Carla Zambelli foi abandonada, para que outros da extrema direita sejam salvos. Por Moisés Mendes

A deputada cassada, Carla Zambelli – Foto: Reprodução

Se um tribunal regional condenou Carla Zambelli por delito eleitoral, pode acontecer o mesmo com outras figuras da extrema direita? Pode se repetir com Nikolas Ferreira, que enfrenta duas investigações no TRE de Minas?

Pelo conjunto das obras, Zambelli e Nikolas poderiam disputar uma copa de acusações, investigações e denúncias formais com todo tipo de crime. Mas não há quem possa garantir que Nikolas, sempre citado, esteja entre os próximos da fila.

Primeiro, porque o TRE de Minas não é o TRE de São Paulo, o que não significa que um possa ser mais atrevido do que o outro no enfrentamento da extrema direita. E é ingênuo quem acredita em parâmetros técnicos que possam orientar as próximas decisões.

Às vésperas do cerco aos golpistas, qualquer decisão, em qualquer esfera, passa cada vez mais pela calibragem das questões políticas e mais ainda na área eleitoral.

Zambelli, que perdeu o suporte da família Bolsonaro, encaminha-se para o sacrifício. Talvez nada mais possa ser feito para salvá-la. Até porque, logo depois da condenação pelo TRE/SP, foi denunciada por um crime mais grave.

A Procuradoria-Geral da República pediu a condenação da deputada pela invasão do sistema de informática do Conselho Nacional de Justiça.

Zambelli e o hacker Walter Delgatti Neto foram denunciados por terem se acumpliciado, em 2022, para inserir no sistema do CNJ um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Os dois são réus no STF.

Zambelli ainda enfrenta outro caso tenebroso, também de 2022, quando correu, com arma em punho, atrás do jornalista Luan Araújo pelas ruas de São Paulo. Até agora, apenas Araújo foi condenado por difamação contra a bolsonarista.

Zambelli e seu medonho conjunto de delitos talvez não abram porteiras para outros casos semelhantes, como referência a outros TREs, porque o sistema de Justiça não teria forças para uma sequência de condenações e cassações na área eleitoral, até a última instância no TSE.

Se tivesse forças, não teria feito o que fez em abril do ano passado, quando o relator no TSE do recurso contra a absolvição do senador bolsonarista Jorge Seif, pelo TRE de Santa Catarina, pediu novas diligências para a coleta de provas.

E desde então, desde aquele longínquo abril, aguarda-se o desfecho do recurso do caso em que Seif e o autoproclamado véio da Havan são acusados de abuso de poder econômico na campanha de 2022.

Em que gavetas foram parar as novas provas, se é que existem? Por que o TSE decidiu pedir mais provas, se essa não é a conduta padrão de um tribunal superior?

No caso de Nikolas, que já vestiu peruca loira para atacar pessoas trans e que dissemina ódio, preconceito e fake news com desenvoltura, o furo talvez esteja mais ao lado. O deputado enfrenta duas investigações no tribunal de Minas.

Deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) usando peruca durante discurso transfóbico na Câmara – Foto: Reprodução

Nikolas é a figura com maior apelo popular do bolsonarismo, com uma base de seguidores que nenhum fascista conseguirá igualar nas redes sociais. E se mantém vivo, ativo e forte, ao contrário da alquebrada Carla Zambelli.

É o que basta para que consiga escapar? Pode não bastar, mas é um dado relevante nessas situações. Só vai para o sacrifício, como acontece nas selvas, não necessariamente o menor animal ou mais jovem e inexperiente, mas o bicho mais fragilizado. Nikolas é um bicho forte.

Podem sacrificar Zambelli, como oferenda capaz de acalmar o sistema de Justiça (e até alguns parceiros de turma), para que o resto seja negociado. Ela é figura mais frágil e abandonada da direita hoje.

Jorge Seif, Nikolas Ferreira, Gustavo Gayer (absolvido pelo TRE de Goiás e dependente de recursos no TSE) e outros sem a mesma fama poderão ser poupados, se o sacrifício de Zambelli for suficiente.

Numa situação ideal, é possível imaginar-se que todos eles correm o risco da condenação e da perda de mandatos em julgamentos que, depois do veredito dos tribunais regionais, terão de ir à luta no TSE.

Mas a situação ideal não funciona quando a Justiça, em todas as áreas, depende cada vez mais dos humores da política. E esses humores continuam favorecendo o fascismo.

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