Janeiro Branco: empresas devem engajar combate a transtornos de saúde mental

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No Brasil, são 11 milhões de pessoas com depressão, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O país também é líder em transtornos de ansiedade, tendo cerca de 9,3% da população sofrendo com esse adoecimento.  O primeiro mês do ano serve como campanha para o Janeiro Branco, que traz a conscientização sobre a importância dos cuidados com a saúde mental.

Um dos aspectos que chamam a atenção é o nível de problemas de saúde mental entre os trabalhadores brasileiros. Em 2023, um estudo da Conexa, realizado com gestores e profissionais de Recursos Humanos de 767 empresas do país, constatou que 87% dos entrevistados afirmaram ter passado por algum período de afastamento das atividades laborais por causa de doenças que afetam a mente. Nesse contexto, especialistas indicam cuidados necessários para promover o bem-estar no ambiente de trabalho.

“O Janeiro Branco tem essa simbologia de recomeço, desse momento em que a gente está mais propício a repensar nossas metas e ambições. É um momento de reescrever a sua história, e a saúde mental precisa estar incluída nessa pauta”, explica a psicóloga e coordenadora de Saúde, Segurança e Bem-Estar da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Leandra Silva Duarte, sobre a escolha do mês para a realização da campanha.

Para ela, que trabalha com a psicologia com foco no ambiente de trabalho, é justamente nesse momento que devem também ser repensadas questões culturais no contexto corporativo. Ela pontua que a pressão por metas “que não são construídas de forma coletiva” e a “pressão por entrega” são fatores que podem deixar o ambiente de trabalho mais tenso e levar ao adoecimento ou agravar problemas de saúde mental. 

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Trabalhar com “gente e gestão” é o caminho apontado para as empresas pela psicóloga Juliana Gomes Valério (Foto: Arquivo pessoal)

Apesar do bem-estar mental ser uma questão multifatorial, a psicóloga clínica e coordenadora do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, Juliana Gomes Valério, destaca que as empresas devem trabalhar ativamente com “gente e gestão” para assegurar um ambiente de trabalho que não seja adoecedor. “Trabalhar em ações profissionais de gente e gestão é um caminho positivo, tanto para colaboradores quanto para a empresa como um todo, gerando, inclusive, impactos financeiros”, destaca. 

Outros fatores que previnem os transtornos mentais, como destaca a diretora clínica da Vila Verde Saúde Mental, Gabriela Ladeira, são a promoção de hábitos saudáveis em todas as áreas, incluindo alimentação equilibrada, atividade física regular, sono de qualidade e momentos de lazer e descanso. “Isso tudo é muito importante, e as conexões sociais fazem parte disso”, reflete. Da mesma forma, ela entende que as empresas estão percebendo esse adoecimento mental, inclusive entre as populações mais jovens, e precisam começar a incorporar ao seu planejamento a promoção não só de palestras, mas também a oferta de auxílio e programas de valorização dos trabalhadores.

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Psicóloga Leandra Silva Duarte destaca mudanças na legislação que contribuem para a prevenção do adoecimento mental no ambiente de trabalho (Foto: Divulgação/UFJF )

Reconhecimento dos impactos à saúde mental

As especialistas entrevistadas pela Tribuna alertam que é preciso entender os impactos gerados à saúde mental e repensar os processos de trabalho. Neste sentido, a legislação também deve ser atualizada de acordo com a realidade apresentada. De acordo com Leandra, ações importantes neste sentido foram a incorporação da síndrome de burnout nas doenças ocupacionais, em 2022, e as alterações na Cipa, em 2023, que passou a incorporar a prevenção e a fiscalização de assédio moral e sexual no ambiente de trabalho – fatores que, como destaca, deixam o ambiente de trabalho propício ao desenvolvimento de doenças mentais.

Já Juliana destaca que o ideal é não trabalhar a questão de forma pontual, mas ter um profissional que atue  gerenciando as necessidades, dificuldades, habilidades e competências da equipe, trabalhando de modo que a empresa tenha o melhor ambiente de trabalho com o mínimo possível de fatores para o adoecimento mental.

Medidas para tornar empresas ambientes mais saudáveis

Para mudar esse cenário de desgaste e tornar o ambiente de trabalho mais saudável, a recomendação de Gabriela Ladeira é que as empresas comecem a oferecer palestras, auxílios e programas de valorização aos empregados. “A capacitação de lideranças para perceber que os funcionários podem estar precisando de algum auxílio ou intervenção é essencial, assim como um ambiente inclusivo e comunicativo – isso tudo promove a saúde mental no ambiente de trabalho”, destaca. Mudanças assim devem incluir, por exemplo, respeitar os horários de resposta dos trabalhadores, seu tempo de descanso e fazer com que se sintam parte das decisões da empresa.

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Psiquiatra Gabriela Ladeira reforça a necessidade de lideranças capacitadas nas empresas (Foto: Arquivo pessoal)

Há sinais, no entanto, que devem chamar a atenção para a saúde do trabalhador, e que demandam um olhar qualificado para a percepção de atitudes disfuncionais. “Aquela pessoa que sempre chegava no horário certo mas começa a se atrasar. Quem sempre entregava os planejamentos ou as  tarefas no prazo, mas não consegue funcionar como antes. São mudanças de comportamento que chamam a atenção”, destaca. A especialista também ressalta que, do ponto de vista da psiquiatria, é preciso um conjunto de ações ligadas ao estilo de vida para a melhoria de transtornos mentais, e o incentivo a todas essas camadas pode ser importante.

Para além desse reconhecimento, Leandra destaca que as empresas devem incluir entre as suas políticas de trabalho medidas de valorização da saúde mental do trabalhador. “O descanso é fundamental. A gente não pode pensar no trabalhador como motor humano. A gente traz pro trabalho a nossa subjetividade, então é importante se desconectar, ter esse espaço”, explica. A professora entende que, dentro das condições ideais e que levam em conta esses aspectos, o trabalho pode desempenhar um papel  importante na estabilidade da saúde mental. “Quando percebemos o sentido do nosso trabalho e nos reconhecemos, ele é fonte de saúde”, diz. 

 

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