Em São Paulo, trabalhadores vão às ruas contra escala 6×1: ‘O povo está revoltado’

Manifestantes se encontraram na avenida Paulista, região central de São Paulo, e caminharam no sentido da avenida Rebouças. Foto: Beatriz Dague Ramos/Brasil de Fato

Por Beatriz Drague Ramos, publicado no Brasil de Fato

Após sucesso nas redes sociais, o movimento que pede o fim da escala 6×1 nas jornadas de trabalho foi às ruas nesta sexta-feira (15) em ao menos 26 cidades brasileiras. Em São Paulo, os manifestantes ocuparam duas quadras da avenida Paulista, nos dois sentidos da pista, e pediram a aprovação da PEC de autoria da deputada federal Erika Hilton (Psol).

Entre as milhares de pessoas, estava João Vitor Rodrigues Egydio, de 20 anos, que é atendente de padaria e trabalha seis dias da semana com apenas uma folga. “Eu não tenho tempo nenhum para lazer, profissionalização ou fazer o que gosto de fazer. Olha o tamanho desse mundo e estou perdendo parte significante desse mundo.”

Ainda de acordo com Egydio, os trabalhadores “normalizaram essa escala”. “Normalizamos ter que trabalhar para viver e acabamos aceitando toda e qualquer coisa. Estamos aqui para mudar isso e fazer com que as futuras gerações não normalizem isso”, finalizou.

Priscila Araújo, coordenadora do Vida Além do Trabalho (VAT), discursou durante o ato. “A rua não é Twitter (X), a rua não é Instagram, o povo está revoltado e sem esperança. Vida Além do Trabalho não é à toa que começa com a palavra ‘vida’. Vida Além do Trabalho começa com o fim da escala 6×1, é acesso à educação, acesso à saúde e à segurança pública. Não é à toa que essa bandeira une trabalhadores do norte ao sul do país.”

Para Alessandro da Silva, operador de telemarketing, a escala 6×1 lhe privou do convívio familiar. “Eu não tenho tempo para estar com a minha família e eventos que perco, por conta do trabalho. Eu trabalho de segunda a sábado, oito horas por dia. Eu também não tenho tempo para estudar, eu só quero descansar (no dia que não trabalha)”, explica o trabalhador, que relatou abusos de seu empregador.

Uma das manifestantes, Julia Gomes Romanin disse que durante dez anos trabalhou na escala 6×1, com atendimento ao público, e que teve dificuldades para criar sua filha, que tem sete anos.

“Eu saí do meu último emprego depois de ter uma crise de ansiedade, porque não apenas fazíamos a escala 6×1 como era extremamente desorganizado. Recebíamos a escala de trabalho de madrugada e tínhamos que levantar para trabalhar. Eu já não conseguia mais acompanhar a minha vida minha filha”, explicou Romanin.

Escala no Congresso

A PEC pelo fim da escala 6×1 já ultrapassou as 200 assinaturas e já pode ser protocolada na Câmara dos Deputados. A autora da proposta, Erika Hilton, comemorou o ato na avenida Paulista e propôs diálogo com diversos setores para impulsionar a tramitação da medida no Legislativo.

“Essa é a uma mobilização por mudança, por descanso, por dignidade e por um avanço na escala de trabalho do Brasil. Outros países do mundo avançaram com essa proposta e a produtividade continuou, o trabalhador inclusive entregou mais porque estava descansado. Não atingiu a economia”, destacou. “Nós queremos poder discutir com os trabalhadores, com os empregadores, com os pequenos nesse país uma escala mais humana, mais digna. Essa é a demonstração de que o trabalhador quer mudança”.

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