PF: apurações sobre ataque ao STF indicam articulação de ‘grupos reacionários’ no Brasil

Diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues, disse, nesta quinta-feira (14), que as explosões registradas em Brasília (DF) na quarta (13) são graves e contêm indícios de que resultaram de um “planejamento de longo prazo”. O dirigente afirmou ainda que o responsável pelas explosões estava na capital federal desde julho, em média, mas já havia estado na cidade “em outras oportunidades”. O diretor afirmou, ainda, que as primeiras informações demonstram o grau de articulação de militantes reacionários no país.

“Inclusive, segundo relatos de familiares, ele estava aqui no começo do ano de 2023. Ainda é cedo pra dizer se houve participação direta [dele] ou não nos atos de 8 de janeiro – isso a investigação apontará –, mas a pessoa estava aqui no começo do ano”, acrescentou Rodrigues.

Em coletiva de imprensa, o diretor da PF também informou que os agentes da corporação localizaram alguns achados na casa que havia sido alugada recentemente por Francisco Wanderley Luiz na Ceilândia (DF), região administrativa que fica a cerca de 30 km da Praça dos Três Poderes, ponto onde o homem faleceu após detonar os explosivos na noite de quarta.

“Hoje, na residência, havia uma mensagem escrita nas paredes, no espelho da residência, fazendo menção a um ato de pichação que foi feito no 8 de janeiro na estátua da Justiça [em frente ao STF]. E aí é importante se dizer que não é só um ato de pichação. Ali é um ato gravíssimo que atenta contra o Estado democrático de direito – essa pessoa está presa até o presente momento – e que mostra a vinculação desses grupos radicais, [cujas ações] culminam na barbárie que aconteceu ontem, na tentativa de matar ministros da Suprema Corte e também que culminou com esse lamentável episódio do suicídio desta pessoa”.

Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiü França. Foto: Reprodução

Articulação

Para Rodrigues, as apurações até o momento “apontam que esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica, não só a PF, mas todo o sistema de Justiça criminal, porque entendemos que esse episódio de ontem não é um fato isolado, mas é conectado com várias outras ações que a PF tem investigado no período recente”, disse o dirigente, sem detalhar tais apurações.

O dirigente afirmou ainda que Francisco Wanderley Luiz tinha 59 anos, era chaveiro de profissão, natural de Santa Catarina (SC) e estava em Brasília há cerca de “três ou quatro meses”. Ele também foi candidato a vereador pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2020. A PF destacou que as investigações sobre o caso e a morte do homem envolveram, desde os primeiros momentos, equipes de perícia, papiloscopia e de “investigação antiterrorismo”. Os agentes buscam neste momento identificar a origem dos explosivos, mas anteciparam que ele utilizou “artefatos artesanais” com “grau de lesividade muito grande”.

“Isso, de fato, poderia causar um dano ainda maior, se houvesse o intento concluído dessa pessoa. Além disso, essa pessoa portava um extintor de incêndio carregado de combustível de gasolina, que simula um lança-chamas e estava com ele no momento, o que aponta, reitero, a gravidade dessa situação que encontramos”, sublinhou Rodrigues, acrescentando que no carro de Wanderley Luiz, que explodiu durante o atentado, foram encontrados “vários fogos de artifício apoiados em tijolos”. “Nossa equipe está trabalhando neste momento num outro achado, que foi uma caixa encontrada nas proximidades. Estamos analisando e verificando se pertence a esse mesmo episódio”, informou o diretor-geral da Polícia Federal”, emendou.

A PF disse ainda que as ações iniciadas na quarta-feira pelos agentes de segurança terão desdobramentos ao longo dos dias. “Determinei instauração de inquérito policial e o encaminhamento [do caso] à Suprema Corte, em razão das hipóteses criminais de atos que atentam contra o Estado democrático de direito e também de atos terroristas”, disse Rodrigues. Para o diretor-geral do órgão, o episódio trata de “ações gravíssimas de terrorismo”. “Não é aceitável que se proponha anistia pra esse tipo de pessoa”, emendou.

Regulação das redes

Questionado pela imprensa se a PF considera que houve falha de inteligência na identificação prévia do atentado, Andrei Passos Rodrigues disse que o país carece de normas mais específicas que favoreçam a atuação das polícias em casos do tipo. O debate toca as discussões em torno do projeto de lei que criminaliza as fake news, que tramita na Câmara dos Deputados, mas foi colocado em banho-maria este ano por falta de acordo sobre o tema.

“Com relação à atividade de redes sociais, é importante que, definitivamente, se tenham normas, regras claras para uso de redes sociais. Não é possível mais a gente conviver com esse tipo de ação. Isso mostra agora de maneira mais clara a necessidade de acesso à regulação para que as pessoas não fiquem livremente cometendo crimes nas redes sociais. O acontecimento é trágico, mas tem que gerar ensinamentos e oportunidades”.

Publicado originalmente no Brasil de Fato

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