Mulher que teve o rosto desfigurado por modelo em SP lamenta: “Fui pintada como caçadora de recompensas”

A consultora de imóveis Milka Borges, de 38 anos, estava na fila do banheiro do restaurante de luxo do Jockey Club, em São Paulo, quando uma confusão foi criada pela modelo Fernanda Bonito, que furou a fila sob o argumento de ser namorada do proprietário do local. Milka foi agredida pela modelo, que arremessou contra ela um copo de vidro. A consultora levou 90 pontos e, durante meses, teve de conviver com o rosto desfigurado.

Cinco anos depois, a Justiça condenou Fernanda a três anos e quatro meses de prisão por lesão corporal grave. O julgamento criminal ocorreu no dia 8. Por ser ré primária, a modelo deverá cumprir a pena em regime semiaberto e poderá recorrer da decisão em liberdade. Ao UOL, Milka contou detalhes do caso e como se sente após a divulgação da sentença.

Ela conta que, depois da desavença por causa da filha do banheiro, começaram as agressões porque Fernanda a “atropelou” na passagem. “Fernanda começou a puxar meu cabelo e a arranhar meu rosto. Tentei contê-la e pedi que me soltasse. Em dado momento, ela me largou e saiu. Então, me agachei para pegar minhas coisas que tinham caído no chão. De repente, Fernanda voltou ao toalete, desta vez acompanhada do namorado e de um segurança — e então arremessou um copo no meu rosto”, lembrou. “Eu ainda estava de cócoras recolhendo minhas coisas no momento da agressão, sem qualquer possibilidade de defesa. Quando me olhei no espelho, estava toda ensanguentada”.

Ela continua: “Saí do restaurante e fui correndo para o hospital, onde fiquei por 18 horas. Tive de levar 90 pontos no rosto e fiquei desfigurada por meses. Apesar da gravidade do ocorrido, a sentença contra Fernanda só saiu na última quarta-feira, quase cinco anos depois”, ela lamenta. “A decisão, claro, representa uma vitória para mim e para todos os que estão do lado da verdade. O sentimento é o de que a justiça foi feita. Apesar disso, sei que é só o primeiro passo de uma longa caminhada”.

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Ela diz isso porque Fernanda pode recorrer e é ré primária. E a sentença determina regime semiaberto. Além disso, ela busca uma indenização por danos físicos e psicológicos e pelo ressarcimento do dinheiro gasto para a reconstrução do rosto. Pede R$ 800 mil.

“Infelizmente, a versão construída pela defesa foi a de que, pasme, eu me beneficiei de tudo o que aconteceu comigo. Quiseram me pintar como uma caçadora de recompensas”, lembra.

Ela diz que “dinheiro é importante, sim. Eu tenho contas a pagar e muitos sonhos a realizar. Apesar disso, esse valor não vai transformar a minha vida. Daria tudo para voltar àquela noite e evitar o que me ocorreu.”

“Nesses cinco anos, nunca recebi uma única ligação da Fernanda, um pedido de desculpas, nada. Apesar disso, eu a perdoo. Se resisti até aqui, foi para me libertar do mal que me foi causado”, diz. “Todos os dias, acordo com mensagens e fotos impactantes de pessoas que passaram por eventos semelhantes, e até piores. Nessas horas, olho para mim mesma e penso: ‘Glória a Deus. Fui poupada!’”.

“Tenho um projeto social, o ‘Bem para todos’, que já ajudou milhares de jovens a sair da pobreza e ter uma vida mais digna. Agora, estamos desenvolvendo um aplicativo para tentar auxiliar pessoas que ficaram com a aparência comprometida depois de serem vítimas de alguma violência”, conta.

“O sistema de saúde brasileiro não contempla esse tipo de problema. Pensam que, por ser uma questão estética, é fútil, não é importante — mas é. A nossa aparência tem um impacto significativo na nossa saúde mental”, revela. “Hoje, não me sinto plenamente feliz com o que vejo no espelho, mas sou feliz. Deus me deu uma nova chance de viver. Aprendi que posso escolher ser feliz e ter uma vida extraordinária.”

Procurado pelo UOL, o advogado Carlos Alberto Costa Silva, que integra a equipe de defesa de Fernanda, afirmou, em nota, que considera a decisão judicial “injusta” e que “muitas vezes, é mais fácil condenar do que enfrentar as vicissitudes de dramas humanos, que podem ter sido causados num exercício de defesa própria”.

Ele disse, ainda, que “as contradições da decisão” serão exploradas em novo recurso e que a equipe enxerga nele “a plena condição de reforma da sentença”.

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