“Os gestos”, de Osman Lins, é reeditado em centenário do autor

Publicado pela Edições Olho de Vidro, “Os gestos” publicado originalmente em 1957 segue atual 

Por Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura

“Minhas palavras morreram, só nos gestos sobrevivem” declara o protagonista da narrativa que dá título ao volume de contos de Osman Lins, “Os gestos”. Na breve história, um idoso lida com a angústia de uma mudez que o impede de se comunicar com a própria família. O ambiente doméstico, as relações familiares, a impotência e a incomunicabilidade. São alguns dos temas comuns nas histórias que se seguirão nesse conjunto precioso de narrativas curtas. “Os gestos” é reeditado em edição especial pela Edições Olho de Vidro.

“Os gestos”

A mão no ombro, um toque na cabeça, um último olhar de adeus, uma criança que acaricia o cabelo materno: gestos corriqueiros, diminutos, muitas vezes, sem tanta importância. Pelo olhar de Osman Lins, eles se tornam breves lampejos luminosos, dizendo mais do que palavras. “As palavras – todos sabem – são mortalmente vazias para exprimir certas coisas”, diz outro personagem, obrigado a se despedir – o último adeus – do amor de toda uma vida. “E agora, querida, com quem repartirei estas memórias? Tu te vais e o peso do passado é muito grande para que eu o suporte sozinho”.

Um trapezista prestes a deixar vida nômade do circo, um casal que lida com a morte precoce do filho, a difícil despedida de um neto e uma avó. De texto econômico, a prosa de Osman Lins parece extrair o máximo do mínimo, numa escrita elegante e interessada nos aspectos psicológicos de seus personagens – uma galeria diversa e profundamente humana. “Lograr uma frase tão límpida quanto possível” é uma das ambições declaradas pelo próprio autor no prefácio que abre o volume.

Centenário do autor

“Os gestos” é um resgate fundamental, de um dos grandes autores brasileiros do século XX. Numa edição caprichada, o volume publicado pela Edições Olho de Vidro celebra o centenário de Osman Lins. Publicados pela primeira vez em 1957, os contos seguem atualíssimos, quando os problemas e angústias da humanidade parecem permanecer os mesmos – ou com poucas variações – quase setenta anos depois. 

Os gestos (edic?o?es Olho de Vidro)
Os gestos (edic?o?es Olho de Vidro)

Encontre “Os gestos” aqui.

Gabriel Pinheiro é jornalista e crítico de literatura. Escreve aqui no Culturadoria e também em seu Instagram: @tgpgabriel (https://www.instagram.com/tgpgabriel)

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