“Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém”, diz diretor da PF sobre inquérito do golpe

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Foto: José Cruz/Agência Brasil

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que a corporação vai apresentar um relatório complementar sobre as investigações da trama golpista e não pretende “passar a mão na cabeça de ninguém”. Em entrevista ao jornal O Globo, ele sinalizou que outros aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro podem ser incluídos na lista de alvos:

(…) Mauro Cid disse à PF que o dinheiro entregue pelo general Walter Braga Netto para financiar um plano que envolvia o assassinato de autoridades foi obtido com o “pessoal do agronegócio”. Já se sabe quem são essas pessoas?

Ainda permanecem questões que estão sendo apuradas, até em razão da Operação Contragolpe. A partir das apreensões realizadas nessa fase, de depoimentos coletados, dos que ainda serão tomados e de outros fatores que estão sendo apurados, vamos finalizar um relatório complementar que também vai servir de base para a Procuradoria-Geral da República fazer a análise.

Esse relatório complementar pode incluir um detalhamento maior sobre o financiamento?

Há expectativa das pessoas de que houvesse um ou alguns grandes financiadores, mas a investigação é clara ao apontar que houve várias pessoas, algumas já presas e condenadas. Um cedeu um ônibus, outro cedeu água, outro cedeu comida… Existe essa pulverização. E agora há esse fato trazido pelo depoimento de Cid. Vai ser apurado exatamente de onde saiu esse valor. Mas são detalhes que não interferem no seio da investigação, que apontou cabalmente a tentativa de golpe.

Geraldo Alckmin (vice-presidente, Lula (presidente) e Alexandre de Moraes (ministro do Supremo Tribunal Federal). Foto: Reprodução

A investigação cita um plano para matar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin. O que aconteceu para que essa iniciativa não fosse concretizada?

Já fomos criticados: “Olha, pensar em matar não é crime”. Mas ninguém foi indiciado por tentativa de homicídio ou qualquer outro motivo que não por golpe de Estado. Isso é um fragmento do relatório, dentro do contexto do golpe, de uma ação focada em neutralizar o principal ator, o ministro Alexandre de Moraes, o presidente e o vice eleitos, para que se criasse transtorno social.

Não aconteceu porque não houve a adesão de duas das Forças Armadas (Exército e Aeronáutica) nem a comoção popular que se imaginava. Mas não estamos falando de cogitação, são ações que foram colocadas em prática. As pessoas estavam nas ruas vigiando o ministro Alexandre de Moraes.

A impressão de um plano para matar o presidente da República foi feita dentro do Palácio do Planalto, e o plano foi levado ao Palácio da Alvorada, onde estava o então presidente da República.

A PF trabalha com a possibilidade de novas delações como, por exemplo, a do general Mário Fernandes?

A delação é um direito do investigado, e a Polícia Federal está sempre disponível a receber quem resolva colaborar. Mas essa colaboração tem que ser inovadora e trazer elementos desconhecidos, não simplesmente confirmar os dados que já possuímos.

A prisão do general Braga Netto gerou apreensão em aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro pela possibilidade de novas detenções, como a do ex-ministro Augusto Heleno. Haverá novas prisões?

Ficou demonstrado que ele estava tentando interferir na delação e obtendo informações da investigação. A PF não entra em tema político-partidário. Nós não vamos perseguir nem proteger ninguém. Se houver um fato novo que atenda aos requisitos jurídicos, técnicos e legais, é possível, sim, que outras prisões ocorram. Ninguém está imune à legislação.

Todos temos o mesmo sentimento de que precisamos separar as instituições daquelas pessoas que se desviaram. Inclusive, um policial federal já foi preso. Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém, seja militar, policial, profissional liberal… (…)

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