PNAD reforça sinais de desaceleração gradual da economia, dizem economistas

Estão cada vez mais evidentes os sinais de que a economia está desaquecendo, mas os dados referentes ao mercado de trabalho apontam que o processo será gradual, segundo a opinião de economistas. Hoje, o IBGE revelou que a taxa de desemprego no Brasil aumentou para 6,5% no trimestre móvel até janeiro, em comparação com os 6,2% anunciados no 4º trimestre de 2024. Mas o dado veio melhor que as estimativas, assim como tinha acontecido ontem, na divulgação do Caged.

Na quarta-feira, o Ministério do Trabalho tinha informado que foram criadas 137.303 vagas formais em janeiro, um dado corroborado hoje na PNAD, cuja categoria de “trabalhadores do setor privado com contrato formal” foi o destaque, com um aumento de 0,3% em relação ao mês e 3,6% na comparação anual.  

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Em sua análise, a XP citou vários sinais de estabilização no emprego total, uma vez que taxa de desocupação tem flutuado em torno de 6,5% desde outubro de 2024. O emprego total, por exemplo, caiu apenas 0,2% em relação ao mês anterior em janeiro, totalizando 103,0 milhões. Mas o indicador aumentou 2,4% em relação ao mesmo mês de 2024, resultando em um ganho de 2,8% na soma acumulada em 12 meses.

Já a taxa de participação da força de trabalho caiu para 62,3%, ainda abaixo dos níveis pré-pandemia, de aproximadamente 63,5%.

“O emprego total tem perdido impulso — especialmente nas categorias de empregos informais — mas permanece em níveis altos. Além disso, os salários reais continuam a subir, pressionando o custo unitário do trabalho”, cita a XP.

Segundo a análise, essa dinâmica corrobora um cenário base de desaceleração gradual na atividade doméstica, mas também de alta na inflação de serviços no curto prazo. “Esperamos que o PIB do Brasil cresça 2,0% em 2025, após uma expansão de 3,5% em 2024. Nossa projeção para a taxa de desemprego é de 7,2% ao final de 2025).”

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Na  opinião de André Valério, economista sênior e coordenador de pesquisa macroeconômica do Inter, apesar dos resultados melhores que o esperado no Caged e na PNAD, a leitura qualitativa dos dados indica uma geração de emprego que é menos ampla do que anteriormente encontrada. “E a desaceleração no setor informal segue sendo um ponto de atenção”, alerta.

Ele também destaca que a taxa de participação na força de trabalho encerrou sua sequência de melhoras e caiu após dois meses de estabilização, na primeira redução desde os primeiros meses de 2024.

“Os resultados do mercado de trabalho no geral seguem mistos mas apontando para um arrefecimento, indicando que a atividade econômica, apesar de mais amena, não está perdendo força de maneira brusca”, diz.

Leonardo Costa, economista do ASA, concorda com essa visão. “Com menos volatilidade, a PNAD dos últimos meses, bem como janeiro, indica estabilidade do mercado de trabalho, com o desemprego um pouco pior do que o observado no terceiro trimestre de 2024 e sem crescimento da população ocupada. Nossa expectativa é de desaceleração bastante gradual da atividade doméstica no começo de 2025.”

Igor Cadilhac, economista do PicPay, por sua vez, diz que a leitura qualitativa do indicador sugere que o mercado de trabalho continua robusto, embora sinais de deterioração na composição já comecem a surgir.

“Para os próximos meses, esperamos uma desaceleração gradual, especialmente a partir do segundo trimestre. Ainda assim, o mercado de trabalho deve permanecer aquecido e pressionando a inflação por um período prolongado. Para 2025, projetamos uma taxa média de desemprego de 7,2%, encerrando o ano em 7%.”

Pressão sobre os serviços continua

Já Claudia Moreno, economista do C6 Bank, avalia que, apesar de a taxa divulgada hoje indicar um mercado de trabalho um pouco mais forte do que o esperado, a abertura do dado mostra uma piora da sua composição. “Os dados dos últimos meses sinalizam que a taxa de desemprego, que vinha caindo em ritmo forte ao longo do último ano, começa a se estabilizar.”

Ela alerta, no entanto, que os dados de renda se mantiveram fortes no trimestre encerrado em janeiro. “Na comparação com o mesmo mês de 2024, a renda real habitual cresceu 3,7%. A massa de renda habitual, por sua vez, teve aumento de 6,2% no período, impulsionada pela alta no nível da ocupação e dos salários”, cita.

“Este cenário de mercado de trabalho forte ajuda a estimular a atividade econômica e o PIB, mas dificulta o controle da inflação, especialmente a de serviços. Isso reforça nossa expectativa de manutenção do ritmo de alta dos juros pelo Copom”, projeta. A previsão é que o BC deve subir a Selic em 1 ponto percentual, para 14,25%, na reunião de março, e que a taxa básica de juros termine o ano em 15%.

Para o Bradesco, a PNAD de hoje ressalta que o mercado de trabalho continua resiliente, embora mostre alguns sinais de desaceleração. “Os dados de atividade como um todo para o quarto trimestre indicaram perda de fôlego do crescimento naquele período, no entanto, os dados de emprego de janeiro, assim como os dados do Caged ontem, indicam que essa desaceleração deve acontecer de maneira gradual.”

O Itaú também destaca em sua análise a resiliência do mercado de trabalho. “A estabilidade na taxa de desemprego foi acompanhada por uma queda no emprego informal, que foi compensada por um aumento no emprego formal e uma leve diminuição na taxa de participação”, diz o banco.

Na avaliação de Rafael Perez, economista da Suno Research, o mercado de trabalho, que vinha sustentando o desempenho robusto do consumo e da renda, já começa a sentir os impactos do enfraquecimento da economia. “Os dados de emprego se juntam a outros indicadores de alta frequência, que revelam uma perda de intensidade da atividade econômica e devem resultar em menor crescimento em 2025.”

Para ele, a trajetória recente do mercado de trabalho sugere que a economia operou abaixo do pleno emprego em 2024, o que gerou desequilíbrios principalmente sobre a inflação e, mesmo com o arrefecimento do emprego este ano, devem continuar pressionando os preços ao longo do ano.

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