Mãe de jovem que quase morreu ao cheirar pimenta detalha luta por homecare: “É muita humilhação”

A trancista Thais Medeiros de Oliveira, de 27 anos, que teve uma crise grave de asma ao cheirar uma pimenta e quase morreu, em Goiás, completará dois anos acamada no próximo dia 17 de fevereiro. Desde o incidente, ela já teve muitas idas e vindas do hospital e, atualmente, segue sob cuidados em casa. A mãe dela, Adriana Medeiros, contou ao Metro World News sobre os desafios enfrentados ao longo desse tempo e explicou como um homecare mudaria a vida da família. Mesmo com uma decisão judicial que obriga a Prefeitura de Goiânia a oferecer o serviço, a medida ainda não foi cumprida.

“É muita humilhação. A Thais tem direito ao homecare, pois precisa de cuidados em tempo integral, o que já foi comprovado por uma junta médica. A Prefeitura de Goiânia, inclusive, já chegou a fazer reuniões dizendo que ia fornecer o serviço, mas não sei o que aconteceu e até agora nada. Já tivemos sete negativas e, mesmo com a decisão judicial que determinou o atendimento domiciliar, seguimos sem o auxílio”, explicou Adriana.

A mãe disse que a prefeitura chegou a oferecer visitas mensais com profissionais multidisciplinares para a trancista, mas eles já recebem essa assistência e precisam mesmo é de um auxílio diário.

“A Thais é muito bem atendida pela equipe do CRER [Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo], aqui de Goiânia, e todo mês eles enviam um médico, uma enfermeira e um fisioterapeuta para que vejam como ela está. Aí a prefeitura quer fazer o mesmo e fica batendo nessa tecla. Mas o que a gente precisa é mesmo do homecare, nem precisa ser por 24 horas, se fossem 12 horas diárias já estaria ótimo”, disse a mãe.

Adriana ressaltou que, a partir de doações, Thais já tem a maioria dos equipamentos dos quais precisa. “Eles [prefeitura] precisam só fornecer os enfermeiros para cuidarem dela 12 horas por dia. Se isso acontecer, vou poder montar meu salão de beleza de novo aqui na porta de casa e poderei trabalhar, é meu sonho. Nenhuma mãe quer viver de doações, quero poder trabalhar para dar o melhor para a minha filha e minhas netas. Mas, sem o homecare, minha vida hoje é toda voltada a cuidar dela”, relatou.

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A mãe da trancista afirma que já recebeu visitas de equipes da administração municipal, que confirmaram que a jovem se enquadra nos requisitos para o homecare e a orientaram a continuar insistindo.

“Uma médica veio aqui e falou que era para eu arrochar mais um pouquinho que ia conseguir, mas até agora nada. Mas nosso advogado segue lutando por isso e, inclusive, notificou o juiz para que ele aplique as multas para a prefeitura pelo descumprimento da decisão judicial. A gente não vai desistir daquilo que é um direito da Thais”, reforçou a genitora.

Procurada pelo Metro World News, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia esclareceu “que o Sistema Único de Saúde (SUS) não reconhece nenhuma política pública de Home Care. Goiânia custeia, com recursos próprios, um serviço para pacientes que saem da UTI, vão para casa, e precisam de respiradores, ou seja, não conseguem respirar sozinhos, o que não é o caso da paciente em questão. Portanto, ela não se enquadra nos critérios de atendimento do serviço municipal e, por isso, o município recorreu da decisão”.

A pasta destacou, ainda, “que a decisão judicial existente é para que seja fornecida à paciente atenção domiciliar na modalidade AD2, que são visitas de equipe multidisciplinar de saúde, mas a modalidade não foi aceita pela família. A paciente já é assistida por esse serviço por uma equipe multidisciplinar do Crer”.

Por fim, a secretaria reiterou “que não há como disponibilizar profissional de enfermagem 24 horas, uma vez que a paciente não atende aos critérios do serviço que se destina à pacientes que necessitam de respiradores”.

Enquanto não consegue a ajuda de que precisa, a família de Thais está promovendo uma rifa, cujo prêmio é um apartamento todo reformado, em Goiânia, que deve ser sorteada no próximo dia 22 de fevereiro. Caso o ganhador não queira o imóvel, receberá R$ 150 mil no pix.

“Tivemos que recorrer a essa rifa, mas não vemos logo a hora de finalizá-la, pois são muitas coisas envolvidas. Mas logo o sorteio chega e agradecemos muito a todos que têm colaborado com a gente”, disse a mãe.

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Desafios diários

Adriana contou que, atualmente, Thais está bem de saúde e passa por um tratamento para fechar úlceras de pressão, popularmente conhecida como escaras. Além disso, ela tem o acompanhamento de um fisioterapeuta, de uma fonoaudióloga e, há pouco, começou a receber uma terapia com canabidiol.

“Tem sete dias que ela passou a receber o canabidiol e já percebi uma grande melhora. Se tudo der certo, o médico poderá reduzir o uso de anticonvulsivantes que ela precisa tomar todos os dias. Além disso, tem ajudado bastante na espasticidade muscular, fazendo com que fique mais fácil que ela faça os exercícios na fisioterapia. O trabalho do Rener, o nosso fisioterapeuta, tem sido incrível com ela. Graças a ele ela não tem escoliose, que seria mais um agravante para a situação”, detalhou a mãe.

Apesar do quadro estável, Adriana contou que sabe que os desafios que serão enfrentados nos cuidados com Thais continuarão por longo prazo.

“Os médicos dizem que o estado dela é irreversível, mas a gente confia em Deus e sabe que nada é impossível. Então a gente busca sempre o melhor tratamento para melhorar a qualidade de vida dela, queremos até procurar um neurologista que atende em um hospital no Rio de Janeiro para ver se ele nos dá uma luz. A gente não está em busca de uma cura total, mas de uma melhora pra ela”.

Adriana lembrou que, com a proximidade da data em que completam dois anos que a filha está acamada, ela fica “mais abalada”.

“Eu já enfrentei muita coisa, posso dizer que hoje sou médica dela. Aprendi a fazer coisas que jamais imaginei, mas é muito difícil ver um filho seu nessa situação. Mas meu amor por ela está acima de tudo, vou do céu ao inferno para lutar por ela. Agradeço muito ao apoio de muita gente que tenho recebido, me sinto abraçada, e por isso seguiremos em frente firmes na luta. Confiando que Deus tem o melhor plano para a nossa vida, mas nessa época do ano eu fico sim abalada”, disse a mãe.

Questionada se o ex-namorado de Thais, que estava com ela quando passou mal, a visita, Adriana explicou que as famílias cortaram relações.

“Eles não eram, de fato, namorados. Estavam se conhecendo. Mas nada disso foi culpa dele, nunca falamos isso, mas o rapaz acabou tentando ganhar fama em cima da situação de Thais e achamos melhor não manter vínculos. A mãe e uma tia dele chegaram a visitá-la no hospital, mas o rapaz mesmo seguiu a vida dele, como tinha que ser. Preferimos assim”.

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Reação à pimenta

A trancista passou mal na tarde do dia 17 de fevereiro de 2023 durante um almoço na casa do rapaz com quem iniciava um relacionamento. Ele contou que ela cheirou a pimenta e, em seguida, começou a “perder as forças”. Ela foi levada às pressas até o Hospital Evangélico Goiano (HEG), onde foi constatado que sofreu um edema cerebral.

Ao chegar no hospital, a jovem sofreu uma parada cardiorrespiratória, quando ficou cerca de sete minutos sem pulso e 15 minutos sem oxigênio. Assim, ela foi sedada e intubada para evitar danos cerebrais. Depois, foi transferida para a Santa Casa de Anápolis, onde ficou na UTI.

Depois, foi transferida para um quarto, onde seguiu sua recuperação. No entanto, o diretor técnico da Santa Casa de Anápolis, Murilo Carlos Santana, ressaltou que o quadro dela era delicado.

Os médicos acreditam que a jovem sofreu uma crise de grave de asma ao cheirar a pimenta e, por conta da baixa circulação de oxigênio no cérebro, teve danos neurológicos. O condimento teria sido o gatilho.

A mãe da jovem havia dito que a filha sofria com bronquite desde que ficou grávida, mas ninguém sabia que ela poderia ter alguma reação à pimenta.

Desde o episódio, Thais teve várias idas e vindas ao hospital, sendo só em Unidades de Terapia Intensiva foram mais de 90 dias de internação.

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