Desejo de Trump por juros mais baixos está se realizando, com exceção do Fed

Corredores passam pelo edifício do Federal Reserve Marriner S. Eccles em Washington, DC. (Erin Scott/Bloomberg)

WASHINGTON (Reuters) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está conseguindo realizar seu desejo de que as taxas de juros caiam em todo o mundo, mas não em seu país, onde uma economia forte e a incerteza sobre suas próprias medidas têm preparado o terreno para que o Federal Reserve se distancie de seus pares globais.

O Banco Central Europeu reduziu a taxa de juros na quinta-feira, enquanto o Banco do Canadá também o fez na quarta-feira e o Banco da Inglaterra provavelmente o fará na próxima semana – medidas que, com o Fed em uma trajetória de manutenção dos juros, poderiam fortalecer o dólar e complicar ainda mais os objetivos comerciais de Trump, tornando as importações mais baratas e as exportações dos EUA mais caras.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, observou na quinta-feira que as novas tensões comerciais poderiam até mesmo pressionar mais o crescimento fraco da zona do euro, um argumento para reduzir ainda mais os juros na zona do euro.

“Os riscos para o crescimento econômico continuam inclinados para o lado negativo”, disse Lagarde sobre as ameaças de tarifas de Trump sobre um amplo conjunto de países. “Tudo o que sabemos com certeza é que isso terá um impacto global negativo.”

Quanto a taxa de juros, “sabemos que a direção da viagem” será mais baixa, disse Lagarde depois que o Conselho do BCE reduziu os juros em mais 25 pontos-base. “Em que ritmo, em que sequência, em que magnitude, será informado pelos dados que coletarmos.”

Na quarta-feira, o presidente do Banco do Canadá, Tiff Macklem, também lamentou as ameaças tarifárias de Trump, com o banco central canadense realizando seu sexto corte consecutivo nos juros e reduzindo as previsões de crescimento para o país.

“Um conflito comercial duradouro e de base ampla prejudicaria gravemente a atividade econômica no Canadá”, disse ele.

O próximo da fila é o Banco da Inglaterra, que deve reduzir os juros na próxima quinta-feira, com a possibilidade de que o ritmo de cortes seja mais rápido do que o esperado atualmente.

Isso deixa o Fed, por enquanto, isolado entre as principais economias. Embora as autoridades do banco central dos EUA prevejam reduções nos juros ainda este ano se a inflação diminuir conforme o esperado, o chair Jerome Powell disse na quarta-feira que não há motivo para apressar o próximo passo.

“Consideramos que as coisas estão em uma situação muito boa para a política monetária e para a economia e, portanto, achamos que não precisamos ter pressa para fazer qualquer ajuste”, disse Powell aos repórteres depois que o Fed decidiu manter os juros inalterados na quarta-feira.

Esse não foi o resultado que Trump disse uma semana antes que “exigiria” do chair do Fed que ele nomeou em seu primeiro mandato, com quem se desentendeu por conta de divergências sobre a política monetária e que deverá substituir quando o atual mandato de quatro anos de Powell terminar em maio de 2026.

“Exigirei que os juros caiam imediatamente. E, da mesma forma, eles deveriam estar caindo em todo o mundo”, disse Trump em comentários na semana passada para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Na verdade, conseguir apenas metade do que ele deseja pode ser pior do que nada, com a divergência de abordagens entre o Fed e seus pares colocando uma possível pressão de alta sobre o dólar, algo que manteria as importações mais baratas em um momento em que Trump deseja um “reequilíbrio” do comércio global em favor dos EUA.

O dólar já subiu 7% em relação a uma cesta global de moedas desde setembro, apesar dos cortes de juros pelo Fed terem totalizado 100 pontos-base no ano passado.

A diferença de tom entre o Fed e seus pares destaca o caminho diferente que a economia dos EUA tomou quando o mundo emergiu de uma recessão profunda, mas curta, da pandemia da Covid-19 em 2020.

A inflação alta foi um fenômeno global e os bancos centrais lançaram uma resposta uniforme de aumentos rápidos dos juros para tentar controlá-la.

Mas, nos EUA, isso aconteceu com a economia mantendo um crescimento econômico acima da tendência, enquanto a Europa esteve à beira da recessão.

Essa situação deixou Trump com um dilema em potencial: como melhorar os resultados econômicos do governo Joe Biden em uma economia que, sem dúvida, está operando em pleno emprego com produção e taxas de crescimento próximas ou além dos limites de seu potencial.

A inflação está quase contida, mas o Fed vê incertezas e riscos suficientes no horizonte que o levaram a se distanciar de seus pares, pelo menos por enquanto.

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