Governo não tem apoio do Congresso e nem mobilização popular, avalia Frei Betto

Frei Betto; religioso participou da resistência contra a ditadura civil-militar (1964-1985) – Foto: Brasil de Fato

Por Brasil de Fato

“Um governo se mantém com duas pernas: o apoio do Congresso e a mobilização popular. Esse governo não tem uma coisa nem outra. Dos dois fatores, o mais importante é a mobilização popular”. A afirmação é de Carlos Alberto Libânio Christo, mais conhecido como Frei Betto, no BdF Entrevista desta semana.

Para Betto, que é frade dominicano e autor de 73 livros, “o governo cometeu um erro, um erro crônico que o PT comete em seus governos, que é não cuidar da educação política do povo”.

O religioso aproveitou para criticar a forma como os brasileiros têm celebrado o Natal. “É um momento de renovar nossas esperanças e utopias. Seria muito importante, para os que são cristãos, que têm sensibilidade religiosa, celebrarem esse caráter original, evangélico, da festa. Não apenas transformar em uma mera troca de presentes e ceias pantagruélicas.”

Frei Betto estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Em 1982, ganhou o prêmio Jabuti por seu livro de memórias Batismo de Sangue, obra que também foi retratada nos cinemas.

Confira a entrevista na íntegra no vídeo acima e leia alguns trechos abaixo:

A oposição, que parecia se desmantelar no começo do governo, conseguiu se reagrupar. Por mais que a extrema direita tenha perdido força com um enfraquecimento nas eleições e pelo cerco contra Bolsonaro, o Centrão segue muito forte e encurralando o governo. É possível enfrentar esse Congresso?

Um governo se mantém com duas pernas, o apoio do Congresso e a mobilização popular. Esse governo não tem uma coisa nem outra. Dos dois fatores, o mais importante é a mobilização popular. Quando há mobilização popular, se consegue reverter as posturas no Congresso, porque os deputados e senadores estão sempre pensando na próxima eleição. O governo cometeu um erro, um erro crônico que o PT comete em seus governos, que é não cuidar da educação política do povo. Então, portanto, nós da esquerda temos uma capacidade muito pequena de mobilização das forças populares.

Nós conversamos aqui no programa logo quando o governo Lula completava 100 dias. Pudemos fazer um balanço que, naquele momento, me pareceu positivo. Agora, o senhor acredita que a avaliação pode ser outra? O governo teve avanços importantes, mas se vê em uma encruzilhada perigosa na área econômica, principalmente pelas reações do dito “mercado”.

O presidente Lula durante entrevista – Foto: Ricardo Stuckert/PR

Eu sempre enfatizei que o governo Lula tem duas tornozeleiras eletrônicas, uma em cada perna: o Banco Central de um lado e o Congresso do outro, um Congresso conservador, talvez o mais conservador desde a redemocratização. O Banco Central é presidido por um bolsonarista que veste a camisa do bolsonarismo e se assume como tal, que graças a Deus sairá agora, dia 31 de dezembro. Toda a atividade dele à frente do Banco Central é de sabotagem do governo Lula, ele é um agente do mercado e dos bancos. Os juros estão extremamente altos, o que favorece a especulação financeira, mas principalmente, prejudica os trabalhadores, que vive com medo do retorno da inflação…

O Lula tem que caminhar em ovos, não pode tomar determinadas medidas porque é refém desse Congresso conservador. Esse pacote que foi feito, de ajuste fiscal, é um pacote moderado, que me agradou muito, porque o Lula evitou se submeter às exigências do mercado do Congresso conservador. Ninguém quer perder a isenção tributária, o agronegócio, bancos e grandes indústrias, todos gozam de renúncia fiscal, mas querem que o governo corte na Saúde e na Educação. Não sabemos até onde o Lula vai resistir, porque terá que fazer muitos acordos e composições.

Neste fim de ano, algumas religiões cristãs celebram o nascimento de Jesus, o Natal. No Ocidente, a data se tornou uma tradição, hoje mais mercadológica do que puramente religiosa. Como o senhor enxerga esse período?

O Natal é um momento de renovar nossas esperanças e utopias. Seria muito importante, para os que são cristãos, que tem sensibilidade religiosa, celebrarem esse caráter original, evangélico, da festa. Não apenas transformar em uma mera troca de presentes e ceias pantagruélicas, enquanto inúmeras pessoas estão privadas do pão de cada dia… Se convida uma criança para uma oração, hoje, se você a convida para limpar o armário de roupas e brinquedos que não mais utiliza, para levar a um hospital pediátrico ou uma zona onde predomina a pobreza, isso fará melhor à cabeça e formação dessa criança, do que enchê-la de presente e comida.

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