‘A Globo’: Trilogia de livros revela os bastidores da maior emissora do Brasil

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(Foto: Studio H Fotografia/ Divulgação)

Impossível viver no Brasil e não ter tido contato, mesmo que mínimo, com a TV aberta e, consequentemente, com a TV Globo. Faz parte do dia a dia do brasileiro, seja no café da manhã, na sala de espera do médico ou no almoço no restaurante – quase sempre se encontra uma televisão ligada. Mas o que será que aconteceu por trás das câmeras para que a Globo se tornasse uma gigante da comunicação e, ao mesmo tempo, um poderoso espelho da sociedade brasileira? Como foi construída a hegemonia que dominou, quase absoluta, o entretenimento de massa, o telejornalismo, o esporte e o mercado publicitário do país por décadas? Essas são perguntas que o jornalista, professor e escritor Ernesto Rodrigues tenta – e consegue – responder com sua trilogia de livros “A Globo” (Autêntica Editora) sobre a maior emissora do país. 

Como escritor e biógrafo, além da biografia do piloto Ayrton Senna, “Ayrton, o herói revelado”, Ernesto também escreveu e organizou o livro “No próximo bloco… O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”. Também é autor da biografia “Jogo duro: a história de João Havelange”; “O traço da Cultura: o desafio de ser ombudsman da TV Cultura, a emissora mais festejada e menos assistida do Brasil” e “Zilda Arns: uma biografia”.

O primeiro volume da série “A Globo”, batizado de “Hegemonia”, foi lançado já em novembro e Ernesto conversou com a Tribuna para sanar um pouco da curiosidade dos leitores. 

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Tribuna: Quais foram os desafios mais significativos para conseguir reunir essas informações para os livros?

Ernesto Rodrigues – Eu diria o seguinte: as coisas mais óbvias muitas vezes estão diante de você e você não se dá conta. Quando eu digo você, eu digo qualquer pretenso autor de algo sobre a TV Globo. Eu sabia da existência do Memória Globo por conta de alguns trabalhos institucionais que eu já tinha feito na empresa pra emissora, trabalhos internos. Eu vi que era uma preciosidade, na época, tinha mais de 450 depoimentos de todas as pessoas que eu posso imaginar que pudesse ser importante na história da emissora. E eram depoimentos muito corretos do ponto de vista da precisão e da transcrição, ou seja, não tinha nenhuma edição. Então eu pensei “isso aqui é um tesouro para quem quiser escrever a história da TV Globo”. 

Evidentemente que o meu interesse foi de fazer um trabalho independente do grupo Globo. O livro não tem um tostão do grupo, não tem nenhuma relação com o Grupo Globo, ninguém do grupo Globo sequer teve acesso ao original. É um livro em que eu estou absolutamente independente. 

A única coisa que eu fiz para ter acesso (à Memória Globo) foi conversar com os três irmãos através do irmão mais velho, o Roberto Irineu. Eu disse a ele que eu tinha interesse de fazer uma espécie de biografia da TV Globo, mas de forma independente e na qual eu tivesse acesso completo ao acervo e da minha parte eu prometi para ele, em contrapartida, fazer um trabalho jornalisticamente responsável equilibrado sem ser – até porque não era o caso –  institucional. E aí eles conversaram entre os irmãos, e me deram essa autorização. A partir daí eu comecei essa pesquisa que durou mais ou menos cinco anos.

Esse primeiro volume, “Hegemonia”, fala desse período de 1965 a 1984. A censura e o controle militar da época representaram alguma dificuldade para achar documentos dessa época para fazer a pesquisa? 

Eu não tive nenhuma dificuldade como eu te disse para ter acesso ao que eu acho que é o diferencial dessa trilogia, que é o depoimento de quem fez. Eu tive acesso e li tudo que se escreveu sobre a TV Globo. O que o livro tem de novidade é um cotejo entre tudo que se escreveu até hoje sobre a TV Globo em confronto com quem estava lá que fez a emissora – inclusive eu que durante 15 anos trabalhei na TV Globo. No famoso debate do Lula e Collor eu estava na redação do Jornal Nacional.

A grande dificuldade, mas que é própria do trabalho jornalístico, é você hierarquizar as informações. Para se ter uma ideia eu construí um acervo que tem mais de 18 mil verbetes. Um acervo no Excel com mais de 18 mil linhas, cada uma delas com informação. Então você enxugar e hierarquizar sempre com o compromisso muito grande, para que o leitor tenha uma leitura agradável, atraente, instigante –  foi esse meu compromisso ao longo desses anos.

Durante a pesquisa, você se deparou com algum fato inédito? Algo importante que ainda não havia vindo à tona? 

Se eu descobri algo importante? Não, já está tudo lá, mas as histórias que estão contadas dão ao leitor a oportunidade de entrar na intimidade de tudo que aconteceu nesses anos todos. Por exemplo, saber como foi e o que aconteceu durante a cobertura da Copa de 1970. Na ida do homem à lua, por exemplo, o programa Silvio Santos quase ganha a audiência da transmissão da chegada do homem à lua na Globo.

Tem esses detalhes, tem muito bastidor. O meu princípio foi sempre esse: o que é relevante, o que é inédito e o que envolve histórias humanas. Quando o leitor pegar o livro, dificilmente vai encontrar no início de um capítulo em que eu fico fazendo considerações teóricas, vai ter sempre uma história envolvendo alguém, uma história nova, surpreendente que te leva a falar de censura, da transformação da dramaturgia e todos esses assuntos que aconteceram durante a história da Globo. 

A TV aberta ainda é muito importante, ainda é muito mais vista que o streaming, por mais que as pessoas queiram sepultá-la. Tem alguns críticos que ficam fazendo sempre “a morte anunciada e sempre adiada da TV Globo e das novelas”.

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