{"id":124521,"date":"2025-04-06T07:02:17","date_gmt":"2025-04-06T10:02:17","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia7.jornalfloripa.com.br\/agencia7\/124521"},"modified":"2025-04-06T07:02:17","modified_gmt":"2025-04-06T10:02:17","slug":"nomes-de-rua-em-juiz-de-fora-o-que-simbolizam-e-quem-homenageiam","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia7.jornalfloripa.com.br\/agencia7\/124521","title":{"rendered":"Nomes de rua em Juiz de Fora: o que simbolizam e quem homenageiam?"},"content":{"rendered":"
J\u00e1 dizia Jo\u00e3o do Rio que \u201ca rua \u00e9 um fator da vida das cidades, a rua tem alma\u201d. Mas n\u00e3o s\u00f3 \u00e9 a alma que define esse espa\u00e7o: as ruas, sempre, tamb\u00e9m t\u00eam nomes. E nomes que s\u00e3o dados de acordo com o que \u00e9 definido pela C\u00e2mara Municipal ou pelo Executivo, por meio de um projeto de lei ou decreto. Essas escolhas exprimem, como explicam os especialistas, um contexto pol\u00edtico, uma vis\u00e3o de mundo e tamb\u00e9m as hist\u00f3rias que querem ser passadas de gera\u00e7\u00e3o em gera\u00e7\u00e3o, nesse registro p\u00fablico e urbano que s\u00e3o as ruas. S\u00e3o honrarias feitas pra perdurar. Em Juiz de Fora, vias como Rua Halfeld, Rua Get\u00falio Vargas ou Avenida Costa e Silva s\u00e3o algumas das mais conhecidas da cidade, contam suas pr\u00f3prias narrativas e marcam a cidade. Mas ser\u00e1 que a popula\u00e7\u00e3o sabe quem s\u00e3o essas pessoas e os motivos pelos quais receberam essa homenagem? Ou se, no contexto atual, ainda faz sentido que essas pessoas sejam homenageadas? A reportagem da Tribuna se dedica a entender o que, historicamente, ficou guardado nas placas azuis e quais s\u00e3o as iniciativas que tentam mudar a l\u00f3gica por tr\u00e1s dessas escolhas.<\/span><\/p>\n O historiador e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)<\/a> Marcos Olender explica que a mudan\u00e7a de nomes de rua \u00e9 algo natural de momentos de mudan\u00e7as de pensamento. \u00c9 o caso, como exemplifica, da Avenida Get\u00falio Vargas, que j\u00e1 foi Rua do Imperador, na \u00e9poca do Imp\u00e9rio, e Rua 15 de Novembro, durante o in\u00edcio da Rep\u00fablica. \u201cEstamos falando de nomes de rua, mas tamb\u00e9m de um exerc\u00edcio de se pensar hist\u00f3ria. Quem a gente quer homenagear conta a hist\u00f3ria de uma cidade. O nome da rua em que se mora \u00e9 muito marcante na vida das pessoas.\u201d Ainda que n\u00e3o se conhe\u00e7am detalhes de quem foram as pessoas das ruas mais prestigiadas de uma cidade, por exemplo, quase todo juiz-forano sabe quem foram os tr\u00eas homens que deram origem \u00e0s tr\u00eas primeiras ruas citadas nesta mat\u00e9ria. Respectivamente, um foi um engenheiro alem\u00e3o tido como um dos fundadores da cidade, outro foi presidente do Brasil e o \u00faltimo, um dos presidentes do per\u00edodo da ditadura militar.\u00a0<\/span><\/p>\n Conhecendo essas hist\u00f3rias, logo tamb\u00e9m se come\u00e7a um movimento de repensar essas homenagens. \u00c9 o que Olender defende. \u201cNa cidade, vemos uma presen\u00e7a forte de personagens de certos contextos pol\u00edticos que pertencem a uma certa elite pol\u00edtica, muitas vezes autorit\u00e1ria. (\u2026) Esses momentos felizmente j\u00e1 passaram, mas a lembran\u00e7a ainda fica nas ruas.\u201d Assim como ele, muitas outras iniciativas come\u00e7aram a questionar a homenagem a figuras de um regime repressor ou ligadas \u00e0 escravid\u00e3o, por exemplo, e diversos projetos tramitam na C\u00e2mara Municipal e no Congresso para mudar isso. No final de 2024, inclusive, a Justi\u00e7a de <\/span>\u00a0S\u00e3o Paulo determinou que alterassem nomes de ruas e espa\u00e7os p\u00fablicos que homenageiam figuras relacionadas \u00e0 ditadura militar.<\/span> \u201cSer\u00e1 que a gente quer manter homenagem a essas figuras, a esses ditadores, a esses escravistas, a esses criminosos? Ou n\u00e3o seria importante a gente se preocupar em homenagear quem merece, como quem lutou pela liberdade, pela democracia, pela justi\u00e7a social? S\u00e3o essas pessoas que merecem as homenagens, elas que merecem seus nomes n\u00e3o s\u00f3 nos livros de hist\u00f3rias, mas nos livros urbanos, que s\u00e3o efetivamente as nossas ruas\u201d, diz.\u00a0<\/span><\/p>\n Foi tamb\u00e9m pensando nas escolhas que s\u00e3o privilegiadas na hora de escolher o nome de ruas que a professora da Faculdade de Comunica\u00e7\u00e3o da UFJF, Kerley Winques, come\u00e7ou a desenvolver o projeto \u201cvi.elas\u201d<\/a>. Vinda do Sul do Brasil, chamou a aten\u00e7\u00e3o dela a falta de ruas no Centro de Juiz de Fora que levassem nome de alguma mulher. Isso fez com que ela se aprofundasse, com uma de suas turmas, em um projeto que identificava a quantidade de ruas existentes na cidade e a quantidade de figuras femininas que aparecem nomeando essas ruas. Para isso, foi preciso fazer uma longa an\u00e1lise relacionando os dados do IBGE e os dados da Prefeitura. O que foi identificado \u00e9 que, dentre os 4.877 endere\u00e7os da cidade, apenas 536 ruas levam nomes de mulheres. E a maior parte delas n\u00e3o \u00e9 conhecida pelas pessoas. \u201cInvestigamos a hist\u00f3ria dessas mulheres e n\u00e3o conseguimos saber muito sobre v\u00e1rias delas. Tentamos na prefeitura, em museus e v\u00e1rios outros espa\u00e7os em que poder\u00edamos encontrar essas hist\u00f3rias, mas em muitas n\u00e3o existe registro.\u201d As mais conhecidas, como nota, tamb\u00e9m eram aquelas mais relacionadas com a elite pol\u00edtica, como o caso da Rua It\u00e1lia Cautiero Franco, por exemplo, que foi assim nomeada em homenagem a m\u00e3e de Itamar Franco (que tamb\u00e9m batiza uma das principais avenidas da cidade). Mas j\u00e1 em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 rua Diva Garcia, por exemplo, houve pouqu\u00edssimo registro encontrado sobre quem foi essa mulher.<\/span><\/p>\n Outro dado bastante interessante que foi descoberto nas pesquisas \u00e9 que, entre as profiss\u00f5es que s\u00e3o mostradas nas placas, foram 247 doutores homenageados \u2013 enquanto apenas 3 doutoras. J\u00e1 entre os professores, foram homenageados 73 homens, enquanto apenas 29 professoras. O p\u00fablico feminino s\u00f3 ganha em quantidade quando as mulheres s\u00e3o, literalmente, santas: foram 6 santos homens e 23 santas mulheres, como explica Kerley. A iniciativa, logo em seguida, se deu para investigar quem foram essas figuras femininas not\u00e1veis. \u201cTornar isso p\u00fablico \u00e9 uma forma de valorizar essas hist\u00f3rias. Ruas de mulheres que atuam em projetos com causas sociais. O principal objetivo \u00e9 tornar as hist\u00f3rias conhecidas e as pessoas reconhecerem essas mulheres e lembrarem de suas hist\u00f3rias.\u201d<\/span><\/p>\n No mesmo movimento tra\u00e7ado por ela, Olender enxerga que est\u00e3o as a\u00e7\u00f5es que recuperam figuras hist\u00f3ricas antes invisibilizadas e chamam a aten\u00e7\u00e3o para o seu posicionamento de resist\u00eancia. Um dos casos mais emblem\u00e1ticos, em Juiz de Fora, \u00e9 o do viaduto Roza Cabinda, que leva esse nome em homenagem a uma mulher que foi escravizada e lutou para receber sua liberdade na justi\u00e7a. \u201cTemos v\u00e1rias pessoas e personagens da hist\u00f3ria da nossa cidade que foram silenciadas e invisibilizadas, mas cuja hist\u00f3ria merece ser contada e conhecida. Nomear ruas e viadutos com o nome dessas pessoas \u00e9 efetivamente ajudar que essas hist\u00f3rias sejam conhecidas\u201d, destaca.<\/span><\/p>\n Muitos dos pesquisadores e historiadores t\u00eam posicionamentos distintos sobre as homenagens antigas que hoje s\u00e3o questionadas: elas devem ser substitu\u00eddas, melhor contextualizadas ou simplesmente retiradas? No caso do Halfeld, por exemplo, apesar da sua import\u00e2ncia para a cria\u00e7\u00e3o da cidade, trata-se de um escravocrata, como muitos outros homens importantes de seu per\u00edodo. O que fazer, ent\u00e3o, com essas ambiguidades hist\u00f3ricas, olhando do presente?<\/span><\/p>\n S\u00e3o v\u00e1rios caminhos que j\u00e1 est\u00e3o sendo trilhados. Em 2022, na C\u00e2mara Municipal, a verdeadora Laiz Perrut (PT) prop\u00f4s que n\u00e3o pudessem ser feitas homenagens do tipo a escravocratas e pessoas ligadas \u00e0 ditadura militar. O projeto n\u00e3o foi aceito. Mas, em 2025, o assunto volta a tona e toma outras discuss\u00f5es: o <\/span>Projeto de Lei (PL) 2.129\/20<\/span><\/a>, de autoria das deputadas Ana Paula Siqueira (Rede), Leninha (PT) e Andr\u00e9ia de Jesus (PT), prop\u00f5e que a proibi\u00e7\u00e3o seja estendida ao poder p\u00fablico, \u00e0s empresas privadas e \u00e0s entidades sem fins lucrativos, vetando desde nomes de marcas at\u00e9 ruas e monumentos. O projeto recebeu um parecer favor\u00e1vel da Comiss\u00e3o de Administra\u00e7\u00e3o P\u00fablica da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e segue para aprova\u00e7\u00e3o. Enquanto isso, as ruas aguardam.<\/span><\/p>\n O post Nomes de rua em Juiz de Fora: o que simbolizam e quem homenageiam?<\/a> apareceu primeiro em Tribuna de Minas<\/a>.<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Rua Halfeld homenageia homem considerado um dos fundadores da cidade; no entanto, ele era escravocrata (Foto: Leonardo Costa) J\u00e1 dizia Jo\u00e3o do Rio que \u201ca rua \u00e9 um fator da vida das cidades, a rua tem alma\u201d. Mas n\u00e3o s\u00f3 \u00e9 a alma que define esse espa\u00e7o: as ruas, sempre,… Continue lendo 536 ruas levam nome de mulheres<\/h2>\n
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Tornar p\u00fablico quem \u00e9 p\u00fablico<\/b><\/h2>\n
Novos caminhos<\/b><\/h2>\n