Pesquisador diz que “Trump está mais para um palhaço perigoso do que para Hitler”

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Foto: reprodução

Em entrevista à Carta Capital, David Daley, pesquisador que se dedica há anos ao estudo do fenômeno do extremismo de direita, disse que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, “está mais para um palhaço perigoso do que para Hitler”:

Quais as semelhanças entre a extrema-direita atual e os movimentos que desembocaram no nazismo e no fascismo nas primeiras décadas do século passado?

Certamente, há um populismo de direita assustador em marcha em grande parte da América Latina, em países da Europa, lugares onde em tese eles saberiam lidar melhor com a situação, dado o histórico, e também nos Estados Unidos. As causas são complexas, e muitas têm a ver com situações específicas em cada país, mas podemos traçar muitos paralelos, como entre o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) e a ascensão de Donald Trump.

Ainda assim me parece que parte do que acontece nos EUA é um pouco diferente do que ocorre em outros lugares do mundo. As crises econômicas, como a Grande Depressão nos anos 1930, tendem a acentuar movimentos populistas, mas nos Estados Unidos de hoje, quando pensamos em desemprego, taxas de juro, não é um problema. (…)

É exagerado temer o surgimento de um líder autoritário como Hitler? Trump tem esse perfil?

Honestamente, Trump está mais para um palhaço perigoso do que para Hitler. E pode muito bem estar sob o domínio de sabe-se lá que tipo de influência. Quando olhamos para as primeiras nomeações do gabinete, vemos gente como Tulsi Gabbard na Inteligência e Pete Hegseth, ex-apresentador da Fox News, na Defesa…. Não acho que esses palhaços poderiam comandar essas instituições, eles não são autoritários brilhantes.

O risco aqui é a estupidez que, assim como o autoritarismo, insistimos muitas vezes em ignorar, ao permitir que essas instituições sejam assumidas por figuras pouco sérias, indignas de comandá-las e, provavelmente, sem capacidade, que podem causar danos extraordinários enquanto estiverem nessas posições.

Não me preocupo tanto com um cenário semelhante àquele da Segunda Guerra Mundial, quando penso na extrema-direita atual. O perigo real está mais próximo quando as instituições são corrompidas e controladas por palhaços.

There was only one Hitler. Stop likening him to Trump - Los Angeles Times
Apoiadores de Trump em Bedminster, Nova Jersey (EUA), com a bandeira “Trump ou morte”. Foto: Stephanie Keith

É inegável a influência de Trump sobre outros líderes mundiais. Veremos um efeito em cascata?

Sim, ele pode criar mini-Trumps ao redor do mundo, uma ideia absolutamente perturbadora. Mas Trump e seus mini são, por mais difícil que possa parecer, apenas uma parte pequena do que estamos analisando sobre o extremismo.

O problema real, novamente, é a retirada das instituições democráticas da estrada. Se isso acontecer, será muito, muito difícil retomá-las ou reconstruí-las. Falamos da possibilidade concreta de os nossos tribunais serem sequestrados tão completamente, a ponto de que as nossas eleições e os nossos processos políticos quase não importarem mais.

Tomemos os Estados Unidos novamente como exemplo. Nesta última eleição, a consequência real é o controle conservador que tende a ser apoiado pelos tribunais e capaz de impor o que quiser por quanto tempo quiser. Trump e outros líderes como ele, provavelmente, não têm agenda política, habilidade política ou habilidade legislativa para promover qualquer agenda real, mas há nomes em vários think tanks conservadores que sabem muito bem o que querem e o que esperam ver acontecer. (…)

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