Tesouro avalia “valor justo” de Cemig, Copasa e outras estatais mineiras, afirma Ceron

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou no Stock Pickers desta sexta-feira (8) que a secretaria vinculada ao Ministério da Fazenda avalia o “valor justo” de empresas estatais do governo de Minas Gerais, como a Cemig (CMIG4), a Copasa (CSMG3) e a Codemig, e que não há “preconceito” na pasta no estudo dos caminhos para a negociação sobre a dívida mineira.

Desde o ano passado, se discute a possibilidade de o governo mineiro, comandado por Romeu Zema (Novo), usar a participação que tem nessas companhias para abater parte da dívida que tem com a União, que já ultrapassou os R$ 160 bilhões, em um processo que tem sido capitaneado pelo presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o ministro Alexandre Silveira (PSD), de Minas e Energia.

No mercado, as discussões são acompanhadas com ceticismo. Para o ItaúBBA, a potencial federalização das duas companhias listadas — Cemig e Copasa — é muito negativa, pois provavelmente resultaria em uma mudança na equipe de gestão e nos planos estratégicos dessas empresas. Do lado do governo federal, o debate envolve aspectos econômicos e estratégicos relacionados aos setores de atuação de cada companhia que possa entrar nas negociações.

Durante a edição do Stock Pickers transmitida ao vivo ontem (8), Ceron afirmou que o assunto está sendo tratado no Ministério da Fazenda, que está avaliando se a federalização pode ser um caminho viável e quais seriam as alternativas, já que, como ele mesmo reconhece, “é preciso chegar a uma solução”.

Ele falou também sobre a decisão da Petrobras (PETR3PETR4) de não pagar dividendos extraordinários, mas ponderou que isso não afeta as previsões da União. O anúncio da estatal federal, após a divulgação do balanço do quarto trimestre, levou as ações a uma queda de até 10%, fazendo com que a empresa perdesse R$ 52 bilhões de valor de mercado em apenas um dia.

“Qual é o valor justo?”

No programa, Ceron disse que a discussão sobre a dívida de Minas Gerais e uma possível federalização das companhias controladas pelo estado não é simples, mas que um dos eixos envolve justamente a avaliação do ponto de vista fiscal. “Qual é o valor justo dessas companhias? Faz sentido estratégico?”, questionou. Para ele, a análise envolve fazer um valuation dos ativos, entender os passivos das empresas e estudá-las para, então, subsidiar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), outros ministros e até o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no processo decisório.

“Estamos nesse estágio. Então, qualquer coisa que eu diga além disso, estaria sendo leviano. Estamos exatamente nesse estágio. Avaliando e dando subsídio. Tem um processo de decisão que envolve o ministro [Haddad], outros ministros, o próprio presidente da República. O que cabe, neste momento, é o Tesouro fazer uma avaliação serena das vantagens e desvantagens disso”, afirmou o secretário.

Ele também destacou que “não há preconceito nessa discussão” e que o papel do Tesouro é “olhar friamente o ativo”. “Quanto que vale, se faz sentido, se o ativo vale alguma coisa”, afirmou Ceron no Stock Pickers. “Estamos estudando, olhando os passivos, tentando compreender. Essa é uma parte que cabe ao Tesouro”.

O secretário do Tesouro participou do programa ao lado de Caio Megale, ex-secretário da Fazenda da cidade de São Paulo e hoje economista-chefe da XP Inc. (XPBR31), e Felipe Salto, ex-secretário da Fazenda e Planejamento do estado de São Paulo e atual economista-chefe e sócio da Warren Brasil. O trio foi entrevistado pelo apresentador Lucas Collazo e pelo editor de Política do InfoMoney, Marcos Mortari.

Salto, destacou, inclusive, que o valor dos ativos pode não resolver o problema do governo Zema, dada a discrepância em relação ao montante total da dívida. “Se somar tudo isso que Minas está oferecendo, vale 10% da dívida que eles têm. Porque nós estamos falando de uma dívida de R$ 170 bilhões. Quanto vale tudo isso? R$ 17 bilhões se somar as três [companhias estatais]”, pontuou sobre a participação do governo mineiro na Cemig, na Copasa e na Codemig.

‘Falsa sensação de ajuste fiscal’

O pagamento da dívida de Minas Gerais com a União está suspenso há cinco anos, por uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), mas a gestão Zema terá de voltar a arcar com esse custo a partir de abril — o que pode tornar o estado insolvente, gerando um colapso no estado, segundo Pacheco.

Ceron ponderou que a situação de Minas é “delicada”, pois a suspensão do pagamento do serviço da dívida “passa a falsa sensação de um ajuste fiscal”. “[O STF] ajudou bastante o governo de Minas, mas, se você olhar a variação do saldo de caixa e a variação da dívida, [o serviço da dívida] está indo para a dívida. E você está com um processo exponencial de crescimento [da dívida]. Isso não dá resultado bom, em geral, pois é um crescimento exponencial”.

O secretário ponderou que “faz parte do processo ajudar os entes a encontrar o seu caminho, para não haver um colapso, mas tem que ter o caminho de saída”. “É importante começar a voltar a pagar, começar a “escadinha” para ir se recuperando e, lá na frente, ter um jeito de sair disso de uma forma boa. Isso é o mais importante”.

The post Tesouro avalia “valor justo” de Cemig, Copasa e outras estatais mineiras, afirma Ceron appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.