula. 

“Entrando ou não na declaração de lideranças, nossa expectativa é que essas pautas continuem sendo trabalhadas”, afirmou Fukayama, que é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da presidência da República, o “Conselhão”. Ele também é co-fundador da Din4mo, organização sem fins lucrativos que coordena o G20FI.

Marcel Fukayama, coordenador do G20 pelo Impacto (Crédito: Divulgação)

Fundo híbrido para atrair capital privado

A coalizão está alinhada com os temas-chave definidos pela presidência brasileira para o encontro, como desenvolvimento sustentável, inclusão social e cooperação global. As propostas do G20FI visam atrair capital privado para o enfrentamento de crises climáticas. Entre elas, está a criação de um fundo global de finanças híbridas, combinando capital público e privado. 

“O blended finance promove mitigação de risco sistêmico e alavancagem de capital privado”, explica Fukayama. “Se a gente de fato atrair capital filantrópico  ou público de maneira catalítica [assumindo os riscos], vamos conseguir capital comercial na escala que precisamos para fazer a transição econômica”.

Apoio à taxação de fortunas

O G20FI propõe ainda uma reforma de governança global para deixar os bancos de desenvolvimento mais responsáveis, sobretudo em casos de emergência climática.  A coalizão também apoia a proposta de taxação de grandes fortunas elaborada pelo economista francês Gabriel Zucman, que ficou conhecido como “guru tributário” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. 

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“Nossa recomendação é que isso seja implementado de maneira coordenada. Não adianta um ou outro país do G20 fazer de forma isolada, pois evidências que se um faz e outro não, gera evasão de riqueza”, afirma o coordenador do G20FI. “Precisamos de um organismo internacional que dê governança e coordene a implementação dessa proposta”.

Fukayama não acredita que essa será uma proposta que vai ser aprovada na Cúpula deste ano, mas vê potencial para o G20 do ano que vem, na África do Sul. Os avanços no Brasil, segundo ele, devem ser a criação de aliança global contra a fome e a pobreza e um entendimento comum sobre a bioeconomia.   

O futuro com Donald Trump

Questionado sobre o futuro da pretendida transição econômica com Donald Trump na presidência dos Estados Unidos (país que sediará o G20 em 2026), Fukayama vê uma maior abertura do governo republicano ao diálogo. 

“É uma administração que, pelo menos, deixou de ser negacionista com relação à mudança climática”, afirma. “Espero que isso crie uma sensibilização na administração para um diálogo melhor e mais qualificado. Também espero uma pressão ainda maior da sociedade do mercado sobre a administração Trump”.

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