Desemboque: conheça vila histórica em Minas Gerais com apenas 27 moradores 

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Desemboque é distrito de Sacramento e fica a mais de 500km de Juiz de Fora (Foto: Nelson de Almeida/ Divulgação)

Uma estrada de terra que leva cerca de uma hora e meia desde o centro de Sacramento e fica impossível de atravessar em dias de chuva. A descrição do caminho inclui orientações como “vira quando ver o ‘arvrão’ de ‘ói’” (do mineirês “árvore de óleo” de copaíba) e o GPS não dá conta. A placa anuncia a chegada: “Homens de extrema bravura desterrados do seu próprio mundo fundaram no sertão da farinha podre em 1743 a capela de Nossa Senhora do Desterro, dando início ao povoado do Desemboque, marco inicial da colonização do Brasil Central”. É assim que a vila de 27 habitantes se apresenta pro mundo. Conhecida como berço do Queijo Minas Artesanal, lar de igrejas históricas e dona de uma galinhada dos tropeiros que atrai visitantes de todo o Brasil, a Tribuna visitou o local e pôde conferir toda essa história de perto. 

A história de Desemboque começa quando, no século 18, os bandeirantes portugueses estavam em busca de ouro pelo Triângulo Mineiro (conhecido, até então, como sertão da farinha podre). O local foi aos poucos atraindo comerciantes de todo o país e servindo como ponto de parada na corrida do ouro, chegando a ter cerca de dois mil habitantes no local. Enquanto se estabeleciam, levavam para a vila os carros de boi, e a ordenha das vacas começou a ser feita em currais. Para dar conta das viagens necessárias, no entanto, a preparação do leite cru em queijo minas artesanal começou a ser realizada.

Mas a trajetória de Desemboque mudou quando as minas de ouro entraram em processo de decadência e outros interesses econômicos passaram a chamar mais a atenção. Aos poucos, os habitantes foram deixando o distrito afastado e indo para outras regiões, que também tinham a economia se desenvolvendo. Apesar da distância de Juiz de Fora e da Zona da Mata, que fica a mais de 500 km do local, esse começo é bastante significativo para toda a região.

No entanto, quem ficou se empenhou para que essa história fosse preservada. É o caso, por exemplo, de Vanuza de Paula, que além de fazer a famosa galinhada que atrai os visitantes, também ajuda na conservação da Igreja Nossa Senhora do Desterro, que fica bem no “miolo” da vila. Já raro em Minas, um dos moradores cumprimenta quem passa na calçada e chama para tomar um café, sem nem precisar de apresentações. Desemboque é bastante simples e consegue exemplificar bem o jeitinho mineiro, e carrega no meio dessa delicadeza muita história, que ela conta pra quem a pergunta, na Lanchonete Branca. Essa visita foi feita durante o tour pelas microrregiões do Cerrado, Serra do Salitre e Araxá, a convite da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG).

A famosa galinhada de Desemboque

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Galinhada de Desemboque é tradicional e pode ser servida para até 500 pessoas (Foto: Nelson de Almeida/ Divulgação)

A galinhada de Desemboque já foi visitada até pela equipe do chefe Jacquin e por diversos outros programas de cozinha brasileiros. É parada obrigatória. A receita é de Vanusa, que reproduz o prato legítimo já aprendido por outras gerações da família, e que ela passa pra frente através de sua nora, Iasmin Kananda, que fez pela primeira vez sozinha a galinhada no momento desta visita, em dezembro.

Em dia de festa, o local chega a fazer a galinhada para cerca de 500 pessoas, mostrando bem esse potencial turístico que a gastronomia de qualidade tem. Além da galinhada, o que consegue atrair turistas é a Festa da Nossa Senhora do Desterro, que acontece entre os dias 13 e 16 de julho, e conta com missas durante todas as noites e uma procissão com a padroeira da vila.

Igrejas centenárias

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Igrejas de Desemboque carregam histórias de Minas Gerais (Foto: Nelson de Almeida/ Divulgação)

As igrejas de Desemboque são de arquitetura barroca e remontam a esses tempos de começo da vila. A Igreja de Nossa Senhora do Desterro, maior símbolo do local, foi construída em 1762 (assim como a placa sinaliza) e conta com um cemitério bem na sua frente, que precisa ser atravessado para ingressar dentro do local, que tem missa pelo menos uma vez por mês. A princípio, essa igreja só podia ser frequentada por brancos, e também o sepultamento era apenas de brancos, como acontecia em quase toda cidade mineira nesses tempos. Para preservá-la, Vanusa conta que insiste com o poder público e pede mais cuidados, já que o espaço também foi saqueado diversas vezes, chegando a ter o sino furtado.

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foi criada e frequentada por negros, que também eram sepultados lá. Esquecidos por muita gente, no entanto, esses espaços históricos hoje são habitados principalmente pelos moradores de Desemboque, entre eles crianças de uma mesma família que, bem distantes de escolas (que vão de carro e levam mais de 1h para chegar) e de colegas, brincam com os visitantes que por vezes aparecem por lá, fazendo pique-esconde nas igrejas.

*Repórter viajou a convite da Secult

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