{"id":124519,"date":"2025-04-06T07:02:14","date_gmt":"2025-04-06T10:02:14","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia7.jornalfloripa.com.br\/agencia7\/124519"},"modified":"2025-04-06T07:02:14","modified_gmt":"2025-04-06T10:02:14","slug":"conheca-ducarmo-artista-plastica-com-interesse-social-e-professora-de-criancas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia7.jornalfloripa.com.br\/agencia7\/124519","title":{"rendered":"Conhe\u00e7a DuCarmo: artista pl\u00e1stica com interesse social e professora de crian\u00e7as"},"content":{"rendered":"
Maria do Carmo Barbosa me recebe em sua casa, em um pr\u00e9dio de elevador antigo. N\u00e3o tem como falar com ela por WhatsaApp, porque seu celular tamb\u00e9m antigo n\u00e3o tem o aplicativo: \u00e9 \u201cbrucutu\u201d, como gosta de dizer. Sua casa vintage parece uma galeria: \u00e9 repleta de quadros, a maioria pintados por ela, que atualmente est\u00e1 com 78 anos. S\u00e3o v\u00e1rios arquivos que ela guarda com desenhos de diferentes fases da vida, das centenas de alunos que j\u00e1 teve, dos trabalhos que desenvolveu com os mais variados materiais. Tudo reunido com organiza\u00e7\u00e3o e com capricho por ela. Na mesa da sala, DuCarmo<\/a>, como \u00e9 conhecida, conta que recebe os alunos, para os quais, h\u00e1 mais de 40 anos, ensina desenho e pintura. \u00c9 tamb\u00e9m l\u00e1 que faz seus trabalhos, os mais recentes voltados para crian\u00e7as que est\u00e3o exercendo trabalho infantil e para cen\u00e1rios de comida de rua em Juiz de Fora.\u00a0<\/span><\/p>\n A carreira de DuCarmo come\u00e7ou cedo, porque, como diz, j\u00e1 nasceu desenhando. Todos os seus irm\u00e3os tamb\u00e9m gostavam de arte, mas foi ela que desenvolveu uma dedica\u00e7\u00e3o maior \u00e0 \u00e1rea, por enxergar que era esse recurso que a ajudava a ver de verdade as coisas ao seu redor. \u201cA devo\u00e7\u00e3o que eu tenho pelo desenho \u00e9 porque o planeta \u00e9 muito bonito. E a arte est\u00e1 em tudo.\u201d. E, durante toda essa jornada, na qual pintou de natureza morta ao Neymar, de membros do Supremo Tribunal Federal a mulheres do Demlurb, das quais virou amiga, foi justamente a arte com um vi\u00e9s social que despertou nela o maior interesse. \u201cEu tento ser o mais Portinari poss\u00edvel, ter essa liberdade, mas a gente tenta ser perfeito em tudo. Ele queria mostrar um Brasil que a gente n\u00e3o quer ver, e queria transformar o pa\u00eds.\u201d<\/span><\/p>\n Uma de suas obras que ficou mais conhecida \u00e9 justamente a de um menino negro, uma crian\u00e7a que frequentou seu ateli\u00ea durante muitos anos. \u00c0s vezes, pedia comida, e ela conta que dava. Depois passou a cham\u00e1-lo para ser modelo tamb\u00e9m. \u201cO Fabiano era uma gracinha. Meus amigos falavam: \u2018Cuidado, ele pode ser pivete\u2019. E eu falava: \u2018N\u00e3o \u00e9 pivete, \u00e9 um menino pobre\u2019. O Brasil suja a mente da gente.\u201d Essa foi uma das experi\u00eancias que marcou o seu olhar, e fez com que quisesse retratar figuras invisibilizadas pela sociedade, como as crian\u00e7as for\u00e7adas a trabalharem. \u201cVi uma crian\u00e7a falando que antes brincava, mas agora tem que trabalhar. Aquilo me marcou muito e quis levar pra arte. Minha arte \u00e9 combativa.\u201d Da mesma forma, passou a desenhar a comida de rua da cidade como uma forma de homenagear esses trabalhadores que, como ela destaca, enfrentam diversas dificuldades econ\u00f4micas e precisam lutar pra sobreviver.<\/span><\/p>\n As preocupa\u00e7\u00f5es de DuCarmo tamb\u00e9m se mostram diversas. Diz se incomodar com a possibilidade do Brasil \u201cvirar uma Venezuela\u201d e tamb\u00e9m de como os algoritmos controlam o que ela pesquisa, de como as pessoas est\u00e3o viciadas em celular e n\u00e3o se dedicam mais \u00e0 import\u00e2ncia da arte. Mas, sobretudo, se preocupa com a falta de oportunidade. \u201cSe filho de coelho \u00e9 coelhinho, filho de Deus tinha que ser deusinho. Mas n\u00f3s estamos muito encapetadinhos. Eu sou implicante, ando brigando muito com meus amigos evang\u00e9licos, com os esquerdistas tamb\u00e9m. Todo mundo t\u00e1 orando e o planeta est\u00e1 horr\u00edvel.\u201d\u00a0<\/span><\/p>\n A casa de DuCarmo n\u00e3o \u00e9 repleta s\u00f3 de telas tradicionais, mas de arte de todos os tipos. Al\u00e9m desses trabalhos, ela j\u00e1 desenvolveu tamb\u00e9m m\u00e1scaras, durante a pandemia de Covid-19, de v\u00e1rios tamanhos, formatos e personagens; artesanato feito com lixo descartado, que transforma em estantes, geladeiras ou cen\u00e1rios inteiros; pe\u00e7as feitas com gaze e \u00e1gua molhada. Al\u00e9m disso, s\u00e3o desenhos que tamb\u00e9m usam materiais variados, como caf\u00e9 ou carv\u00e3o.\u00a0<\/span><\/p>\n Tendo sido ela mesma t\u00e3o autodidata, entende que essa \u00e9 uma oportunidade de ir mais fundo e enxergar a arte em coisas ordin\u00e1rias, ajudando a transformar materiais que seriam descartados. Esse acervo, como conta, tamb\u00e9m guarda v\u00e1rias hist\u00f3rias de quando as obras foram feitas e de quem passou pela casa, para tamb\u00e9m aprender mais. Um dos seus projetos atuais, inclusive, \u00e9 um livro que re\u00fana a sua percep\u00e7\u00e3o sobre como seus alunos eram, quando tinham aulas com ela, junto com o depoimento deles, j\u00e1 tantos anos depois \u2013 muitos trabalhando na \u00e1rea e outros trabalhando em profiss\u00f5es diversas. Para ela, relembrar como essas crian\u00e7as eram \u00e9 muito importante.<\/span><\/p>\n O contato com as crian\u00e7as, para DuCarmo, deu um sentido maior \u00e0 vida: \u201cEu aprendi o que \u00e9 doa\u00e7\u00e3o. Como \u00e9 importante essa troca\u201d. E, por isso mesmo, fala que gosta de ser divertida, gosta de brincar com os alunos, de incentiv\u00e1-los na arte. E gosta da sinceridade com a qual respondem a ela, a observam e a consideram anal\u00f3gica. \u201cTeve um dia que fui com um menino de 7 anos, no Mergulh\u00e3o, \u00e0 noite, porque ele queria pintar aquilo. A m\u00e3e ficou esperando no carro e n\u00f3s fomos.\u201d Apesar de n\u00e3o ser m\u00e3e, ela entende que esses foram seus filhos, o legado que deixou.<\/span><\/p>\n Segue com muitas preocupa\u00e7\u00f5es. Este ano, o menino do seu quadro mais conhecido, Fabiano, morreu. Ela diz que ele levou um tiro de policial, quando foi confundido com bandido. \u201cUm dos outros meninos de rua de quem eu cuido foi que me falou. \u00c9 uma hist\u00f3ria muito triste, mas ainda tento encontrar beleza\u201d, diz.<\/span><\/p>\n O post Conhe\u00e7a DuCarmo: artista pl\u00e1stica com interesse social e professora de crian\u00e7as<\/a> apareceu primeiro em Tribuna de Minas<\/a>.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" DuCarmo d\u00e1 aula de desenho para crian\u00e7as h\u00e1 mais de 40 anos (Foto: Arquivo pessoal) Maria do Carmo Barbosa me recebe em sua casa, em um pr\u00e9dio de elevador antigo. N\u00e3o tem como falar com ela por WhatsaApp, porque seu celular tamb\u00e9m antigo n\u00e3o tem o aplicativo: \u00e9 \u201cbrucutu\u201d, como… Continue lendo \n
Tudo pode ser arte<\/b><\/h2>\n
Contato com crian\u00e7as\u00a0<\/b><\/h2>\n