Gianetti nega que país esteja “à beira do precipício” e critica “exagero” do mercado

Economista e filósofo Eduardo Giannetti. Foto: Felix Lima/Folhapress

O economista e filósofo Eduardo Giannetti afirmou que a reação do mercado financeiro com os números da economia brasileira é exagerada.

Em entrevista ao Estadão, Giannetti criticou a alta dos juros. Segundo o economista, o Brasil enfrentou uma dominância do mercado financeiro “na formação das expectativas e no ambiente do debate público brasileiro”.

Confira trechos da entrevista:

Como o Sr. analisa essa piora dos ativos e até onde essa piora pode chegar?

Quando a gente conversou no ano passado, a minha avaliação foi a de que o governo Lula ganhou a batalha das expectativas do primeiro ano do mandato. Podemos dizer, agora, que o governo Lula perdeu a batalha das expectativas no segundo ano do mandato. A conversa dessas expectativas no regime de macroeconomia, como temos hoje no Brasil, é a taxa de câmbio. Quando as expectativas se deterioram, o real desvaloriza. Quando as expectativas melhoram, o real valoriza. As milhões de agentes econômicos compram ou vendem papéis determinados em real, dependendo do estado das expectativas. E as expectativas se deterioraram, especialmente, no segundo semestre de 2024.

O arcabouço perdeu substituído?

Eu não acho que o arcabouço fiscal está encerrado e enterrado, como foram enterrados a Lei de Responsabilidade Fiscal e o teto de gastos, mas eu diria que está na UTI, respirando por aparelhos. E o governo vai ter de apresentar alguma coisa mais consistente para recuperar a substituição desse arcabouço fiscal. Agora, vamos colocar as coisas em perspectiva. Claramente, há um acontecimento exagerado do mercado financeiro.

Por que o sr. vê um exagero?

Entre nisso um elemento especulativo. Agentes poderosos do mercado financeiro e volatilidade, porque é dessa forma que se ganha dinheiro. Os indicadores fiscais brasileiros, embora preocupantes, não são calamitosos. Longe disso. Nós não estamos à beira de nenhum precipício fiscal. Eu acho que houve também um fato que o presidente do Banco Central ( Roberto Campos Neto ) mencionou e é relevante: o movimento intenso de remessa de dividendos das empresas transnacionais que atuam no Brasil para suas matrizes. O que não deixa de representar um fato positivo, que é o fato de que elas tiveram bons resultados no Brasil este ano. Você pode mandar dinheiro para as matrizes. Isso também pressionou o câmbio.

E se a gente olhar para a economia real, os indicadores deste ano são positivos. Houve um crescimento do PIB da ordem de 3,5%, sendo que, no início do ano, a previsão era de 1%, 1,5%. Veja como o mercado financeiro erra para mais ou para menos nas suas projeções, nas suas expectativas. Criamos 3 milhões de empregos. Metades dos quais na economia formal. As nossas contas externas permanecem muito sólidas e equilibradas, tanto pelo resultado da balança comercial como pelo investimento direto estrangeiro. Não temos, portanto, nenhum tipo de vulnerabilidade externa. O que me causa uma certa estranheza é a dominância que o mercado financeiro exerce na formação de expectativas e no ambiente de debate público brasileiro, o que acaba exacerbando esses movimentos. (…)

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