Sakamoto: Tarcísio ligou Boulos a PCC, mas polícia sob seu governo que era da facção

Ricardo Nunes (MDB), reeleito prefeito de SP e Tarcísio de Freitas (Republicanos), atual governador paulista – Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Um delegado e investigadores da Polícia Civil de São Paulo foram presos, nesta terça (17), em uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo. Eles haviam sido denunciados por corrupção por Antônio Vinícius Gritzbach, o delator do PCC executado no aeroporto de Guarulhos. Policiais teriam recebido milhões para não prender membros da facção e não atrapalhar o tráfico de drogas.

A promiscuidade entre policiais e o PCC não surgiu no governo Tarcísio de Freitas, mas a operação da PF e do MP-SP mostra que as sacanagens seguiam existindo sob a atual gestão. É o sumo da ironia que isso ocorra depois de o governador afirmar que o Primeiro Comando da Capital orientou o voto em Guilherme Boulos, adversário de seu candidato, Ricardo Nunes.

Sim, enquanto Tarcísio falava que o PCC mandava votar no Boulos (e todo mundo esqueceu esse crime eleitoral no dia do segundo turno da eleição), eram policiais sob o seu governo que trabalhavam para a facção.

Tarcísio foi duramente criticado por conta do abuso de poder político e propagação de notícia falsa que o caso representa. Isso não foi fundamental para a reeleição do seu apadrinhado, mas não é possível dizer que os números finais não sofreram influência de sua entrevista a jornalistas.

A Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo havia dito que interceptou comunicados assinados por membros do PCC orientando o voto em algumas cidades. A questão merecia investigação e o tratamento adequado, tanto para verificar a autenticidade dessas comunicações, quanto para indicar se as campanhas sabiam disso. Sim, bilhetes também podem ser falsificados.

Por isso, ao ser questionado sobre a questão, ele só poderia abordá-la apresentando as devidas provas. Ou, o que seria mais correto, convocar uma coletiva à imprensa após a votação. Mas resolveu fazer isso no local onde ele havia votado e, pior, ao lado do prefeito Ricardo Nunes.

O comportamento de Tarcísio não foi aleatório, mas acabou indo ao encontro da estratégia da campanha de Nunes ao longo do segundo turno: afirmar que o deputado é o candidato dos presidiários e não iria atacar o crime organizado.

Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara dos Vereadores – Foto: Reprodução

Irônico também é o fato que, meses antes da eleição, a imprensa havia apontado que Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara dos Vereadores e forte aliado de Nunes, estava envolvido com uma companhia de ônibus acusada pelo Ministério Público de lavar dinheiro para o PCC. E, ao mesmo tempo, outra investigação havia mostrado que guardas civis metropolitanos de São Paulo haviam firmado um esquema com a facção criminosa para extorquir dinheiro de comerciantes na região da “cracolândia” sob a gestão do prefeito.

Seria salutar que além de enterrar a letalidade policial como política de segurança pública, tanto o governador quanto o secretário Guilherme Derrite aproveitassem essas deixas para se dedicar profundamente a separar agentes de segurança de bandidos.

O mundo não gira, ele capota.

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