Big Mac do Brasil mais barato em dólar que nos EUA é retrato do real desvalorizado

Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles, num pão com gergelim, é a composição do sanduíche clássico do McDonald’s, que se tornou referência para medir se uma moeda está supervalorizada ou subvalorizada em relação ao dólar. Na edição de janeiro de 2025, o Índice Big Mac mostrava que o real estava 30,5% desvalorizado.

Essa constatação foi feita porque, enquanto nos Estados Unidos o Big Mac era vendido por US$ 5,79, por aqui o sanduíche estava na faixa dos R$ 23,90 (US$ 4,02). “A taxa de câmbio implícita é 4,13. Considerando a diferença entre ela e a taxa de câmbio real, sugere que o real brasileiro está subvalorizado”, analisa o indicador da The Economist.

Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da Top Gain, explica que a lógica do indicador é simples: transforma-se o sanduíche numa espécie de commodity, que em um mercado global ideal deveria custar o mesmo valor em qualquer lugar, após ajustar as diferenças cambiais. 

Se um Big Mac custa mais caro em um país do que nos EUA, isso pode sugerir uma moeda supervalorizada; se custa menos, indica uma possível desvalorização. “A ideia é de que o mesmo dólar que compra o sanduíche nos Estados Unidos deveria também comprar fora de lá.”

Na Argentina, por exemplo, está o segundo Big Mac mais caro do mundo (US$ 6,93), atrás somente da Suíça (US$ 7,99), mostrando que o peso argentino e o franco suíço estão supervalorizados em 21% e 38%, respectivamente. Na zona do euro, a diferença é um pouco menor (2,8%) frente à moeda americana, com o sanduíche sendo comercializado a US$ 5,96.  

Big Mac nas análises econômicas?  

Apesar de ser uma ferramenta curiosa e didática, o Índice Big Mac tem suas limitações. Ele não leva em conta diferenças regionais nos custos de produção, impostos, tarifas comerciais ou preferências de consumo.  

Lima ressalta, por exemplo, que os serviços, incluindo restaurantes, costumam ser mais caros nos Estados Unidos do que no Brasil. “Quando se converte o custo de alimentação e serviços do real para o dólar, essa diferença se torna ainda mais evidente.”

Por isso, o analista destaca que o Índice Big Mac, embora traga insights interessantes, não deveria ser usado como uma referência séria para identificar oportunidades de operação cambial ou para afirmar se uma moeda está cara ou barata. “É uma abordagem ineficiente para esse tipo de análise”, alerta.

Real tem chances de se valorizar?

Para o Índice Big Mac, o real está 30,5% subvalorizado frente ao dólar, e a constatação considerou a disparada da moeda americana observada no final de 2024. Para Matheus Lima, não é impossível o real recuperar o que foi perdido, só que isso não será do dia para noite.

“Estamos falando de uma valorização significativa, mas não impossível, especialmente considerando que o real é uma moeda extremamente volátil. Não vejo como algo inviável a possibilidade de o dólar perder valor em torno de 30% nos próximos anos”, diz. 

Entretanto, o analista de investimentos não acredita que essa seja uma medida eficiente para mensurar o câmbio, visto que o indicador é algo usado pelo mercado financeiro para tentar modelar um tema complexo. “Existem várias teorias e muitas variáveis que justificam as oscilações cambiais, e o Índice Big Mac é apenas mais uma, com um tom descontraído.”

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