Hugo Motta, um golpista querendo redimir o chefe dos golpistas

Hugo Motta e Arthur Lira

A fala do recém-empossado presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), minimizando os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, gerou forte repercussão negativa. Em entrevista a uma rádio da Paraíba, Motta afirmou que os ataques às sedes dos Três Poderes foram uma “agressão inimaginável” às instituições, mas negou que tenham sido uma tentativa de golpe de Estado.

A declaração causou indignação entre juristas, parlamentares e parte da opinião pública, que veem na declaração do deputado uma tentativa de reescrever os fatos e diluir a gravidade do maior ataque às instituições democráticas do Brasil desde a redemocratização.

“O que aconteceu não pode ser admitido que aconteça novamente. Foi uma agressão às instituições, uma agressão inimaginável, ninguém imaginava que aquilo pudesse acontecer”, disse Motta. Em seguida, minimizou os acontecimentos: “Agora, querer dizer que foi um golpe… Golpe tem que ter um líder, tem que ter pessoa estimulando, apoio de outras instituições interessadas, como as Forças Armadas, e não teve isso.”

A fala contraria a avaliação do Supremo Tribunal Federal, cujo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, já classificou os atos como uma tentativa de golpe de estado. Além disso, políticos bolsonaristas tentam esvaziar a gravidade do episódio ao chamá-los de vandalismo, o que, para críticos, é uma estratégia para suavizar a responsabilidade de figuras que incentivaram e financiaram os ataques.

O destino final da viagem é a viabilização de Jair Bolsonaro. Logo após a declaração, Bolsonaro postou um vídeo mentiroso dizendo que a Lei da Ficha Limpa só é utilizada para perseguir nomes da direita e defendeu o fim da normatização. A Lei da Ficha Limpa tirou o próprio Lula das eleições de 2018, quando Bolsonaro foi eleito.

Motta também criticou as penas aplicadas pelo STF, insinuando que há um “certo desequilíbrio” nas condenações.

“Não pode penalizar uma senhora que passou ali na frente do palácio, não fez nada, não jogou uma pedra e receber 17 anos de pena para regime fechado. Há um certo desequilíbrio nisso. Nós temos que punir as pessoas que foram lá, quebraram, depredaram. Essas sim precisam ser punidas. Entendo que não dá para exagerar no sentido das penalidades com quem não cometeu atos de tanta gravidade”, afirmou.

A relativização dos ataques e a defesa velada da anistia dos envolvidos reforçam a preocupação de que Motta, à frente da Câmara, possa favorecer pautas que beneficiem os condenados pelos atos de 8 de janeiro.

A entrevista também evidenciou a ambiguidade de sua postura em relação ao projeto de anistia aos golpistas. “Não posso dizer que vou pautar semana que vem ou que não vou pautar de jeito nenhum. É um tema que estamos digerindo, conversando, porque o diálogo tem que ser constante”, afirmou o parlamentar, sugerindo que o caminho poderá ser uma negociação com o Judiciário para “encontrar uma saída”.

Dessa forma, Hugo Motta não apenas relativiza a tentativa de golpe, mas também abre espaço para o perdão judicial de seus envolvidos. Se conseguirá levar adiante essa manobra, ainda é uma incógnita, mas a repercussão negativa mostra que o discurso revisionista encontra forte resistência.

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