Biden inicia viagem à África para promover avanço dos EUA sobre China

(Reuters) – Joe Biden embarca para Angola neste domingo em uma viagem que cumprirá a promessa de visitar a África durante sua presidência. A visita se concentrará num grande projeto ferroviário apoiado pelos Estados Unidos que visa desviar minerais críticos da China.

O projeto, parcialmente financiado por um empréstimo dos EUA, liga a República Democrática do Congo (RDC) e a Zâmbia, países ricos em recursos, ao porto angolano de Lobito, no Oceano Atlântico, oferecendo uma rota rápida e eficiente para exportações para o Ocidente.

Em jogo estão grandes fornecimentos de minerais como cobre e cobalto, que são encontrados no Congo e são um componente essencial para baterias e outros produtos eletrônicos. A China é a principal potência internacional no Congo, o que se tornou uma preocupação crescente para Washington.

A China assinou um acordo com a Tanzânia e a Zâmbia em setembro para revitalizar uma linha ferroviária rival para a costa oriental da África.

Embora a viagem de Biden aconteça nos últimos dias da sua presidência, Donald Trump provavelmente apoiará o projeto e continuará sendo um parceiro próximo de Angola quando voltar à Casa Branca, em janeiro, de acordo com duas fontes ​​que serviram na administração anterior de Trump.

Tibor Nagy, embaixador de carreira aposentado e principal enviado à África durante a última administração Trump, disse que o futuro presidente dos EUA provavelmente terá duas preocupações gerais em relação à África. A primeira é a concorrência com a China e a Rússia. A segunda é o acesso a minerais críticos.

“Isto preenche ambas as caixas”, disse ele numa entrevista, referindo-se à Ferrovia Atlântica de Lobito.

O projeto é apoiado pela trader global de commodities Trafigura, pelo grupo de construção português Mota-Engil, e pela operadora ferroviária Vecturis. A Corporação Financeira de Desenvolvimento dos EUA concedeu empréstimo de 550 milhões de dólares para renovar a rede ferroviária de 1.300 quilômetros de Lobito ao Congo.

Biden deve pousar rapidamente em Cabo Verde, na África Ocidental, na manhã de segunda-feira, onde se encontrará com o presidente do país antes de seguir para Angola. Durante a viagem de dois dias ele visitará o museu nacional da escravatura na capital, Luanda, e fará uma parada no porto de Lobito na quarta-feira.

Esta viagem cumpre um conjunto abrangente de promessas para a África. Outras continuam por serem realizadas, como o apoio a dois assentos permanentes para África no Conselho de Segurança da ONU.

Para além do projeto ferroviário, Washington também fez pouco para promover o acesso dos EUA às amplas reservas de minerais africanos que considera essenciais para a segurança nacional, e acumulou outros reveses diplomáticos.

Neste verão, Washington perdeu a principal base de espionagem dos EUA no Níger e não conseguiu encontrar um aliado que acolhesse esses ativos. Isto deixa os EUA sem apoio militar na região do Sahel, que se tornou um ponto crítico da militância islâmica.

Há tempos que Angola nutre laços estreitos com a China e a Rússia, mas recentemente aproximou-se do Ocidente. As autoridades angolanas dizem que estão interessadas em trabalhar com qualquer parceiro que contribua no avanço de sua agenda para promover o crescimento econômico e esperam que o projto estimule o investimento numa série de setores.

“A China só ganhou destaque porque os países ocidentais provavelmente não têm prestado muita atenção na África”, disse o ministro dos Transportes de Angola, Ricardo Viegas d’Abreu, numa entrevista.

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