“Café fake” preocupa especialistas e consumidores no Brasil

Xícara de café. Foto: Reprodução

Um vídeo divulgado na última semana acendeu o alerta sobre um produto que se apresenta como café, mas não é. Celírio Inácio da Silva, diretor da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), descreveu a mistura como um “pó para preparo de bebida à base de café”, composto por cascas, mucilagem e outros resíduos que acompanham o grão, mas que não deveriam estar na bebida. O item viralizou nas redes sociais com os apelidos de “café fake” ou “cafake”.

A Abic afirma que o produto não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercialização. Mesmo assim, pacotes de meio quilo foram encontrados à venda por R$ 13,99, menos da metade do preço médio do café no varejo, que gira em torno de R$ 30.

A popularização do “cafake” é um exemplo extremo de um fenômeno comum em períodos de inflação elevada: a oferta de produtos similares aos originais, mas de qualidade inferior. Entre eles, estão itens como bebidas lácteas (vendidas como alternativa ao iogurte), óleos compostos (mistura de azeite com outros óleos vegetais) e cremes culinários (substitutos do creme de leite).

Segundo a BBC Brasil, o debate sobre esses produtos ganhou força após uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última quinta-feira (6), sugerindo que os consumidores troquem itens caros por alternativas mais baratas como forma de pressionar o mercado. “Se todo mundo tivesse a consciência e não comprasse aquilo que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar o preço para vender, senão vai estragar”, afirmou o presidente em entrevista a rádios da Bahia.

A principal razão para a existência de produtos similares é econômica. Luciana Medeiros, especialista em varejo da PwC, explica que, diante da alta nos preços, os consumidores começam a substituir marcas e tipos de produtos por opções mais acessíveis. “A pessoa compra um suco de melhor qualidade. Se aperta o orçamento, troca por um mais simples. Se aperta mais, opta pelo suco em pó”, exemplifica.

O setor de laticínios também passou por essa transformação. Ana Paula Bortoletto Martins, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica que a indústria tem aproveitado o soro do leite, antes descartado, para criar produtos como misturas lácteas condensadas e compostos lácteos, que simulam leite em pó e leite condensado.

Embalagens de café em supermercado. Foto: Divulgação

Embora as embalagens desses produtos sejam parecidas com as dos tradicionais, a composição é bem diferente. Muitos incluem gordura vegetal, amido modificado e outros ingredientes de menor qualidade. A prática também ocorre na indústria da carne, com linguiças “tipo calabresa”, que misturam proteína vegetal e até ossos moídos.

A falta de clareza nos rótulos desses produtos é uma das principais preocupações de especialistas. Mariana Ribeiro, nutricionista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), aponta que muitos consumidores só percebem a diferença depois da compra. “O produto muitas vezes está na mesma gôndola do original. A pessoa compra achando que é a mesma coisa, mas depois nota que há algo diferente e vai conferir o rótulo”, explica.

Casos de “ingredientes fantasmas” também geraram indignação entre consumidores. Recentemente, um creme de avelã sem avelã e um biscoito “fitness” de aveia e mel sem mel foram denunciados ao Observatório da Publicidade de Alimentos (OPA), do Idec. “As pessoas ficam indignadas, especialmente quando o produto tem um apelo de saudabilidade”, afirma Ribeiro.

Produtos similares não são necessariamente prejudiciais à saúde, mas podem ter menos nutrientes e menor qualidade. A maior preocupação recai sobre os ultraprocessados, que passam por várias etapas industriais e são ricos em açúcares, gorduras e aditivos. O consumo excessivo está associado a obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Para identificar esses produtos, Ribeiro recomenda verificar a lista de ingredientes. “Se corantes, aromatizantes ou edulcorantes aparecem, é sinal de ultraprocessamento. Além disso, os ingredientes são listados em ordem decrescente de quantidade, então, se o açúcar vem primeiro, significa que é o principal componente do alimento”, explica.

No caso específico do “café fake”, a Abic alerta que a comercialização depende de autorização prévia da Anvisa, o que ainda não ocorreu. Além disso, a embalagem do produto menciona resoluções já revogadas da agência, o que levanta suspeitas sobre sua legalidade.

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