Putin é acusado de violar trégua do Domingo de Páscoa que ele mesmo decretou

(Bloomberg) — O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou as forças do Kremlin de violarem a trégua de 30 horas do Domingo de Páscoa, declarada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, e reiterou sua proposta de estender o cessar-fogo por mais um mês.
A Rússia estaria tentando criar “a impressão geral de um cessar-fogo, enquanto em algumas áreas continua realizando tentativas isoladas de avançar e causar perdas à Ucrânia”, disse Zelensky nas redes sociais.
Ele citou 59 casos de bombardeios e cinco ações ofensivas por unidades russas em diversas regiões da linha de frente na manhã de domingo, com base em um relatório do comandante-em-chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi.
Na região russa de Kursk, onde as tropas de Kiev foram majoritariamente forçadas a recuar no último mês, as forças de Moscou realizaram ataques de artilharia e utilizaram drones, segundo Zelensky. As alegações não puderam ser verificadas de forma independente, e a Rússia não se pronunciou sobre o assunto.
Apesar disso, nenhum dos lados relatou ataques com mísseis ou enxames de drones em larga escala, como os que têm ocorrido com frequência na guerra, agora em seu quarto ano.
“Nossos soldados respondem em todos os lugares conforme as circunstâncias específicas de combate exigem”, afirmou Zelensky. “A Ucrânia continuará a refletir as ações russas.”

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Putin havia ordenado a pausa nas hostilidades — com duração pouco superior a um dia — durante uma reunião televisionada no sábado com o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Valery Gerasimov. A trégua está prevista para terminar à meia-noite, no horário de Moscou.
Zelensky classificou o anúncio como “mais uma tentativa de Putin de brincar com vidas humanas”. Mesmo enquanto o líder russo discursava, alertas de ataques aéreos soavam por toda a Ucrânia, e drones de ataque eram detectados nos céus, segundo o presidente ucraniano na rede X (antigo Twitter).
“Se um cessar-fogo total realmente se consolidar, a Ucrânia propõe estendê-lo para além do dia da Páscoa, 20 de abril”, escreveu Zelensky. “Isso revelará as verdadeiras intenções da Rússia — porque 30 horas bastam para gerar manchetes, mas não para construir confiança de verdade. Trinta dias poderiam dar uma chance à paz.”
A decisão de Putin ocorreu um dia após os Estados Unidos alertarem que podem abandonar os esforços liderados pelo presidente Donald Trump para encerrar a guerra na Ucrânia, caso não haja progresso significativo rumo a um cessar-fogo.
Trump, que prometeu durante sua campanha conseguir encerrar rapidamente o conflito, tem demonstrado crescente frustração com o ritmo das negociações com Putin. Ainda assim, permanece determinado a alcançar um acordo dentro dos 100 primeiros dias de seu mandato, iniciado em 20 de janeiro — o que leva ao prazo de 30 de abril.
Segundo reportagem da Bloomberg publicada na sexta-feira, os EUA estariam abertos a reconhecer a Crimeia — ocupada pela Rússia desde 2014 — como parte do território russo, sob um acordo de paz com a Ucrânia. Um plano preliminar apresentado por Washington aos aliados na quinta-feira também incluiria alívio das sanções contra Moscou, caso seja firmado um cessar-fogo duradouro.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, afirmou no sábado que seu país já concordou “incondicionalmente” com a proposta dos EUA de um cessar-fogo total provisório por 30 dias. Por outro lado, segundo ele, a Rússia “impôs várias condições e intensificou o terror contra a Ucrânia, os civis e a infraestrutura civil em todo o país”.
A Rússia condiciona sua aceitação da trégua à redução das sanções e à suspensão do envio de armas à Ucrânia, entre outros pontos.
As últimas semanas foram marcadas por dois ataques russos especialmente letais contra alvos civis na Ucrânia, incluindo a cidade natal de Zelensky, Kryvih Rih, e a cidade de Sumy, no nordeste do país.
Enquanto isso, as tropas russas — que controlam cerca de 20% do território ucraniano — continuam a avançar gradualmente nos campos de batalha. No sábado, Moscou afirmou ter expulsado forças ucranianas de uma vila na região russa de Kursk; Gerasimov disse que a Rússia já recuperou 99,5% do território que as tropas de Kiev chegaram a ocupar naquela área.
Também no sábado, Rússia e Ucrânia realizaram uma nova troca de prisioneiros de guerra, com 246 soldados libertos de cada lado. Além disso, a Rússia soltou 31 soldados ucranianos feridos em troca de 15 militares russos que precisavam de cuidados médicos urgentes, segundo o Ministério da Defesa russo. A troca, intermediada pelos Emirados Árabes Unidos, foi a mais recente de uma série de acordos que já libertaram milhares de combatentes.

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